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Reinventar é parte da existência

Quanto é importante a pessoa mudar? Especialistas discutem caminhos, resultados, obstáculos e mostram que se transformar ao longo da vida é a melhor decisão para não ficar defasado


postado em 06/01/2019 05:06

Para a psiquiatra Gilda Paoliello, é fundamental mudar nossa relação com nós mesmos(foto: Marcílio Nicolau/Divulgação )
Para a psiquiatra Gilda Paoliello, é fundamental mudar nossa relação com nós mesmos (foto: Marcílio Nicolau/Divulgação )

 






“A vida é sempre mudança e, no balanço entre nós e o mundo, se não acompanharmos esse compasso, ficamos defasados. Então, é sempre fundamental uma mudança na nossa relação com o mundo, com os outros e com nós mesmos.” O pensamento é da psiquiatra e psicanalista Gilda Paoliello. Ela explica que, às vezes, isso ocorre de forma natural, em outras, as mudanças se impõem, seja sobre a forma de desejo seja por necessidade. “Quando não conseguimos acompanhar ou provocar essas mudanças, elas acabam se impondo e até nos atropelando, sob a forma do inesperado, que, muitas vezes, é uma crônica anunciada, evidente para todos, menos para nós mesmos. Seja porque nos negamos a enxergá-la, seja porque nos acomodamos a uma suposta garantia.” Exemplos? Relacionamentos falidos que são sustentados pelo medo do novo, seja no âmbito amoroso, seja no social ou profissional. “Amar e trabalhar são as duas coordenadas que definem nossa vida, temos que saber cuidar bem delas e esse cuidado inclui também coragem para rompimentos e reinvenções.”

Há sempre os dois lados da moeda, quem gosta e quem detesta mudar. Gilda Paoliello lembra que todos conhecemos pessoas inquietas, que estão sempre se movimentando, se inovando, se recriando. E outras inflexíveis, que sofrem com as mínimas mudanças, até com a troca do lugar habitual num restaurante. “Lembram-se de Melvin, personagem de Jack Nicholson no filme Melhor impossível? Essas pessoas parecem querer congelar o mundo para não ser surpreendidas por nada, mesmo quando percebem que algo está errado, preferindo continuar na suposta garantia da previsibilidade. Entretanto, “nada é permanente, exceto a mudança”, como nos ensina, há milênios, Heráclito de Éfeso.”

Gilda Paoliello diz que viver é muito perigoso, é preciso correr riscos, pois as surpresas não mandam aviso prévio. “É nos desgarrando das garantias que aprendemos a reconhecer a hora certa de nos lançar, deixando de lado os velhos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. Alguns trazem essas características no DNA, outros, a duras penas, aprendem a romper com velhos padrões, enquanto outros resistem às mudanças, pois a tendência do ser humano é a repetição. Ninguém encontra um caminho pronto e nossa época é de caminhos sinuosos, já que as tradições lineares foram quebradas. É sempre melhor nos mexermos!”

Conforme a psiquiatra, a decisão de mudar implica cisão, corte, o que pode ser doloroso. “Significa deixar pra trás partes de nossa vida que estavam emperradas, que mantinham abertas feridas ou que estavam presas em repetições desgastantes e improdutivas, mas às quais nos acomodávamos por nos serem familiares e, aparentemente, cômodas. Tentar de novo sempre é importante, mas se tentarmos da mesma forma, permanecendo na repetição malsucedida, estaremos nos condenando ao fracasso. Então, a saída é tentar o novo. Invenção é a palavra-chave para a mudança.”

ARTE DAS ESCOLHAS

Gilda Paoliello enfatiza que decidir cortar fora o que não está dando certo implica também eliminar outras possibilidades. “Mudar é escolher e toda escolha implica perdas. Quantas vezes ouvimos “ruim como estava, pior como ficou!”. Assim são nossas escolhas que definem a vida. Contam que um poeta nada talentoso pediu a Bocage que lhe corrigisse um poema. Este o devolveu intacto, dizendo: “Seria pior a emenda que o soneto...” Então, vamos caprichar nos versos com que escrevemos nossas vidas, para não precisar de emendas. Drummond dizia que “escrever é a arte de cortar palavras”, pois bem, viver é a arte de fazer escolhas.”

