Sabidamente, toda criança almeja ser “gente grande” e todo adolescente quer ter a independência e a liberdade dos grandinhos, mas às vezes o crescimento assusta. A sociedade decreta padrões e modelos ideais sobre a aparência, a postura correta, o modo de ser. Nesse contexto, perante tantas pressões, quem está perto do amadurecimento pode sentir que não se encaixa em tantos rótulos, chegando até a demonstrar medo pelo que ocorrerá nas próximas etapas.
Sempre discreto, calado, quieto em seu canto, acompanhado de livros, Samuel de Almeida Leão Rabello Azevedo, de 17 anos, diz que tinha perfil de ‘nerd’ enquanto cursava o ensino fundamental, e isso acabava sendo uma fonte de aflição. “Nessa época, quem fazia sucesso eram os mais descolados, mesmo que tivessem uma moralidade duvidosa. Sentia-me retraído por não ser como eles. Como os alunos não davam atenção para pessoas como eu, ficava sozinho, excluído”, lembra-se. Com o passar dos anos, Samuel conta que melhorou as formas de socializar, ainda que isso demorasse um pouco, principalmente devido à sua aparência, que ele chama de ‘cheia’. Depois de ter sido, muitas vezes, alvo de bullying, ele fala que levou muito tempo para se adaptar, sair do casulo e começar a conversar com os outros, diante de toda a carga de sofrimento que suportara.
Essa mudança partiu do momento em que Samuel resolveu pedir ajuda e se aconselhar com os amigos com quem já se relacionava.
diálogo ABERTO
É preciso entender se esse receio dos jovens em crescer está sendo prejudicial em alguns casos, a ponto de deixá-los congelados em um mundo que, em breve, não deverá ser mais o deles. Se a situação se agravar de tal maneira, é papel dos tutores dar-lhes as mãos, ajudá-los a entrar no desconhecido, demonstrando as vantagens de crescer e reafirmando o apoio em qualquer ocasião, abrindo-se sempre à conversa.
O importante é que as crianças se mantenham saudáveis e sonhadoras, ao mesmo tempo cientes de que, para ter as vontades concretizadas, precisam deixar a infância no lugar a que pertence: na memória e como alicerce para os adultos em que se tornarão.
Em todas as esferas, a carência de diálogo acaba gerando dois extremos temerários. O jovem que tem medo da vida, dos pais e professores, que se mostra retraído e mal se posiciona. Por outro ponto de vista, aquele que, para atrair atenção e se sentir ouvido, desafia, grita, ofende e agride os demais. Um relacionamento sadio é quando os dois lados podem falar: o jovem recebe o direito de questionar e entender as regras, e o adulto ouve e pondera antes de restringir – é quando os limites são estabelecidos com equilíbrio e de forma negociada.
ESTÍMULO
No caminho de desabrochar, Samuel Leão recorda-se do ombro amigo da professora de literatura do terceiro ano do ensino médio, em 2018. “Ela começou a ver o potencial que tinha dentro de mim, só que viu também que eu era meio tímido. Me empurrou do precipício. Falou: ‘Você vai pra frente’”. E o colocou no comando de todos os projetos literários na escola.
Sobre as determinações sociais que regem as formas dos jovens de aparentar e se comportar, Samuel as considera uma total falta de entendimento acerca da alteridade. “As pessoas não enxergam que cada indivíduo é único, pensa de modo único, que não tem como todo mundo ser igual. Mesmo porque, se fôssemos todos iguais o mundo não ia pra frente. Por isso, é fundamental todo movimento que existe para a conscientização sobre o respeito às diferenças.”
Samuel vai cursar letras este ano. A influência vem do tio-avô, o jornalista e escritor José Maria Rabêlo, que ele tem como espelho e inspiração. Samuel revela que ama escrever, parte central de sua vida.
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