Jornal Estado de Minas

Eles nadam em altas ondas

Mercado ativo na cadeia de produção do agronegócio, a piscicultura ornamental ganhou espaço na Zona da Mata mineira, onde o setor mantém o maior polo de produção da América Latina, responsável por mais de 70% do fornecimento no Brasil. As principais localidades especializadas no negócio são: Muriaé, Miradouro, São Francisco do Glória, Barão do Monte Alto, Vieiras e São Francisco.


Cerca de 350 produtores familiares no estado se dedicam à criação artesanal de peixes, segundo a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). O mercado de peixes ornamentais é promissor, mas demanda profissionalização, de acordo com Ana Carolina de Castro Euller, diretora de Aquacultura da secretaria de Minas. Como hobby, o aquarismo está na vice-liderança do ranking do mercado PET no país.


“As possibilidades são infinitas. A demanda é muito maior que a oferta. Minas exporta peixe ornamental para o país todo. Os principais mercados da produção mineira são Rio de Janeiro e São Paulo. Em setembro último, devido ao destaque de Minas no setor, uma dezena de piscicultores de Minas ganhou 45 prêmios concedidos pelo Concurso Mundial de Peixe Ornamental, realizado em Natal.


O evento foi realizado junto à Feira Internacional de Aquarismo (FEAQUARN) e contou com a participação de criadores da Austrália, Europa, Ásia e Américas do Sul e do Norte.

Do Brasil, participaram criadores de 14 estados. Além da exposição, eles tiveram oportunidades de fazer negócios e de adquirir material genético de qualidade (matrizes e reprodutores) para seus plantéis.


Morador de São Francisco do Glória, o agente de saúde Maxuel Laviola Leite, que também trabalha com peixes ornamentais, conquistou três primeiros lugares com sua criação da espécie Molinésia. “Adquiri mais experiências ao participar do concurso, conheci outros produtores e espécies de peixes diferenciados, com grande qualidade e tamanho, além de poder mostrar meus peixes e apresentar minha região”, orgulha-se o piscicultor. Ele ganhou premiações com macho de Molinésia Negra Landipina, fêmea de Molinésia Dálmata e Molinésia Chocolate.


Foi premiado também com medalha de segundo lugar com a espécie Molinésia Lira Negra e obteve três terceiros  lugares com as espécies Molinésia Prata, macho de Molinésia Lira Negra e com fêma de Molinésia Tigre.  Sobre o mercado de consumo, Maxuel Leite disse que, a despeito da atual crise financeira pela qual o país está passando, as vendas não param.

“Às vezes falta peixes. Não conseguimos aumentar os preços neste ano, mas com os peixes diferenciados que oferecemos, conseguimos agregar um bom valor e os eventos que vêm ocorrendo nos ajudam a divulgar nossos peixes e a procura por eles se torna maior”, garante. Ele considera que, para iniciar na piscicultura o mais difícil é conhecer as áreas e a atividade.

Investimentos

Aldir Luney Lacerda, piscicultor de Patrocínio do Muriaé, viajou a Natal como premiação conquistada em concurso de Belo Horizonte e participou do concurso internacional com as espécies Bettas Cauda Longa, Red Dragon, Coy, Salamandra e um Placat de Linhagem. Ele diz que compensa investir no ramo.

Contudo, o trabalho é intenso.

O sustento de Vando Caetano Vardieiro e da família dele, também de Patrocínio de Muriaé, é todo proveniente da piscicultura ornamental. Ele também foi um dos premiados em Natal, onde ganhou vários troféus. “Participei com as espécies Bettas de Linhagem, que eu mesmo produzo. O mercado hoje está indo bem, mas tem época que complica, pois as vendas ficam mais fracas, mas compensa sim investir”, afirma.

Qualidade abre mercados

Mercado consumidor não tem faltado aos produtores que vêm investindo na qualidade de seus plantéis, afirma Gabriel Miranda Batista, médico veterinário e presidente da Associação dos Aquicultores de Patrocínio do Muriaé e Barão do Monte Alto (AAQUIPAM – BMA). A entidade reúne 40 piscicultores.

“Encontramos dentro da associação alguns produtores que se dedicaram à produção de peixes diferenciados e conquistaram mercado formidável. Ainda que ampliando significativamente a área de produção e a produção de animais, só consigo atender cerca de 10% das encomendas”, diz.

Gabriel começou a pesquisar sobre a atividade e a criar peixes ornamentais há cerca de 23 anos. “O meu papel com os associados premiados (no Concurso Mundial de Peixe Ornamental, em Natal) foi de parceria total. Com o Aldir, fiz a seleção de todos os animais que foram enviados ao evento; com o Vando, selecionei e enviei fêmeas, e também forneci grande parte das matrizes que geraram os peixes que concorreram além das orientações técnicas dadas a todos os associados há mais de seis anos”, afirma Miranda Batista.

A diretora de Aquacultura da Secretaria de Agricultura de Minas, Ana Carolina de Castro Euler, destaca que a piscicultura é importante para a região da Zona da Mata, como forma de diversificar a atividade rural, gerar emprego e renda na agricultura familiar e atrair mão de obra jovem e feminina.
“A Secretaria de Estado de Agricultura, nos últimos anos, vem somando esforços para que o estado não seja apenas o maior produtor de peixes ornamentais, mas também o melhor. Queremos somar a quantidade com a qualidade”, diz,

Há três anos, o governo estadual realiza um concurso nacional de peixes ornamentais na capital, com a destaca participação de produtores do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Norte. “Conquistamos muitas medalhas, mas não é só isso, pois, no meu modo de ver, os ganhos são maiores, tais como, acesso a material genético de qualidade, realizar negócios, networks e a confirmação da excelência dos peixes mineiros”. (AGP)

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