Estado de Minas

Vidas marcadas em papel jornal: leitores relembram fatos dos 90 anos do EM

Assinantes relacionam momentos marcantes de suas vidas a fatos publicados no jornal, que se tornou UM companheiro diário


postado em 05/03/2018 14:46 / atualizado em 06/03/2018 21:35


“Americanos hoje à tarde na Lua”, manchetava o Estado de Minas em 20 de julho de 1969. “Quatro minutos e 39 segundos antes do horário previsto”– cravavam as primeiras linhas da matéria de capa. Grande conquista do século 20, o assunto ocupou outras quatro páginas e um suplemento daquela edição.

Dona Emília Margarida Mascarenhas, de 73 anos, recorda-se do dia em que o exemplar chegou à sua porta. Grávida de quase 9 meses, encontrou ainda na primeira página o horário exato do pouso lunar: 17h16. Algumas horas antes, reuniu o marido, o compositor mineiro Pacífico Mascarenhas, alguns familiares e amigos em frente à TV de casa para contemplar o espetáculo, transmitido ao vivo em todo o mundo para mais de 1 bilhão de espectadores.

O que ela não contava era com o fato de que, naquele dia, além dos astronautas Neil Armstrong (1930-2012) e Edwin Aldrin, outro “passageiro” se adiantaria em desembarcar da nave-mãe. “Assim que ligamos a televisão, não demorou muito para eu começar a sentir as contrações. Meu segundo filho, Alexandre Mascarenhas, nasceu na data em que o homem pisou na Lua. Essa é uma das notícias que eu li no Estado de Minas que mais me marcaram e acho que nem poderia ser diferente, né? Largamos tudo e fomos para o hospital. No dia seguinte, muita gente que foi nos visitar começou a fazer graça conosco, dizendo que o bebê deveria se chamar Armstrong!”, conta dona Emília.

O casal adquiriu a assinatura do EM pouco depois do matrimônio, há 54 anos. Ambos se descrevem como leitores vorazes de noticiários. O ritual de leitura começa logo cedo e, segundo Pacífico, segue a ordem tradicional dos cadernos. O Gerais ganha uma atenção mais demorada. “Gosto de me inteirar do que acontece na cidade. Atualmente, fico ansioso para me informar sobre o surto da febre amarela”, comenta. EM Cultura é o segundo da lista de suas preferências. Músico responsável pela introdução da bossa nova na cena mineira, ele também pautou a sessão várias vezes. A última vez em que foi notícia é, inclusive, bem recente. Publicada em 10 de dezembro de 2017,  a reportagem falava sobre o lançamento de cinco discos com o melhor de seu repertório – vasto repertório, por sinal. De 1958 a 2014, o artista de 78 anos gravou 35 discos, entre LPs e CDs.

“Também já saí no Vrum, o caderno de veículos. Sou colecionador de carros antigos, então há jornalistas que se interessaram em me entrevistar e fotografar meu acervo, que reúne automóveis que já pertenceram aos ex- presidentes Getúlio Vargas (1882-1954), Juscelino Kubitschek (1902-1976) e Eurico Gaspar Dutra (1883-1974). Só não me pergunte quando foi que as matérias saíram porque, a essa altura do campeonato, já não guardo datas”, brinca o assinante.
Sendo casado com dona Emília, ele não precisa mesmo se preocupar com a memória. A dela certamente vale por duas, quiçá por um arquivo inteiro, dada a riqueza de detalhes com que fala de outras ocasiões em que a história de sua família esteve nas páginas do EM. “Você precisa ver a crônica maravilhosa que o jornalista Eduardo Couri escreveu sobre o casamento da minha filha. Eu guardo o recorte da edição até hoje. Ela se casou na nossa casa, a cerimônia foi no coreto, com padre e tudo. Foi a primeira vez que (o bispo) dom Serafim (Fernandes) liberou um matrimônio fora da igreja. Nós ficamos emocionados com a maneira como o Eduardo nos retratou. No dia seguinte à festa, recebemos inúmeros telefonemas de pessoas encantadas como o texto. Houve quem ligasse de Congonhas e até de Ouro Preto pra nos cumprimentar”, relembra.

