Jornal Estado de Minas

Nas fazendas de Minas, 94% dos produtores rurais usam celular


Sabe aquela imagem do produtor rural com pouca – ou nenhuma –, habilidade para lidar com as tecnologias e ferramentas de gestão digital? Delete da sua memória! Em Minas Gerais, o percentual de proprietários rurais que usam aparelhos celulares é de 94%, e, desse universo, 75% acessam a web pelos próprios telefones móveis.

Surpreso? Pois é esse perfil de produtores empreendedores que tem levado ao campo melhores resultados, ancorados em produção com qualidade, e maior rentabilidade do negócio. O único entrave ao avanço da tecnologia da informação nas fazendas está na deficiência da cobertura das redes de telecomunicações.

A pesquisa Tecnologia da informação no agronegócio, feita pelo Sebrae-MG, mostra que 26,3% dos donos de microempresas rurais e 43,6% dos proprietários de empresas de pequeno porte no campo em Minas usam smartphones para acessar a internet. As taxas são expressivas, já que levantamento feito pela Google Consumer Barometer, mostra que a média da população brasileira com acesso à internet por meio de aparelhos celulares é de 62%.

Ao todo, o levantamento ouviu 4.467 produtores rurais entre 29 de março e 12 de abril passado em todos os estados. A despeito do perfil tecnológico observado, o uso da tecnologia da informação ainda é restrito. As transações comerciais e a divulgação têm como limitador a dificuldade de acesso e a má qualidade da conexão oferecidas pelas operadoras.

No estado, 77,1% dos produtores já fizeram alguma compra pela Internet, 32,9% usaram a Web para efetuar vendas e 31,4% dos empreendimentos rurais têm página na Internet ou perfil nas redes sociais.

Para Cláudio Castro, analista técnico da unidade de agronegócio do Sebrae-MG, surgiu um perfil de empreendedor no campo. Segundo ele, as tecnologias são cada vez mais aproveitadas e há uma busca pelo conhecimento e uso dessas ferramentas para gerenciamento da produção e também para melhorar a comunicação.

A mudança de perfil também pode ser explicada em razão de fatores ligados ao comportamento das famílias.
“Hoje, vivemos um tempo em que filhos dos produtores rurais estão se voltando para o campo para explorar o negócio do pai e também por perceberem que o agronegócio vive um bom momento”, observou Castro. A exigência por parte dos consumidores de produtos melhores demanda dos produtores uma aproximação maior com seus clientes. Aí aparecem as redes sociais.

A pesquisa constatou que embora 73,7% dos empreendedores já pratiquem o gerenciamento administrativo e financeiro dos negócios rurais, apenas 10,6% fazem isso por meio de ferramentas digitais de gestão.Usariam esses recursos para gerenciar a fazenda se tivesse acesso a eles 84,3% dos entrevistados.

Foi pensando em melhorar a gestão do negócio e aproveitando os conhecimentos em tecnologia que o produtor rural e presidente da 4milk, Cláudio Notini, desenvolveu um aplicativo para gerenciar rebanhos. “O aplicativo surgiu de uma demanda minha. Eu quis fazer uma ferramenta que me ajudasse, fiz um protótipo na fazenda”, contou. Ele trabalhou por 20 anos em uma empresa de TI e aplicou os conceitos para criar soluções para o trabalho na propriedade, localizada em Santana do Pirapama, na Região Central do estado.

O aplicativo, que pode ser baixado gratuitamente em todas as lojas virtuais de celulares, permite ao produtor fazer o manejo da reprodução, controle sanitário e de vacinação, entre outros itens. As informações são armazenadas e usadas para definir a melhor estratégia para o rebanho.
O acompanhamento também observa as especificidades de cada animal e, com isso, consegue promover a gestão individual .

Cláudio conta que a melhoria obtida na gestão, com o aplicativo, fez a produção subir de 2 mil litros por dia, há cerca de dois anos, para os atuais 3 mil litros/dia. “Sem dúvida a utilização da ferramenta trouxe um ganho muito grande, tanto de produção, quanto em qualidade”, comentou.

Novos agricultores


Na mesma linha, o produtor Guilherme Ferreira, de 31 anos, tem conseguido destaque para sua produção de queijo canastra em São Roque de Minas, no Centro-Oeste do estado. Ele começou a postar imagens dos queijos  que produzia prestando atenção à composição dos elementos e esse cuidado ganhou destaque. Somente no Instagran, o perfil @capim.canastra já tem cerca de 30 mil seguidores.

“No começo era mais focado no queijo e vídeo tirando leite das vacas. E foi crescendo o negócio”, conta. Segundo ele, como estratégia de divulgação, passou a seguir e curtir os perfis de chefes de cozinha e aos poucos ganhou notoriedade.

A divulgação dos queijos trouxe não só fama, mas ganhos reais. O preço, que girava em torno de R$ 75, subiu agora para R$ 85.
O mesmo ocorreu com as vendas. Guilherme conta que comercializava 3 unidades, em média, por semana e passou a receber até 10 contatos também na semana. “Há pouco tempo, os produtores era tratados como coitadinhos, mas agora eles têm assumido seu valor”, define..