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E se morássemos todos no mesmo condomínio?

Iniciativa do governo estadual da Paraíba, o Cidade Madura %u2013 conjunto de moradias populares para idosos %u2013 já contempla seis municípios e cumpre importante papel social


postado em 10/02/2019 05:03








Em pouco mais de quatro anos, centenas de idosos já residem em casas que integram o Cidade Madura, projeto construído na capital, João Pessoa, e nos municípios paraibanos de Campina Grande, Cajazeiras, Sousa, Guarabira e Patos. O residencial representa uma ajuda e tanto para as famílias carentes preocupadas com os seus parentes  mais velhos.

Isso porque os condomínios, semelhantes aos do programa Minha casa, minha vida, oferecem residenciais exclusivos a parcela da população com mais de 60 anos, que não tem condição de arcar com custos comuns a essa fase da vida e, muitas vezes, não pode contar com o auxílio ou morar na casa de parentes. Projetada não só para abrigar residências, mas também para estimular a autonomia e a independência do idoso – sempre convidado a se socializar e a compartilhar experiências –, a iniciativa vem colhendo frutos em relação à melhora da qualidade de vida da comunidade. “Ver o sorriso no rosto do idoso morador do Cidade Madura é sinal claro de que o projeto deu certo, funciona, faz diferença”, registra Francisco Fabrício Firmino de Oliveira, psicólogo especialista em gestão com pessoas e psicologia organizacional e em gerontologia, mestre em ciências da saúde e vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos do Idoso (CMDI) de João Pessoa, gestão 2019/2020.

O profissional, que presta serviço voluntário no Cidade Madura da capital paraibana, é constantemente convidado para dar palestras sobre o projeto e sobre a influência que a iniciativa promove na qualidade de vida da população assistida. “É notório o quanto o projeto está beneficiando as comunidades de idosos. Saber que o idoso reside em seu espaço e tem acesso a serviços de convivência e assistência tira o peso da família de cuidar, de se preocupar. É uma forma de segurança e de acolhimento, que deixa filhos e netos felizes por saberem que ali dentro o idoso está protegido”, contextualiza. E acrescenta: “As conquistas são inúmeras. Havia pessoas em depressão, que não conversavam muito, se sentiam isoladas, e, hoje, frequentam vizinhos, passeiam, participam das oficinas que ministro e de outras atividades levadas para o espaço”.

MORADIAS INDIVIDUAIS

Vale ressaltar duas questões. A primeira é que o governo não transfere os imóveis para o idoso ou casal de idosos residente. Se há necessidade de o morador sair de lá por motivo de saúde ou de óbito, a casa é reocupada, de acordo com critérios estabelecidos e a fila de espera. A outra é que o Cidade Madura não é um asilo. Há, sim, a oferta de serviços assistenciais no local, mas o residente é responsável por cuidar de si mesmo e estimulado a manter-se como indivíduo ativo, autônomo. “O morador tem total liberdade de entrar e sair, de receber visitas de amigos, filhos, netos. Frequentar a praça, os espaços de convivência, o posto de saúde... aliás, essa liberdade e segurança de ir e vir interfere demais na vida de cada morador. A possibilidade de conversar com os outros, caminhar, plantar (temos uma horta comunitária) e empreender demais atividades interfere muito na longevidade dele, com expectativa real de que viva mais e fique mais aberto a cuidar de si.”

JOÃO PESSOA

O Estado de Minas esteve no Cidade Madura da capital paraibana, o primeiro a ser fundado, em 2014. Os padrões da casa se repetem: são 40 unidades por condomínio, com 50m² cada residência. Os imóveis são equipados com interfone e chuveiro, e cada idoso decora como lhe convém. Os residentes pagam R$ 50 por mês, valor referente à taxa de manutenção das áreas externas.

Cada comunidade conta com um núcleo de saúde que dá suporte de prevenção e realiza o acompanhamento de pacientes, com visitas periódicas nas casas, em que há medição de pressão e da taxa de glicemia. Médicos do PSF visitam a comunidade uma vez a cada 15 dias, com o propósito de renovação de receitas e requisição de exames. Também um fisioterapeuta visita a comunidade e o serviço social atende dois cadeirantes residentes. Uma vez por semana, o psicólogo voluntário propõe atividades coletivas que objetivam a estimulação cognitiva e motora dos residentes, além da socialização. “Fazemos com que o espaço seja amigável e relacional, facilitando o convívio e a criação de laços entre os grupos”, explica Oliveira.

Diariamente, um educador físico ministra atividades, bem cedinho, às 6h. Os moradores também contam com segurança 24h, feita por ronda da Polícia Militar (PM). Lá, nunca houve ocorrência de furtos ou invasões.

