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Ouvir é civilizador


postado em 17/02/2019 05:09

(foto: Arquivo Pessoal %u2013 23/1/19 )
(foto: Arquivo Pessoal %u2013 23/1/19 )

 

 





Narrativas de vida registram a identidade das pessoas. Era Digital, inteligência artificial, robôs, redes sociais, individualismo e solidão estão cada vez maiores e presentes no dia a dia do homem. Nesse cenário, pensar em um museu on-line, em que qualquer pessoa pode registrar sua história, é uma forma de resgatar a escuta ao outro. “A civilização evolui e se fundamenta nas práticas que foram determinantes na melhora das condições de vida dos indivíduos em seus grupos e respectivas gerações. Portanto, saber e conhecer o que se passou com as gerações antecedentes são imprescindíveis para as gerações vindouras. O problema é como se faz essa transmissão de conhecimentos e em quais valores estão fundamentados. Ressalto a importância da ideologia no processo transmissor desses valores, o que pode dificultar a compreensão das realidades e comprometer gerações futuras, quando transmitidos sem o devido esclarecimento, necessário aos processos do conhecimento”, destaca Juracy Amaral, doutor em sociologia e professor da PUC-Minas.

A verdade é que histórias, ainda que comuns, prosaicas até, são importantes, se pensarmos na memória social. “As conversas cotidianas têm papel importante nesse processo de evolução. São nelas que se situam os detalhes formadores da consciência coletiva, que determinam valores estéticos, éticos e morais, fundamentais para a vida social. A reunião entre familiares e pessoas de grupamentos de convívio faz produzir discursos e narrativas que emolduram comportamentos futuros”, enfatiza o sociólogo.

Por outro lado, Juracy Amaral afirma que a evolução é um processo contínuo e reflete em tudo, seja referente aos aspetos biológicos seja aos aspectos comportamentais em geral. As tecnologias, consequências dessa evolução, alteram as formas de interação humana entre os próprios humanos e em relação à natureza, que exigem adaptações e, portanto, outras práticas sociais e comportamentais. “Nesse sentido, o emprego de tecnologias nos processos comunicacionais alterou as formas e o sentimento até então existentes nas relações e podem ter contribuído para aproximar pessoas separadas por longas distâncias e espaços de tempo. Porém, refletem indivíduos autocentrados, propícios ao egoísmo e, sobretudo, capazes de se incomodar com o sofrimento dos que se encontram distantes, mas ignorar o sofrimento dos que lhes são próximos.”

Juracy Amaral não acredita que a tecnologia seja a causa do isolamento, mas concorda que ela abre espaço para manifestações de isolamento, devido aos inúmeros problemas relacionados às ameaças do bem-estar individual, como segurança, conflitos e conforto. “As tecnologias da informação possibilitaram manifestações de indivíduos que não seriam capazes de se expressar numa relação interpessoal explícita, face a face, sem intermédio das redes comunicacionais. Covardes se encorajam e fazem ameaças que jamais seriam capazes de fazer na presença dos que sofrem ameaças. É importante ressaltar que as tecnologias são facilitadoras de inúmeros comportamentos, seja para o bem ou para o mal, e que a condição de cada indivíduo, associada aos recursos tecnológicos, produz realidades comportamentais. O saber ouvir é resultado do processo civilizador, que não é necessariamente consequência da tecnologia, mas da evolução do saber pensar e se adaptar para permanecer existindo.”

DOM DO DIÁLOGO 

O escritor moçambicano Mia Couto já declarou que o hábito de escutar histórias ao longo da vida teve papel central no desenvolvimento da sua escrita. Ele diz que “essa África onde vivo é uma sociedade que escuta. As pessoas escutam os outros e, na conversa, há uma distribuição de tempos: o tempo da fala e o tempo da escuta, como se, por turnos, as pessoas soubessem o que têm de fazer”. Conversar, trocar ideias, ouvir, escutar. Talvez seja o que o mundo moderno esteja perdendo. Daí a justificativa para tantos ruídos e estranhamentos. “Pelo exemplo do autor moçambicano, é possível deduzir inúmeras questões. Mas penso que, recentemente, essas questões estão sendo discutidas e colocadas como importantes para o bem viver. Apesar da aparência de falta de diálogo, esse monólogo de cada um consigo mesmo, quando possível, pode ser uma pista para o encontro do outro e repensar os valores e ações que permeiam esse provável mal-estar e manifestar nossa peculiaridade de sermos gregários e possuidores do dom, essa capacidade de doar, imprescindível à vida em sociedade.”


"A reunião entre familiares e pessoas de grupamentos de convívio faz produzir discursos e narrativas que emolduram comportamentos futuros”

. Juracy Amaral,
doutor em sociologia e professor
da PUC-Minas




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