Era um menino, nascido no final da década de 1950. Não existia internet e nem celular. Só rádio e televisão. Na TV, a transmissão era em preto e branco. Não havia o chamado “ao vivo”. Mas o menino não sabia que se tornaria testemunha e, algumas vezes, personagem. Não, não era de crime, mas do esporte. Às vezes, parecia que as coisas se passavam dentro de sua casa.
Era Belo Horizonte, Minas Gerais.
Chega o ano de 1966, quando presenciou um feito fantástico. O futebol era para ele, com 8 anos, uma decepção.
Não demoraria muito e o feito que havia parado uma cidade, Belo Horizonte, um estado, se repetiria em cinco anos. Um outro time mineiro calou o país. O Atlético, de Dario, Vantuir, Oldair, Cincunegui, Vanderlei, Humberto Ramos, Ronaldo, Lola, Beto, Tião, Romeu, com Telê Santana de técnico, foi campeão nacional. Lá estava o menino com seu pai, acompanhando tudo, não sei como, de pertinho. Parecia predestinado. Tinha 13 anos. E logo depois, uma alegria ainda menos inesperada. No mesmo ano, o Villa Nova, de Nova Lima, que seria campeão da Primeira Divisão, que é hoje a Série B do Brasileiro.
O menino que era do judô passou a ser também do futebol. A cada conquista, ao lado de casa, por assim dizer, se fascinava mais e mais.
De novo o futebol. O Cruzeiro conquista o primeiro título internacional para o futebol mineiro, campeão da Libertadores, em 1976. Um time com Raul, Nelinho, Piazza, Zé Carlos, Eduardo, Batata (que faleceu durante a disputa), Palhinha, Jairzinho e Joãozinho. O menino crescia e já não perdia nem um momento sequer do esporte mineiro.
Na natação, na Olimpíada de Moscou’80, um nadador daqui, do Minas, Marcos Mattioli, integra o time medalha de bronze no revezamento 4x200m livres. Nenhum outro mineiro tinha conquistado uma medalha olímpica antes. E ele fez escola. Outros o seguiram, como Teófilo Laborne, duas vezes recordista mundial no revezamento 4x100m livres. Na piscina, mais tarde, Thiago Pereira seria prata nos Jogos Olímpicos de Londres’2012, no 400m medley, deixando para trás ninguém menos que Michael Phelps.
Logo depois, o vôlei, esporte que sua irmã praticava.
Ainda na década de 1990, o futebol de salão daria novas alegrias. Depois do Brasileiro de Seleções, em 83, com Jackson, o Atlético, que tinha o estranho patrocínio de uma funerária, a Pax de Minas, arrebatava o título de bicampeão brasileiro, em 97 e 99. No intervalo, em 98, ainda foi campeão mundial. Time que tinha Manoel Tobias.
De volta ao vôlei, mais um tricampeonato do masculino do Minas, agora com Cebola, ex-jogador, de técnico, comandando Maurício e André Nascimento, entre outros. Viria também mais um título feminino, com Fofão, Cristina Pirv, Érika, Elisângela, Fabiana e Sheila, do técnico Antônio Rizzola. A satisfação em ver as vitórias mineiras mexe com o ex-menino, agora um homem. O judô volta à tona com o Minas, que tem Luciano Corrêa, Érica Miranda e Ketleyn Quadros.
Os anos passam e um novo esporte ganha destaque no estado, o tênis. No final da Era Guga, um mineiro desponta, André Sá, que conquista nada menos que 11 títulos individuais. Quase na mesma época, dois nomes fazem história desde 2010 nas duplas: Marcelo Melo e Bruno Soares. O primeiro conquistou dois títulos de Grand Slam e terminou 2017 como número 1 do mundo. O segundo venceu cinco Grand Slam e está sempre no top ten de duplas.
Vê o futebol em evidência novamente. O Cruzeiro é campeão de tudo em 2003, a “Tríplice Coroa”, pois ganhou o Brasileiro, a Copa do Brasil e o Mineiro, num time que tinha o craque Alex. Muda a década. As conquistam continuam. O Atlético de Cuca, e depois com Levir Culpi, faz história. Com o primeiro, o título da Libertadores, em 2013. Em 2014, com o segundo comandante, o título da Copa do Brasil, na primeira decisão mineira da história de um torneio nacional, contra o Cruzeiro. Mas o time celeste não deixa por menos. Voltaria a dominar o cenário nacional, primeiro com o bicampeonato brasileiro, em 2013 e 2014, e em 2017, com o quinto título da Copa do Brasil.
E o menino, hoje homem grande, sonha em ver o esporte mineiro conquistando muito mais, tanto no futebol como no vôlei, futsal, natação, basquete, ou em qualquer outro esporte, pois o que importa é mesmo o esporte.
* Jornalista, 60 anos, é réporter de esportes
do Estado de Minas desde 1988