Vidas que salvaram vidas

Mais de 300 profissionais de saúde já perderam as vidas para a COVID-19 no Brasil. Eis as histórias de quem estava no front e os depoimentos dos que seguem trabalhando para reduzir o número de vítimas da pandemia

Nos bancos da universidade, nas aulas dos cursos técnicos e no dia a dia dos hospitais e centros de saúde, eles e elas aprenderam que, em primeiro lugar, está a vida humana. Que é preciso usar o conhecimento adquirido e reunir todas as forças para, sempre lutando contra o tempo, salvar o paciente. Mas a agressividade do novo coronavírus interrompeu a trajetória de médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem que se encontravam no “campo de batalha”, muitos na linha de frente, para preservar a vida de homens e mulheres infectados.
“Ele fez o juramento de Hipócrates, na faculdade de medicina, e trabalhou até onde pôde, pois não podia abandonar o serviço”, conta o analista de sistemas Luiz Carlos Moreira, cujo irmão, o clínico geral Sérgio Moreira, de 68 anos e residente em São Paulo (SP), morreu de COVID-19.

Durante a pandemia, aqueles que protegem podem se tornar vítimas. Há 300 anos, o escritor inglês Daniel Defoe (1660-1731) expunha em "Um diário do ano da peste" (1722) as tristes contradições de que quem combatia, na linha de frente, a epidemia da peste bubônica, que dizimou mais de 70 mil vidas em Londres no ano de 1665.

“Os próprios médicos se contaminaram com seus preventivos na boca; os homens saíam por aí prescrevendo e dizendo aos outros o que fazer até que apresentassem os sintomas e caíssem mortos, destruídos pelo mesmo inimigo que ensinavam os outros a enfrentar (...). Não há qualquer depreciação ao trabalho e à dedicação dos médicos em dizer que morreram na calamidade geral. Nem é esta minha intenção, pois é antes para louvá-los por terem arriscado suas vidas a ponto de perdê-las a serviço da humanidade.”

Em 2020, são muitas as histórias de dor, os relatos emocionados e as fortes lembranças dos familiares de profissionais de saúde que perderam a luta contra o micro-organismo, responsável pela morte de mais de 42 mil pessoas no Brasil. A pandemia do novo coronavírus foi declarada há três meses – 11 de março –, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e em parte desse período a vida da amazonense Deizeane Romão de Souza e das três filhas virou do avesso com a morte do  técnico de enfermagem Nicolares Osório Curico , que trabalhava num centro de saúde em Manaus (AM).

“Era um bom homem, saudável, forte, que gostava de caminhar. Não tenho dúvida de que foi infectado no trabalho, pois trabalhavam lá, no começo, só com máscara cirúrgica”, afirma a viúva, também técnica de enfermagem.

Pelo menos 305 médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem morreram de COVID-19 no Brasil até a última sexta-feira, segundo levantamento do Estado de Minas a partir da soma de dados fornecidos pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), que reúnem informações de todo o país. Há, ainda, 28 óbitos de profissionais de enfermagem em investigação.

E a lista de profissões envolvidas no tratamento de pessoas infectadas é mais ampla: do maqueiro, que age contra o tempo para transportar pacientes com segurança, ao psicólogo, que luta para tornar menos angustiantes os dias de quem contraiu o vírus. O número real de vítimas entre os profissionais de saúde, portanto, é ainda maior. Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Pará estão entre os que registraram mais casos.

De Norte a Sul, o sofrimento parece não ter fim e se mostra infinitamente superior às estatísticas – sejam elas divulgadas ou não. Em Itapema (SC), o jornalista Richard Rodrigues ainda se sente “anestesiado” pela perda de  Gastão Dias Júnior, pediatra , com quem compartilhou as dores e delícias do mundo por quase 14 anos.

