A transmissão de conteúdos e valores pelos pai#s, de escolhas e comportamentos, mesmo que inconscientemente, é uma manifestação do vínculo com as gerações passadas e de grande importância para o reconhecimento do indivíduo. O compartilhamento de uma paixão entre familiares é extremamente rica e benéfica, podendo trazer grandes momentos de prazer e de construção de boas memórias e colaboração.
De acordo com Andrea Brunelli, psicóloga da Clínica do Bem, todos os indivíduos procuram pertencer a algum lugar, e o primeiro e maior vínculo é o familiar, em que receberam várias lições e heranças, desde o nome, patrimônio e vasto legado. “Mas não existe pertencimento sem que se rompam caminhos conhecidos e que se sintam incentivados em suas escolhas, seja na repetição de uma profissão por gerações, na efetivação de um hobbie, seja na conquista de um novo projeto”, comenta.
Denise Cruz, aposentada e artesã, sabe o valor de estabelecer laços com a família. Desde pequena, viu sua mãe, Thereza Maria Rodrigues, fazer artesanato e bordados e cresceu vendo a arte passar em suas mãos. O trabalho manual se tornou um dos prazeres de sua vida e, hoje, é grata à sua mãe, por ter lhe ensinado o que sabia. “Minha mãe sempre foi bordadeira de mão cheia e herdei isso. Acabei desenvolvendo uma facilidade com desenhos também. Tá no sangue, nasceu com a gente”, afirma.
A paixão se perpetuou ainda mais com o nascimento das filhas, que desenvolveram habilidades manuais inspiradas na mãe e na avó.
Denise conta que esse compartilhamento de paixões reforçou os laços parentais e que é uma atividade que aproxima e melhora o convívio entre todos. “Uma vai se espelhando na outra. Somos uma família que sonha e que gosta de ver suas criações.
Por sua vez, Natália revela verdadeiros benefícios com a prática aprendida com a mãe e a avó e a consciência da produção familiar nos produtos que consome. “Mais do que uma prática familiar, o artesanato é uma terapia. Num mundo tão acelerado, tão maçante, em que as pessoas querem tudo para ontem, essa arte ajuda a me desacelerar”, comenta. Essa união familiar, essa troca de saberes e o resgaste das gerações “é importante exercício de valorização do próximo e da tradição familiar”, destaca.
BEM ESTAR
O estudante de medicina Rodolfo Cruz Losqui teve como grande influência a sua mãe, que sempre gostou muito de praticar esportes. Desde pequeno, ele a acompanhava nas aulas de musculação, e, a partir dos 8 anos, começou a correr com ela. “Nossa relação sempre foi muito próxima. Então, é difícil dizer que a atividade nos aproximou, mas, com certeza, é um ritual nosso.” Rodolfo brinca que algumas famílias gostam de sentar pra almoçar juntas.
Além de ficar próximo de sua mãe, esse hábito saudável também traz grandes benefícios para sua saúde. Rodolfo é diabético (diabetes mellitus do tipo 1), o que quer dizer que, desde os 2 anos, ele faz uso de insulina para ajudar a controlar a doença. Dessa forma, o esporte é fundamental em sua vida, uma vez que o ajuda a controlar e a reverter os efeitos negativos da doença. “Vejo que muitos dos que a têm não consideram fácil manter esses hábitos, mas, graças ao estímulo familiar, não consigo pensar minha vida sem o esporte.”
Como a musculação se tornou um ritual para a família, esse momento em que estão fazendo algo que lhes dá prazer cria abertura para abordar assuntos, trocar experiências e, principalmente, passar mais tempo com a família. “Hoje, como tenho uma rotina muito corrida, e meus pais também, acaba que esses momentos são os poucos que posso compartilhar com eles”, ressalta o estudante.
.