Não é novidade que os filhos têm no pai e na mãe um espelho, uma referência para viver. O problema é que isso pode ocorrer tanto para o bem quanto para o mal. Relações conflituosas entre os genitores acabam marcando para sempre os pequenos, com efeitos até de longo prazo, afetando propriamente o seu bem-estar. Muito além de discussões cotidianas, quando o comportamento do casal deságua em violência, com gritaria, demonstrações mútuas de raiva, desrespeito, ignorância, agressões físicas ou verbais, está aí um grande perigo. Mesmo quando as crianças e jovens não são o alvo direto do abuso, são frequentemente colocados em situações de risco, uma vez no meio no fogo cruzado. À medida que estão envolvidos com hostilidades interparentais, severas ou crônicas, apresentam não apenas níveis altos de estresse, mas enfrentam consequências como interrupções no desenvolvimento cerebral, distúrbios do sono, ansiedade, depressão e indisciplina, entre outros.
A psicóloga Simone Francisca de Oliveira frisa que a convivência com cenas de violência gera impacto na formação de bebês, crianças e adolescentes. Seja qual for a etapa da vida, os filhos se miram nos pais, o que é normal e esperado, explica. “Independentemente da teoria psicológica a ser seguida, é sabido que o meio social influencia, tanto positiva quanto negativamente, na constituição da personalidade da criança e do adolescente, e também nos seus preconceitos, nas suas reações frente à, por exemplo, frustração, na sua relação de gênero.
A profissional ensina que o modelo dos pais pode ser copiado ou negado. Quando a família é muito agressiva, os filhos podem escolher ir contra e desejar estabelecer relações diferentes, se esforçando para tanto. No caso inverso, continua, podem aprender que aquele é o formato certo, e, nessa medida, a violência invariavelmente é perpetuada. “Copiar as posturas violentas é o que não queremos que ocorra. Por isso, trabalhamos o aspecto preventivo. Levantamos a discussão entre crianças e jovens que, apesar de ter contato com famílias violentas, ou com situações de violência em seu meio social, podem fazer diferente, têm direito a uma vida diferente”, elucida Simone.
Para que a violência não perdure, o ideal é que não ocorra. É importante que pai e mãe não tenham nenhum tipo de discussão perto do filho, seja qual for a sua idade.
Seja uma união homoafetiva ou heterossexual, tanto homens quanto mulheres devem se pautar por laços em que haja espaço aberto para a conversa, continua Simone. No caso de maus-tratos contra as mulheres, qualquer circunstância em que ela perceba que, diante de uma divergência, o parceiro utiliza uma noção de poder, tenta demonstrar quem é que manda, isso se aproxima de uma situação de machismo e, assim, deve ficar atenta para que esse quadro não se prolongue. “Iniciando um processo de violência, é difícil que seja único, ou seja, que ocorra apenas uma vez. É mais certo que vá se repetir. A mulher deve observar esses pequenos sinais e, se necessário, sair da relação. Caso não consiga, com a recusa do companheiro, deve procurar ajuda, seja familiar, profissional, psicológica, seja da Justiça, indo a uma delegacia, fazendo uma denúncia.
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