Leitor e leitura

Beto Novaes/EM/D.A Press(foto: José Eustáquio tem a lembrança da morte de JK)
Beto Novaes/EM/D.A Press (foto: José Eustáquio tem a lembrança da morte de JK)

A trajetória de José Eustáquio Fonseca atravessou a do Estado de Minas bem antes de ele se tornar leitor do jornal. Na verdade, bem antes que o dentista, hoje com 72 anos, assinante do noticiário há quatro décadas, fosse alfabetizado. José nasceu em 7 de março, mesma data de fundação do EM. A diferença de idade entre os dois mineiros é de 18 anos.
Publicada pouco mais de seis meses após o término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as notícias da capa de 7 de março de 1946 eram essencialmente políticas, focadas no contexto socioeconômico europeu. Bem diversas, sem dúvida, daquelas que Fonseca prefere ler. A página predileta do profissional da área de saúde é a número 12: Ciência. “Não só leio, como frequentemente tiro xerox de alguns artigos para entregar aos meus pacientes. Esses dias mesmo saiu uma reportagem interessante dizendo que dá para envelhecer sem ter que usar dentadura. Já fiz cópias da matéria para distribuir no meu consultório”, diz.  O Superesportes é outro caderno que o cruzeirense entusiasmado acompanha diariamente. “As conquistas do Cruzeiro estão entre os registros mais agradáveis que li no Estado Minas.”

Protagonizado por outras raposas – essas, da política –, outro fato histórico ainda está fresco na memória desse leitor. Em 24 de agosto de 1976, ao recolher o jornal entregue pela manhã em sua casa, Fonseca leria a manchete da qual jamais se esqueceria: “O Brasil de luto por Juscelino”. “O Estado de Minas, assim como todos os jornais do país naquele dia, só falavam do velório de Juscelino Kubitschek (morto em um acidente de carro dois dias antes, em 22 de agosto). Foi um capítulo e tanto na história. Comoção nacional como poucas vezes se viu por aqui”, rememora.

Quatro décadas depois de aderir à assinatura do EM, José Eustáquio mantém-se fiel ao formato impresso. “Por enquanto, não tenho interesse em ler notícias na internet. O impresso me atende perfeitamente”, brinca.

Nossa contemporânea

Uma das maiores referências artísticas de Minas Gerais, Maria Helena Andrés circula pelo mundo há mais tempo que o Estado de Minas. Em 2 de agosto, a artista plástica completará 96 anos.

As mãos que pintam, desenham, esculpem, fotografam, produzem gravuras e montam colagens nunca temeram o universo digital. Estamos falando, afinal, de uma nonagenária dona de dois blogs, atualizados uma vez por semana há nove anos ininterruptos: Minha vida de artista, em que ela publica críticas, aventuras e reflexões sobre arte; e Memórias e viagens, sobre suas andanças pelo mundo em busca de inspiração e referências. Assinante do EM há cinco décadas, não é de se estranhar que ela leia notícias no tablet.

“Ganhei um tablet dos meus netos. De vez em quando leio o noticiário lá sim. Leio também conteúdos do NYtimes, do Le Monde Diplomatique, do El País. Estamos caminhando para um mundo cada vez mais digital, não é mesmo? Temos que aprender sempre, desenvolver habilidades novas”, pondera a desenhista.

Pensar e EM Cultura são suas sessões preferidas do noticiário mineiro. “Gosto de me inteirar principalmente sobre as exposições de arte já que, atualmente, na minha idade, fica um pouco mais difícil sair pra contemplar. A página de Ciência também me interessa muito, leio-a sempre”, diz a pintora.

Além de leitora do EM, a mineira também figurou inúmeras vezes nas páginas do jornal como fonte, pauta e personagem (caso deste caderno especial). “O Estado de Minas também publicou muitos textos meus. Na década de 1960, por exemplo, colaborei, a pedido do veículo, com uma série de artigos sobre arte e educação”, lembra a artista.

Diva do tempo

As mãos de Maria Helena Andrés, de 96 anos, pintam, desenham, esculpem e acessam notícias pelo tablet(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
As mãos de Maria Helena Andrés, de 96 anos, pintam, desenham, esculpem e acessam notícias pelo tablet (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Uma linha do tempo que traz, numa ponta, o intelectual marxista Leon Trótski (1870-1940); na outra, a jovem youtuber Kéfera. Entre eles, fatos e fenômenos históricos como a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a bossa nova e o surgimento da internet.