“Meu marido foi a melhor pessoa que eu poderia ter conhecido. Era um homem bom, querido pelos seus alunos, na Universidade do Vale do Itajaí (Univale), admirado pelos pais das crianças que atendia, e o chamavam de super herói, e sempre muito presente na família”, conta Richard, entre lágrimas.
E os relatos vão se complementando, expondo sonhos destruídos, carreiras desfeitas e anos de estudos e prática transformados agora em memória.

É o caso de Cliciane Ferreira Fochesatto, que era médica no município de Fonte Boa, no Amazonas, e morreu em 9 de maio, aos 38 anos. Natural de Porto Velho (RO), ela se mudou para Nova Mamoré, quase na fronteira com a Bolívia, quando decidiu ir atrás de seu sonho de se formar em medicina.

Cliciane atravessou a fronteira e foi estudar em Cobija, a quase 120 quilômetros do Peru - até então, ela trabalhava na serraria de seu pai. "Era maravilhosa, muito protetora e amiga. Parecia mais uma melhor amiga do que mãe. Sempre foi muito amorosa com todo mundo", conta a filha de 14 anos.

São essas e outras histórias que o  Estado de Minas  conta neste especial. Mais do que um registro jornalístico, uma homenagem a todos os profissionais de saúde que estão no front da maior guerra que o Brasil enfrentou até agora no século 21.

Cláudia Nogueira Cardoso, médica endocrinologista no Rio de Janeiro (RJ). Morreu no início de abril, aos 56 anos

Cláudia Nogueira Cardoso, médica endocrinologista no Rio de Janeiro (RJ). Morreu no início de abril, aos 56 anos
Ao conversar com a reportagem, Claumyr Cardoso não esconde o orgulho que sente pela irmã mais velha. “A paixão dela pela medicina é desde muito nova, quando ela tinha 3 ou 4 anos. Com 16, ela já tinha passado na faculdade e sempre teve notas boas”, relembra. Recém-formada no ensino médio, Cláudia passara em uma faculdade no interior do Rio de Janeiro e os pais, muito protetores e guardiões, resistiam em deixá-la sair de debaixo de suas asas.

Mesmo assim, Cláudia insistiu e conseguiu voar para a cidade de Valença, onde passara no vestibular. A mãe, ainda um pouco inconformada, foi junto com a filha e, enquanto a futura médica vivia em uma casa para estudantes, ela se hospedava em uma pousada da cidade. Mas a mãe ficou pouco tempo por lá e a distância da família começou a pesar. Cláudia então voltou à cidade natal no terceiro ano, ao conseguir transferir seu curso.

“Ela ligava pra gente, chorava e aí ia todo mundo pra Valença”, conta o irmão. Já no Rio, Cláudia se viu diante de mais uma barreira: desta vez, com 20 anos, ela estava grávida de Rodrigo, menino que anos depois se tornaria mais um médico da família. “Eu não vou deixar você abandonar o curso”, dizia a mãe à filha seguidas vezes.
Cláudia se especializou em endocrinologia e, enquanto fazia consultas em uma clínica particular na Barra da Tijuca,  também atendia pobres da periferia do Rio. “O carro dela era uma farmácia. Tinha remédio de tudo lá. Quando as pessoas precisavam, ela já tinha lá ou dava um jeito de arrumar”, diz o irmão, que é dentista e cuidava dos pais enquanto a irmã trabalhava em meio à pandemia.

Mas tudo começou a ficar mais triste quando ela atendeu um paciente com COVID-19 e foi contaminada. Até o dia 2 de abril, quando foi visitar a família, os espirros e tosses não passavam de um “resfriadinho”. Mas três dias depois ela já estava internada e, em mais três dias, morta. A dor veio forte. Claumyir, Rodrigo, os pais de Cláudia e o marido (que conseguiu se recuperar da doença) ainda não superaram a perda da tão querida irmã, mãe, esposa e filha.