Sem meias palavras, a psicanalista enfatiza que lutar contra a mudança é permanecer no sofrimento: “Errar é humano, mas permanecer no erro é burrice! Reinvente-se! O mundo é muito mais do inventor que do doutor.”

Por outro lado, a mudança tem de partir de cada um. Gilda Paoliello lembra que é uma tendência demasiadamente humana querer mudar o outro em vez de mudar a si mesmo. “Os defeitos alheios nos incomodam mais que os nossos próprios, mas corrigi-los não depende de nós, corrigir os nossos sim! Achar sempre que a mudança deve estar no outro é acreditar que temos uma verdade universal. Respeitarmos os diferentes pontos de vista é essencial para sair de um apego egoísta. Muitas vezes, nosso maior inimigo, que nos mantém na ignorância e numa posição equivocada, somos nós mesmos. Outra tendência é esperar que o tempo resolva nossa própria vida, o que seria nos desresponsabilizar do nosso próprio destino. A transformação do mundo começa a partir de cada um de nós. E toda mudança acaba por provocar um “efeito dominó”, desacomodando os que estão por perto.”

Com a chegada de 2019, Gilda Paoliello destaca que “o ano novo nos traz a oportunidade de pegar carona na mudança de tempo, reforçando nossa fantasia de que mudamos com ele. A zerada no calendário nos possibilita o “pensar daqui pra frente”, zerando também as discórdias, as diferenças e estabelecendo esperanças: teremos a chance de mais um ano para concretizar as mudanças. Por outro lado, o fim de ano, por ser uma virada, apontando o que acaba e o que nasce, é tempo de balanço: pesar o que planejamos e o que foi feito, o que desejamos e o que conquistamos. Na maior parte das vezes, ficamos presos ao que faltou e, com isso, deixamos de festejar ou de usufruir o que conquistamos e a balança vai pender para o negativo. Devemos, então, festejar as conquistas. É importante essa esperança e oportunidade de transformação. Estar em dia com o próprio desejo, querer realizá-lo, usar a esperança para construir a oportunidade de transformação é uma medida de nossa saúde mental.”








quatro perguntas para...

Channa Vasco
 especialista em carreira e sucesso  profissional



Qual o poder da mudança sobre as pessoas?
É uma oportunidade de reflexão sobre onde está o caminho a seguir. Muitas vezes, ela simplesmente ocorre e o primeiro passo é aceitar, depois refletir e, em seguida, planejar como seguir. Os sonhos devem ser altos, aprendi com meu pai. O grande desafio na vida é construir os degraus para alcançá-los de maneira segura e sólida. Deve ser por isso que escolhi a carreira que tenho, largando uma posição executiva, onde liderava mais de 1.500 pessoas e administrava um orçamento milionário, para fazer com que as pessoas alcancem seus sonhos.

Toda mudança, obrigatoriamente, é para melhor?
Nem toda mudança é para melhor, mas toda mudança o aproxima de uma melhoria. Quando uma criança está aprendendo a andar, ela cai. Isso não é melhor do que ficar engatinhando, mas, se não cair, não vai aprender a se equilibrar e não vai conseguir andar, nem correr. Por isso, é importante interpretar o erro como aprendizado, assim, crescemos a cada tentativa. Então, no fim das contas, a longo prazo, as mudanças de hoje, quando superadas, o levarão a uma melhoria na vida.

