Jornal Estado de Minas

Norte de Minas: à espera da chuva, pasto é semeado


A aproximação do período chuvoso traz nova movimentação entre os pecuaristas do Norte de Minas Gerais. É chegada a hora de jogar a semente no solo e investir na recuperação das pastagens, que foram dizimadas por sucessivas secas. Os pastos da região começaram a melhorar um pouco desde o fim do ano passado, mas ainda estão bastante danificados. “Metade das pastagens ainda está destruída. Se no período chuvoso que se aproxima a gente conseguir a recuperação de 30% dos pastos da região já será um feito muito grande”, afirma o produtor Vila Murta, que é experiente no ramo, atuando há anos como representante de revenda de semente de capim.


 
Murta, que é também diretor da Sociedade Rural de Montes Claros, orienta agricultores na formação e recuperação de suas pastagens. O assunto é tema de estudos do professor e pesquisador Virgílio Mesquita Gomes, do curso de Agronomia do campus da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) em Janaúba. Ele lembra que levantamento de dados feito em 2015, por intermédio do Instituto Antônio Ernesto de Salvo – INAES, da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas (Faemg), apontou 75,6% dos pastos de todo estado com aglgum tipo de degradação, sem condições de suportar a média recomendada de um animal por hectare.
 
A pesquisa revelou quadro severo no Norte do estado, onde 87,6% das pastagens estavam danificadas. As estimativas foram obtidas com base em técnica de sensoriamento remoto, e análise de imagens de satélite. Virgílio Gomes destaca que a recuperação das pastagens degradadas pela falta de chuvas é perfeitamente possível. Mas, o pecuarista precisa ficar atento a alguns aspectos, entre eles a relação entre a pastagem e a atividade do produtor.
 
“Só se recupera uma pastagem, quando não estamos satisfeitos com os índices de produtividade obtidos com a criação animal, seja produção de leite ou carne, proporcionados pelo pastejo dos animais em determinado local”, alerta. A manutenção da condição produtiva dos pastos também precisa se “enraizar” na cultura do pecuarista. “Ele precisa entender que para ter gado gordo ou explorar a atividade leiteira em pasto é necessário monitorar constantemente sua produtividade, talvez assim enxergássemos a necessidade da manutenção antes da recuperação”, afirma o pesquisador.


 
Virgílio Gomes dá a receita para reduzir custos. “A recuperação da pastagem consiste em uma técnica para restaurar a produtividade do pasto, aproveitando a estrutura já existente, como por exemplo a manutenção da espécie forrageira existente na área, a aplicação de corretivos e fertilizantes e o ajuste no manejo do pastejo observando o critério da altura do pasto para a entrada e saídas dos animais”. O investimento a ser realizado na recuperação, normalmente, gira em torno de 60% do que se gastaria com a reforma, além do menor tempo para recuperação. O especialista salienta que seguindo essa recomendação, o pecuarista consegue a recuperação do pasto em 60 dias – considerando-se o período chuvoso.
 
Ainda de acordo com Gomes, a primeira iniciativa que o produtor deve tomar é um diagnóstico minucioso das pastagens de sua propriedade. Nesse sentido, ele faz um alerta: “é normal o pecuarista querer iniciar o trabalho de recuperação pelas piores pastagens e isso é um grande erro. A recomendação técnica mais adequada é iniciar pelas menos degradadas, pois, nestas teremos um custo menor e obteremos resultado mais rápido, pois a recuperação é sempre mais econômica e de menor risco que a reforma da pastagem”.


Os cuidados 

 
O produtor Vila Murta chama atenção para a importância da qualidade da semente de capim. “É fundamental a escolha de uma semente de qualidade, que tenha não somente um percentual elevado de germinação, mas também é preciso usar semente com alto vigor vegetativo, com potencial de crescimento”, afirma Murta.


