Jornal Estado de Minas

Aposta no óleo para defesa dos alimentos



Se o uso do Neem, planta de origem indiana, como defensivo natural já não é uma novidade entre os produtores rurais, o produto ainda carece de um melhor controle de qualidade e orientações de uso por parte de quem o fabrica. Este cenário foi apontado em pesquisa feita pela Ceres Inteligência, consultoria mineira que atua no mercado nacional de planejamento e modelagem de negócios, a pedido da BioNeem, empresa que atua há 10 anos no cultivo orgânico do Neem para extração do óleo e produção do defensivo.

O estudo mostra que o Neem é mais difundido entre os produtores de orgânicos, onde 64% dos entrevistados disseram que conhecem o produto, sendo que 23% o utilizam. De acordo com Alexandre Galvão, sócio-diretor da Ceres Inteligência, esse cenário é de muita informalidade. “Hoje temos apenas três produtos que usam o princípio ativo do Neem registrados como fitossanitários, o que explica a baixa fidelização do produto por parte dos produtores, além da distância e dificuldade de falar com os fabricantes para obter orientações sobre o uso do defensivo”, relata Galvão.

A pesquisa faz parte de um estudo mais amplo que pretende elevar a BioNeem de produtor rural para o estágio de fabricante de um produto fitossanitário devidamente registrado. O projeto prevê estruturar a fábrica, ainda de porte pequeno, com a instalação de um laboratório para controle de qualidade e padronizando o produto. Parte desse controle é assegurado porque todos os processos, do plantio ao produto final, são feitos pela empresa, enquanto vários concorrentes importam o óleo de Neem. Já no campo, a ideia é quadruplicar a produção em quatro anos, alcançando 100 mil litros do defensivo natural por ano.

O novo plano de negócios prevê uma forte atuação do setor comercial, a começar pela adoção de um preço competitivo. Segundo o sócio-diretor da Ceres Inteligência, a ideia inicial é vender o litro do defensivo por aproximadamente R$ 60, enquanto produtos similares, com a mesma concentração do princípio ativo, custam de R$ 80 a R$ 100.

Outras estratégias para estimular o uso do defensivo natural é a divulgação por meio de representantes, participação em feiras e eventos voltados para a agricultura, além do fornecimento do produto para teste, incluindo a orientação de como utilizá-lo. Para viabilizar tudo isso, no atual estágio, a BioNeem busca por investidores para alavancar o projeto.



Demanda


De acordo com Henrique Portugal, um dos sócios da empresa, existe uma crescente demanda por alimentação de qualidade, o que vai provocar uma profunda mudança em como se produz alimentos no mundo. “Agora que superamos a questão de produzir alimentos em quantidade, surgiu a demanda pela alimentação de qualidade. O lance agora é qualidade, e não volume. Os chineses querem comprar a soja sustentável porque tem mais proteína que a transgênica”, explica o empresário.

Segundo Portugal, que também é tecladista da banda mineira Skank, o uso indiscriminado de defensivos químicos no Brasil deixou a terra doente. “Em países onde a cultura orgânica está avançada, como França e Alemanha, haverá mudanças significativas nos próximos cinco a 10 anos. O Brasil está muito atrasado quanto à produção orgânica, que representa apenas 0,2%.
Enquanto na França o crescimento do mercado orgânico é de 10%, no Brasil esse número gira em torno de 2%”, exemplifica o músico.

Apesar desse atraso, para o sócio da BioNeem, cuidar do planeta não´é mais uma questão filosófica, alternativa, mas um fator de negócios. “Tenho um amigo que trabalha numa multinacional de produção de alimentos, que destacou o aumento na busca por alimentos verdadeiros. Existe uma mudança de viés em processo no Brasil. Estou falando de grandes produtores e pesquisadores, como o Grupo de Agricultura Sustentável (GAS)”, cita Portugal, que está à procura de parceiros estratégicos para levar o projeto adiante, “pessoas que já identificaram que esta mudança está em curso”.

Plantação


Para o músico, o Neem é uma das ferramentas para a produção mais sustentável, cujo princípio ativo, a Azadiractina, é um repelente natural capaz de controlar mais de 400 pragas. Na empresa do tecladista do Skank, o Neem é cultivado em uma área de 70 hectares no município de Itinga, Região Nordeste de Minas Gerais. Originária da Índia, onde é conhecida como árvore da vida, a planta gostou do clima e solo do Vale do Jequitinhonha, onde começa a dar frutos já no quarto ano, mais rápido do que em outras regiões.

Para extrair um litro de óleo de Neem, são necessários de 5 a 6 quilos do fruto, sendo que cada árvore adulta produz aproximadamente 50 quilos por ano. Henrique Portugal destaca que uma vantagem de produzir de forma orgânica no Vale do Jequitinhonha, região mais isolada, é estar longe de contaminantes de terrenos vizinhos. “A gente precisa mudar isso de só plantar Eucalipto nessa região.
Normalmente, o início de todo processo de industrialização começa poluindo, para depois limpar. Nossa ideia é outra, a produção é orgânica e todo resíduo gerado é reaproveitado, sem nenhum descarte.

"Agora que superamos a questão de produzir alimentos em quantidade, surgiu a demanda pela alimentação de qualidade. O lance agora é qualidade, e não volume. Os chineses querem comprar a soja sustentável porque tem mais proteína que a transgênica”

. Henrique Portugal,
sócio da BioNeem

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