É possível saber a hora certa de mudar?
Sim, a hora certa de mudar é agora! Se você já criou em sua mente uma nova realidade, é o momento de você analisar os recursos necessários (emocionais, físicos, de ação, apoio etc.) e criar um plano para transformar o sonho em realidade. Não quer dizer que você vai terminar de ler aqui e já ir pedindo demissão para seguir seus sonhos e ter sucesso e felicidade no trabalho, se esse for o propósito. Mas a grande pergunta é: o que você pode fazer agora mesmo para alcançar a mudança desejada?. Mesmo que pareça ser algo pequeno e simples, vai ser mais um passo para aproximá-lo do objetivo. Todos os dias, atendo pessoas que desejam mudar e conquistar uma vida com mais sucesso e felicidade. Todas elas têm em comum uma certeza: não de que vai dar certo, afinal, não dá para controlar isso, mas de que desejam uma vida diferente e melhor.

Mudar é sempre correr risco?
Claro. Ao mudar você está trocando o certo pelo duvidoso, o que você já conhece por algo novo. E é exatamente isso que paralisa muitas pessoas numa situação desconfortável, mas conhecida. O que se pode fazer é reduzir as dúvidas e as novidades. Se quer mudar de emprego, você pode pesquisar outras empresas; se quer mudar de profissão, busque conhecer melhor outras áreas de atuação; ou, se preferir empreender, você pode conversar com empresários, para diminuir as dúvidas e correr menos riscos. É o que falo para meus clientes, às vezes dá medo de fazer algo novo, então, a gente bota a fralda e vai com medo mesmo. Se der algum problema, a fralda protege. É preciso conhecer os riscos e se proteger deles. Esta é a essência do meu trabalho: conquistar sucesso e felicidade apesar do medo do incerto, de se expor, de arriscar etc. O segredo para lidar com os riscos não é se jogar de maneira inconsequente, mas de calcular os prós e os contras antes de fazer algo. Afinal, o seu sonho pode ser sempre maior do que o seu medo. E isso é uma escolha.


depoimento

 

 Prof. Me. Renato Collyer
sociólogo, jurista e professor
nas áreas de ética e sociologia

 

Virtudes e valores incorruptíveis

“A única coisa que não muda é que tudo muda.
A ideia do devir na filosofia de Heráclito”


“Mais um ano já surge no calendário e, novamente, muitas pessoas começam a fazer novos planos e, com eles, novas promessas. Talvez, de começar uma faculdade, levar a sério a academia, cuidar da alimentação ou, simplesmente, de ser uma pessoa mais tolerável e amigável com os outros. Ainda que a linearidade da vida cotidiana nos coloque em uma espécie de círculo de habitualidade, a verdade é que nada na vida permanece para sempre. Tudo muda e isso é a única coisa que não muda. Os filósofos que antecederam o famoso pensador Sócrates, por isso chamados de pré-socráticos, tinham uma ideia bastante refinada da inconstância da natureza. Em especial, Heráclito (540 a.C.), que dizia que tudo que existe está em transformação. Para ele ‘nada é permanente, exceto a mudança’. Mas não pense que isso é algo ruim. Embora Heráclito não fosse muito simpático (o que lhe custou o apelido de ‘Obscuro’), é na mudança que encontramos o equilíbrio. Para ele, o fluxo permanente entre os opostos produz a harmonia do universo. Basta pensarmos que, mesmo algo ruim, como ficar longe de quem amamos, pode representar uma coisa boa, já que passamos a valorizar mais sua presença, pois a saudade (valorização da presença) só pode existir diante da distância (fato ruim). Porém, não se sinta culpado por querer que nada mude. Muitas pessoas não gostam de mudanças. Entenda, porém, que as mudanças fazem parte da vida, você as querendo ou não. Semelhante a uma esfera, que não sabemos onde começa ou termina, os opostos da vida ocupam o mesmo lugar, em perfeita harmonia. E, nessa harmonia, os opostos se coincidem do mesmo modo que o começo e o fim, subir e descer um caminho, a partida e a volta, o gelo e a água (já que o gelo é a mesma água quando exposta a baixa temperatura). Nas palavras de Heráclito, ‘o caminho que desce e o caminho que sobe são os mesmos’. O que importa é que a essência seja a mesma. Embora mudemos de acordo com o passar do tempo, nossa essência, virtudes e valores devem permanecer incorruptíveis.”


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