 
As sementes são portadoras das características genéticas do cultivar escolhido, além de representarem uma das principais causas do insucesso na obtenção de um pasto produtivo e persistente. O pesquisador Virgílio Gomes reforça que é equivocada a eventual opção do pecuarista pelo preço, em lugar da qualidade do material.  “Na hora da compra, o pecuarista não deve olhar apenas o fator menor preço, mas sim a qualidade da semente, levando em consideração o grau de pureza e germinação e taxa de semeadura (kg/ha)”.
 
Outra dica em relação à semeadura é que ela deve possibilitar a distribuição uniforme das sementes por toda a área a ser estabelecida para o trabalho de recuperação.  Gomes ressalta que nos chamados plantios a lanço, feitos, por exemplo, com “esparramadeiras” de calcário, ‘as sementes são depositadas sobre a superfície do solo e precisam ser logo enterradas. “Isso pode ser feito com rolo, compactador, de ferro ou de um ou mais conjuntos de pneus lisos, que podem ser construídos na própria fazenda ou com grade niveladora leve “fechada”, isto é, regulada de forma que os discos fiquem paralelos à direção de avanço do equipamento, para que não enterrem muito as sementes”, afirma o pesquisador. Esse procedimento de cobertura das sementes com solo, simulando uma compactação é uma recomendação técnica fundamental, principalmente numa região de clima semiárido
 
Um fator a ser observado na fase de semeadura das espécies forrageiras é que, antes mesmo que as novas plantas emitam sementes, tecnicamente se recomenda realizar um primeiro pastejo na área. “Ele deve ser feito logo que as plantas estiverem crescidas e cobrindo quase toda a área semeada. Porém, neste primeiro pastejo, o produtor deve ter o cuidado de utilizar apenas animais jovens e mais leves – em torno de seis a sete arrobas, além de controlar a permanência dos animais na área por curto período de tempo”. 


Cardápio


As variedades de capim mais cultivadas no Norte de Minas são as dos gêneros brachiaria (piatã e paiaguás), andropon e massai, por ser mais resistentes e estarem adaptadas ao clima semiárido. Ainda são plantadas em maior escala as espécies do gênero panincum, como Mombaça e Tanzânia. A escolha da espécie deve recair sobre pelo menos três espécies diferentes a serem estabelecidas na propriedade. Isso se explica pela ocorrência de pragas e doenças, diversidade da fertilidade de solos existentes na propriedade e as exigências das diferentes categorias animais criadas na fazenda. Diversificando as opções a serem semeadas, o pecuarista aumentaria a chance de não ficar sem pasto diante da ocorrência de algum desses fatores dizimando uma única espécie susceptível, enfatiza Virgílio Gomes.



Um olho na terra e outro no céu


O pecuarista Osmar Avelino enfrenta a prática da recuperação das pastagens em sua propriedade, no distrito de Santa Rosa, em Montes Claros. Ele diz que a meta é fazer o plantio de sementes em cerca de 100 hectares no período chuvoso que se inicia. Segundo Avelino, que também é médico, os terrenos já estão gradeados. “Mas, vou plantar as sementes de capim de acordo com as chuvas. Vou ficar com um olho na terra e outro no céu”, anuncia o pecuarista, que se dedica a criação de gado de corte e de leite, com cerca de 1,4 mil animais. Ele disse que vai usar espécies variadas de capim: bracharia, Mombaça, andropogon e buffel.
 
Ao longo de sucessivos anos de seca no Norte de Minas, o pecuarista teve muitas perdas de pastagens. No ano passado, relata, ele plantou cerca de 30 hectares. “Mas, devido ao sol, perdi tudo. Agora, vou plantar o capim de novo e, desta vez, esperamos que as chuvas sejam suficientes para salvar o capim”, afirma Osmar Avelino.
 
Nesta época do ano, o mercado da venda de semente de capim é aquecido em Montes Claros. “Ultimamente, o mercado de semente de capim na região esteve fraco. Mas, a nossa expectativa é que até novembro tenhamos aumento na comercialização de pelo menos 20 por cento”, afirma Leônidas Henrique Tolentino Miranda, gerente de vendas da Sementes Tolentino, uma das mais tradicionais empresas produtoras de sementes da região. (LR)