Jornal Estado de Minas

Bois de "linhagem nobre" chegam ao Brasil para incrementar produção nacional


Eles impressionam pela beleza, porte, peso, valor e ainda pela enorme logística necessária para o desembarque no Brasil, algo que não ocorria nos últimos12 anos. De linhagem nobre, eles são os touros angus Mercenary, SafeGuard, Monument e Siman, que vieram dos Estados Unidos há um mês para incrementar a produção nacional de sêmen. No Brasil, 80% dos animais para abate são do cruzamento da raça nelore com a angus, mas o sêmen, até então, tinha que ser importado dos EUA, acompanhando a variação do dólar. Ou seja, produtores ficavam expostos às variações cambiais e, portanto, com produção e lucratividade incertos. Os quatro animais não vão suprir a necessidade de sêmen no país, mas significa mais segurança no processo de criação, de acordo Marcelo Selistre, gerente de Produto Corte Europeu da empresa ABS Pecplan, responsável pela importação dos exemplares.

Os animais importados para suprir a demanda por sêmen de bovinos diferenciados no país já estão na central da ABS em Uberaba, Triângulo mineiro, mas passam por um processo de quarentena. “Nosso país tem uma variação muito grande na questão político-econômica. Acompanhamos, recentemente, por exemplo, um aumento expressivo do dólar, o que influencia diretamente no valor do sêmen importado”, justifica Marcelo Selistre, ressaltando que a demanda por esse material é enorme e crescente.

O gerente de Produto Corte Europeu da empresa ABS Pecplan disse que a importação foi feita quatro meses depois de ter caído a barreira sanitária imposta pelo Ministério da Agricultura, em razão da doença da vaca louca. No entanto, até que o processo se concretizasse foram necessários mais seis meses.
A importação de touros, segundo Selistre, já foi feita pela empresa ainda nos idos dos anos 2000, pela central da cidade de Rosário do Sul, no Rio Grande do Sul, e apesar dos bons resultados, foi encerrada em 2006 em razão da proibição de importação de animais vivos pelo Brasil.
Agora, os animais foram levados para a central em Uberaba, Triângulo Mineiro, onde estão em sua terceira quarentena.

ADAPTAÇÃO Segundo Marcelo Selistre, agora, a expectativa é maior em razão do clima da região, muito diferente dos EUA, responsável pela exportação de 70% da genética da raça angus em todo o mundo. “A possibilidade de importação de animais vivo nos protege da uma possível altar do dólar, que já esteve na casa dos R$ 4,20”, afirma. O diretor diz que uma dose de sêmen hoje tem custo que varia entre R$ 15 e R$ 14, o que equivale a US$ 4,4. Cada touro, no entanto, é capaz de produzir entre 50 mil a 100 mil doses de sêmen anualmente, o que pode gerar uma produção anual no Brasil, de US$ 400 mil.

Esta primeira fase do empreendimento está muito longe de atender a necessidade do mercado nacional, que consome 4,2 milhões de doses anualmente. Mas, segundo Marcelo Selistre, a importação de novos exemplares já está no horizonte da ABS. O diretor não quis comentar sobre o custo total da importação e da logística para que fosse viabilizada a vinda dos touros, mas garante que, a longo prazo, o investimento vai compensar pela redução do investimento na compra do sêmen importado. “Além do alto custo da genética, o produtor tem que investir ainda em hormônio e veterinário, o que aumenta ainda mais as despesas”, lembra.

PRODUÇÃO Mesmo já em solo brasileiro, até que os touros comecem a produzir, é um longo caminho.
Segundo o gerente de Produção da ABS Pecplan, Fernando Vilela, as primeiras doses só devem ser produzidas entre março e abril do próximo ano. Fernando Vilela explica que antes de embarcarem para o Brasil, os touros foram submetidos a uma série de exames de saúde, para afastar a possibilidade de brucelose e tricomonose. Os testes foram repetidos três vezes e os exemplares ainda ficaram em quarentena. Depois, os touros – que têm peso que varia entre 550 e 700 quilos –, foram embarcados em um avião adaptado, sendo que cada um deles foi alocado em uma caixa diferente. O voo até o Brasil durou mais de 15 horas.

No país, eles passaram por uma pré-quarentena até serem levados à central da ABS em Uberlândia, onde também permanecem isolados. Em razão disso, apenas a partir de janeiro é possível se falar em início da produção. Vilela lembra que os animais americanos não tiveram contato com parasitas como carrapatos, transmissores da babesiose e da anaplasmose e, portanto, o cuidado é redobrado. “Para garantir uma boa produção no futuro, os animais estão alojados em grandes baias, com aspersão de água e temperatura controlada – menos cinco graus que a temperatura ambiente – para evitar que estranhem o clima”, explica o gerente.

Apesar da longa viagem, Fernando Vilela garante que os animais estão em bom estado.
“Estão muito bem. Mas, ainda sim, durante essa fase de adaptação a resistência cai muito. Então, temos que ter muito cuidado para garantir a saúde deles para que, no ano que vem, possamos corresponder a toda expectativa do mercado”, comenta o médico veterinário. A partir do próximo ano, as visitas aos touros também serão liberadas, oportunidade para que criadores de todo o país conhecerem de perto a genética americana original.

VALOR O criador Carlos Alberto Andrade Jurgielewicz, o Nano, administrador da Fazenda Serrinha, em Amambai (MS), aprova a iniciativa de importação de animais vivos. Parceiro do projeto da ABS há cinco anos, ele diz que a produção nacional de sêmen faz com que o produtor “ganhe tempo e baixe o custo”.

Carlos Alberto conta que o mercado nacional busca é o boi 777, que significa sete arrobas no desmame, sete arrobas na recria e sete arrobas na terminação. Com o cruzamento da raça angus com a nelore é possível conseguir o resultado ainda melhor com oito arrobas já no desmame. “Quando iniciei essa experiência não tinha ideia dos resultados e me surpreendi porque ganhei 30% a mais com a venda de cada bezerro”, atesta Nano.

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