José Guilherme Henriques dos Santos, médico cardiologista e legista do IML de Belém, no Pará. Morreu aos 60 anos

José Guilherme Henriques dos Santos, médico cardiologista e legista do IML de Belém, no Pará. Morreu aos 60 anos
Assim como inspirou vários jovens do país, José Guilherme foi inspirado por um médico de Belém quando tinha 13 anos. Na ocasião, José tinha caído de uma árvore em sua casa e se acidentado feio. A maioria dos médicos foi categórica: “Vamos ter que amputar o braço dele”, diziam aos pais do garoto, que eram portugueses. Apenas um disse que não era preciso e que tentaria de tudo para salvar o braço de José. A tentativa deu certo, ele se curou e não precisou amputar nenhum membro. Nascia ali o sonho do futuro pai de quatro filhos de se tornar médico.

José então se especializou em cardiologia e também passou a trabalhar no Instituto Médico-Legal de Belém. Em sua trajetória fez inúmeras consultas de graça para conhecidos e familiares. O ato de bondade era um pacto que tinha feito com Deus ao se formar na faculdade. Além disso, José era o brincalhão da turma. “Desde que eu me lembro por gente, ele sempre foi a pessoa que fazia piada para tudo e qualquer momento. Não tinha uma pessoa para quem ele não contava piada”, relembra a filha, Isabela Henrique.

José também era conhecido por sua boa memória futebolística. Sabia as escalações e os placares de todos os jogos do Paysandu, Flamengo e Palmeiras. Para ele, família era algo sagrado. Não só de sangue, os “agregados” também eram família. Talvez tenha sido por isso que ele considerava seus dois enteados como filhos. José não gostava de jaleco e muito menos que o chamassem de doutor.

A trajetória de José foi interrompida em 10 de maio, quando morreu por COVID-19. A suspeita da família é que ele tenha sido contaminado durante o trabalho no IML. Os sintomas já vinham desde antes, mas ele insistiu em não ser intubado. Nos últimos cinco dias não foi mais possível segurar, ele foi para o hospital e lá morreu. Agora, José Guilherme encontrará um de seus quatro filhos.

Sérgio Moreira, o dr. Sérgio, tinha 68 anos e morreu em 10 de maio, em São Paulo

Sérgio Moreira, o dr. Sérgio, tinha 68 anos e morreu em 10 de maio, em São Paulo
O juramento de Hipócrates (grego, 460 a.C - 370 a.C) é feito pelos estudantes de medicina no dia da formatura. O médico Sérgio Moreira, clínico geral que trabalhava no plantão de vários hospitais em São Paulo (SP), levou até o fim da vida, aos 68 anos, o compromisso de exercer a profissão de forma honesta, ressalta seu irmão, o analista de sistema Luiz Carlos Moreira, residente na capital paulista.
Solteiro e sem filhos, dr. Sérgio, como era conhecido, foi vítima da COVID-19, ficando internado de 28 de abril ao falecimento, em 10 de maio. Passou por por todo sofrimento que o novo coronavírus impõe a suas presas, como a intubação. “Ele fez seu juramento e o cumpriu. Gostava demais da medicina, de atender a população, os mais pobres... completou sua missão”, afirma Luiz Carlos.

De uma família de sete irmãos, o dr. Sérgio gostava muito da natureza, de ir para o seu sítio, de viajar bastante. Quando ficou doente, começou a se tratar de forma mais natural até o ponto em que, vendo que não tinha mais jeito, “pediu socorro e foi para o hospital”. Os médicos, assim como a população, vivem um momento muito difícil, no meio de “uma guerra de políticos”, acredita Luiz Carlos. “Acho que a maior lição deixada pelo meu irmão é o atendimento aos pobres, independentemente da cor e camada social.