Eis um privilégio compartilhado apenas por quem viveu para ver nove décadas de história – caso do Estado de Minas e uma de suas leitoras mais antigas, a pensionista Diva Antonini Coscarelli. A parceria entre os dois vai longe. Dona Diva é assinante do jornal há mais de 70 anos. “Eu vi muita coisa nesse jornal. Por exemplo: a morte do presidente Getúlio Vargas (1882-1954). Que momento histórico intenso”, recorda-se.

A leitora diz percorrer todos os cadernos, praticamente sem pular páginas. “Só não sou muito afeita a colunismo social. Gosto muito de ler a parte de cultura, mas também não corro das notícias mais ásperas do Gerais. As minhas filhas até falam ‘pule as más notícias, mamãe’. Mas eu gosto de ler tudo. Acho necessário”, afirma a leitora.

A página da qual ela mais gosta, porém, não traz necessariamente conteúdo jornalístico. “Faço as palavras cruzadas todos os dias. É um hábito que eu tenho há muitos anos. Pratico sempre depois do café. Depois é que eu vou ver as reportagens”, descreve a idosa.

Mãe de 8 filhos, 16 netos e 10 bisnetos, Diva escolheu passar a maior parte de seu tempo em sua residência, ao lado da família. “O Estado de Minas é, hoje, grande parte do contato que eu tenho com o mundo. É por meio dele que eu acompanho o mundo, a sociedade e as mudanças que não posso ver de perto”, relata.

Geração Y

O cirurgião pediátrico Fábio Mendes, de 30 anos, aderiu ao formato digital pela praticidade e possibilidade de acessar conteúdos ampliados e exclusivos(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
O cirurgião pediátrico Fábio Mendes, de 30 anos, aderiu ao formato digital pela praticidade e possibilidade de acessar conteúdos ampliados e exclusivos (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Leitor do Estado de Minas há mais de uma década, o cirurgião pediátrico Fábio Mendes, de 30, iniciou o contato com o diário ainda na versão impressa. Como típico membro da geração Y, não tardou a deixar que a tecnologia transformasse seus hábitos de leitura. Hoje, mantém uma assinatura exclusivamente digital. Acessa o conteúdo multimídia produzido pelo EM sobretudo por meio de aplicativos disponíveis para tablets e smartphones.

“Acho muito mais prático. O impresso ocupa muito espaço. Além disso, gera resíduos. O jornal digital favorece a preservação do meio ambiente”, argumenta. Médico de rotina atribulada, Fábio lê o noticiário, geralmente, a caminho do trabalho. “Entre uma cirurgia e outra, também aproveito para me informar”, conta o jovem.

“Xerocar” é verbo que o rapaz deixou nos anos 1990, junto com a infância. Assim como os recortes de jornal. Compartilhar material jornalístico, para ele, é ação bem mais simples. “Quando quero divulgar nas redes sociais uma matéria ou artigo que me agrada, eu toco no botão de compartilhamento do meu app do EM. Ou então dou um ‘print’ (ação de capturar imagem) na tela e pronto. Já colecionar pedaços da edição não faz sentido nenhum. Eu posso baixar qualquer uma que já tenha lido no passado diretamente do aplicativo para o meu smartphone ou tablet, sempre que quiser”, explica.

Leitor atento e frequente do noticiário, ele aponta o Pensar e o Gerais como seus cadernos favoritos. “É um caderno que provoca reflexão. Faz com que a gente veja as coisas sob outro ponto de vista. Mas leio da primeira à última página da edição todos os dias. Os jornais são bons companheiros do dia a dia”, comenta o cirurgião.

Que o diga o paulista Cezar Augusto Nakano, de 44. Cheio de viagens, a rotina do empresário do setor automobilístico inclui muitas horas de espera em aeroportos ou de trânsito aéreo. É nesses momentos que ele mais se dedica à leitura do Estado de Minas, sempre na versão digital. “Agora mesmo estou em São Paulo. Amanhã, embarco para BH. Durante o ‘chá de cadeira’ do aeroporto, certamente vou abrir meu tablet e aproveitar para me atualizar”, conta.

O EM é seu companheiro de bordo há pelo menos 5 anos. “Sou assinante de todos os principais jornais do Brasil. Meu principal interesse é ficar por dentro do que há de novidade nos mercados locais. No Estado de Minas, a parte que eu mais leio é a de economia. Também procuro as matérias que falam sobre aplicativos e tendências tecnológicas”, relata Cézar


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