A assistente social Magda Danielle Lucindo, coordenadora estadual do programa pela Secretaria de Estado e Desenvolvimento Humano, lembra que os moradores são autônomos. “Não tutelamos os idosos. O condomínio é um espaço deles. A vida segue normal, como se fosse um condomínio privado.”

INSCRIÇÃO

A coordenadora explica os critérios de seleção para novos residentes. “Na seleção, são feitas inscrições prévias e visitas domiciliares. O idoso não pode precisar de cuidador. Geralmente, realizamos em média 170 visitas em três dias. Para muitos deles, é uma libertação sair de casa.” Ao contrário do que se imagina, a rotatividade de moradores é grande. “Muitas vezes, filhos dos idosos que moram em outros estados acabam assumindo os cuidados.”

Entre outros motivos de queixas ou baixas, ela cita a perda da autonomia ou dificuldade inicial de adaptação por “resistência em ficar longe dos familiares, um dissabor comum para quem vivia com a casa sempre cheia”. Na turma, registra, há pessoas mais ativas e as mais ociosas, assim como em qualquer ambiente social. No entanto, o idoso é convidado o tempo todo a manter a autonomia. Um exemplo de atenção à realidade que já está aí.
fotos: carlos marcelo/em/d.a press
Francisca, Ana Verônica, Valdinete e Edna do Carmo Silva no primeiro condomínio Cidade Madura, inaugurado
em 2004, em João Pessoa: autonomia e tranquilidade

Uma das mais recentes unidades do Cidade Madura fica em Guarabira, no brejo paraibano: melhora da qualidade de vida da comunidade


personagens da notícia

.Selma Polari, 79 anos, moradora

Uma das mais antigas moradoras do Cidade Madura, Selma tem 79 anos. “Tenho minha idade, mas não sou irritada e nem nervosa. Sou calma”, diz. Ela conta que morava de aluguel, pois, quando ficou viúva vendeu a casa própria. Hoje, deseja fazer modificações no imóvel do condomínio, o que não é autorizado pelo programa. Reclama da falta de garagem e do chuveiro elétrico que precisou instalar. Mas reconhece: “A casa é boa, é melhor do que muita casa aí”. Já o convívio, entende como ‘meio complicado’. E justifica: “Há muita gente nervosa. Por isso, fico no meu lugar, não fico indo em casa de vizinho”.
A moradora também fala sobre a saúde de alguns vizinhos, “há muitos hipertensos e diabéticos”. Conta que ela mesmo cuida das demandas domésticas, “boto minha roupa na máquina, passo espanador, limpo tudinho. Não pago pra ninguém fazer”, e celebra a segurança realizada por sargentos reformados, dia e noite. “Pessoas ótimas.” Livre para ir e vir no condomínio, assim como os demais moradores, Selma circula de Uber e/ou de alternativo, que considera “melhor que ônibus: vou e volto”. Vaidosa, pede que a meia de compressão não fique visível na fotografia e segue em frente com a ajuda da fé – um adesivo traz a frase: “Deus cuida de mim” – e da medicina, como se percebe pelo conjunto de remédios postos em cima da mesa da sala.

. Francisca de Souza Caju, 76 anos, moradora

“Morar no Cidade Madura foi uma das melhores coisas que ocorreram na minha vida”, comemora Francisca, de 76. Natural de Bonito de Santa Fé, município de Cajazeiras, a senhora afirma: “Tornei-me mais independente”. Entre os programas preferidos, a seresta. “Juntamos cinco ou seis, pegamos Uber e vamos”, conta. Também diz que adora cantar músicas de Ângela Maria, Nélson Gonçalves e Núbia Lafayette. E bate palmas quando o coral vai cantar lá.

. Geisa Trigueiro de Lima, 77 anos, moradora

Adepta da tranquilidade, Geisa, de 77, diz: “Toda vida morei só”. Elogia o Cidade Madura, com base na justificativa de que “gosto porque não tem criança perturbando, jogando bola”, e afirma que “as pessoas são amigas”. Para ela, o local é um paraíso. “Quando dá 20h30, 21h, tá todo mundo dormindo”, contextualiza. Entre as despesas com a habitação, paga “só condomínio e água”. Elogia a segurança e a paz do condomínio, que conta com policiais na portaria. Também elogia o serviço de saúde, com profissionais aptos a aplicar injeção e verificar a pressão.
A vida social não é monótona. Ela mesma usa o salão de festas, que já sediou até um casamento mórmon e uma apresentação de coral gospel. Point divertido é a praça, onde os moradores se reúnem para conversar: “A gente ri tanto, que esquece o tempo. E tem um namoro novo entre dois moradores que vocês não estão sabendo”, confidencia, demonstrando empolgação com a novidade.

 


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