Maria Aparecida Duarte, a Cidinha, era auxiliar de enfermagem em Carapicuíba (SP) e morreu dois dias após completar 63 anos

Maria Aparecida Duarte, a Cidinha, era auxiliar de enfermagem em Carapicuíba (SP) e morreu dois dias após completar 63 anos
"A doença tirou nosso alicerce, nossa estrutura." É com o sentimento de dor extrema e voz abafada pelas lembranças do sofrimento, que a analista de atendimento Andreza Silva Costa Reina, de 34 anos, fala sobre a perda da mãe, Maria Aparecida Duarte, a Cidinha , que trabalhava como auxiliar de enfermagem no Pronto- socorro Municipal de Carapicuíba, em São Paulo.

Com família numerosa – quatro filhos, 20 netos e três bisnetos – e 30 anos de profissão, Cidinha morreu em 3 de maio, vítima de COVID-19, dois dias após completar 63 anos. “Estava perto do Dia das Mães... ainda está difícil entender toda essa situação, pois minha mãe era uma pessoa muito dedicada ao trabalho, embora estivesse com muito medo de contrair a doença”, conta Andreza, a caçula. “O problema maior foi que, aqui em São Paulo, por decreto estadual, os profissionais de saúde não puderam se ausentar do trabalho. Minha mãe foi até onde pôde.”

Cidinha, que tinha diabetes e pressão alta, ficou 18 dias internada, dos quais 17 intubada “até não suportar mais”. A filha faz uma pausa e destaca que a mãe era apaixonada pela vida, gostava de viajar, de estar sempre com a família.

“Vivemos um período muito difícil, pois, a partir da doença da minha mãe, 80% da nossa família testou positivo para o novo coronavírus. Tive a doença e fiquei internada sete dias. Quando minha mãe morreu, eu estava no hospital. Meu irmão de 39 anos também ficou internado em isolamento durante 32 dias. Sofremos duas vezes. Agora, pelo menos, estamos mais tranquilos. Fica a grande saudade.”

Nicolares Osório Curico, chamado de Nicolas, era técnico de enfermagem em Manaus (AM) e morreu em 14 de abril, aos 46 anos

Nicolares Osório Curico, chamado de Nicolas, era técnico de enfermagem em Manaus (AM) e morreu em 14 de abril, aos 46 anos
Desde 14 de abril, os dias se tornaram noite e as noites totalmente insones para Deizeane Romão de Souza, residente em Manaus (AM). “Há momentos em que fico desesperada”, diz a viúva, ainda não acostumada com ausência de Nicolares Osório Curico, que tinha 46 anos, era técnico de enfermagem havia 15 anos e se tornou vítima da COVID-19.

Nossa filha pequena, de 4 anos, sempre pergunta: ‘Mamãe, será que o papai não vai voltar? Cadê o papai?’. Expliquei que ele está com Jesus, mas eu mesma fico esperando um telefonema do hospital, alguém para dizer que houve um equívoco e Nicolares não morreu. Mas já se passaram quase dois meses.”

Um raro momento de alegria, embora permeado pela emoção, ocorreu com uma homenagem à memória de Nicolares, nascido na Colômbia e registrado na cidade fronteiriça de Santo Antônio de Sá (AM). O local de trabalho, o Serviço de Pronto-Atendimento (SPA) São Raimundo, estadual, deu o nome dele a uma sala. “Fiquei feliz, mas a ficha não caiu até hoje”, desabafa.

O calvário da família começou quanto Nicolares teve pneumonia. Foi ao médico, depois tomou a vacina contra a gripe, mas, com o passar dos dias, teve febre alta e falta de ar.

Depois, Nicolares tomou os medicamentos prescritos, foi trabalhar e ficou doente, até que passou oito dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital da capital amazonense. “Ele comentou um dia: ‘Será que estou com essa doença?’”, recorda-se.
As lembranças estão muito fortes, e Deizeane procura pontuar a entrevista com bons momentos, quando a família saía para passear. “Era um bom homem, saudável, forte, que gostava de caminhar. Não tenho dúvida de que foi infectado no trabalho, pois trabalhavam só com máscara”.

Alan Patrick do Espírito Santo, morreu aos 38 anos num hospital de campanha em Volta Redonda (RJ)

Alan Patrick do Espírito Santo, morreu aos 38 anos num hospital de campanha em Volta Redonda (RJ)
Transformar o luto em luta, a dor em trabalho e a tristeza em solidariedade. Mesmo com o coração dilacerado, Regina Evaristo, moradora do Bairro Grajaú, na Zona Norte do Rio de Janeiro, tomou essa forte e emocionada decisão diante da perda do filho Alan Patrick do Espírito Santo.

Natural de Campos (RJ), casado e pai de Emily, de 9 anos, ele morreu aos 38, em 22 de abril, num hospital de campanha em Volta Redonda (RJ). Para a mãe “afetiva” do técnico de enfermagem, a grande lição que ficou passa pela fraternidade: “Quem ama de verdade vai continuar amando, e quem não ama vai se destruir. Com essa pandemia do novo coronavírus, precisamos de fraternidade”.

Há 11 anos, juntamente com o filho Alan, Regina criou a organização não-governamental Alea - Associação Leonora Evaristo de Almeida, em homenagem a sua mãe e com o objetivo de lutar contra a violência doméstica. Agora, ela aumenta o raio de ação e passa a atuar no socorro às famílias necessitadas e no alvo da doença, distribuindo cestas básicas, EPIs (equipamentos de proteção individual) e, de braços abertos, gestos de carinho.

Mineira de Visconde do Rio Branco, na Zona da Mata, e há 38 anos residente no Rio, Regina conta que teve três filhos biológicos e uma dezena de filhos do coração. Com voz firme, revela que Alan, também taxista, tinha espírito altruísta. “Fazia corrida de graça, curativo em pessoas na rua. Estava sempre disposto a melhorar este mundo.”
A agonia do técnico de enfermagem comecou em 7 de Abril, no Rio, quando se sentiu mal e foi para o Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, no qual trabalhava no acolhimento aos pacientes. O último destino foi Volta Redonda. “Meu caminho é seguir e continuar a luta que era também dele”, ressalta Regina.

Cliciane Ferreira Fochesatto, era médica em Fonte Boa (AM) e morreu em 9 de maio, aos 38 anos

Cliciane Ferreira Fochesatto, era médica em Fonte Boa (AM) e morreu em 9 de maio, aos 38 anos
Ainda que com 38 anos, Cliciane tinha apenas um de carreira. Natural de Porto Velho, em Rondônia, e filha mais velha entre três, ela se mudou para Nova Mamoré, quase na fronteira com a Bolívia.

Por lá, Cliciane criou sua filha, Maria Luiza, até 2012, quando decidiu ir atrás de seu sonho. Com 30 anos, atravessou a fronteira, cruzou a Bolívia e foi estudar medicina em Cobija, a quase 120 quilômetros do Peru – até então, ela trabalhava na serraria de seu pai.

A então estudante de medicina ficou seis anos na Bolívia e conseguia ver a família pouquíssimas vezes ao ano. Depois que formou, Cliciane conseguiu chegar um pouco mais perto da família. Agora, ela fazia o internato em Riberalta, também na Bolívia, mas a 141 quilômetros da filha. Em 6 de maio de 2019,  dia em que recebeu o diploma de médica, Cliciane também recebeu a notícia mais triste de sua vida: a mãe havia morrido. O choque foi grande e, em agosto, ela voltou para Nova Mamoré. Lá, ao lado da filha, mostrou-se mais uma vez a mãezona que era.

"A Cliciane mãe era maravilhosa, era muito protetora e amiga. Parecia mais uma melhor amiga que uma mãe, ela sempre foi muito amorosa com todo mundo", diz a filha de apenas 14 anos e que se lembra das macarronadas e das tortas da mãe. Cliciane também adorava o cantor Gusttavo Lima e dançava Ninguém estraga com o sorriso no rosto.

Mas a mais nova médica não podia parar. Em 13 de agosto, foi mais uma vez em busca de seu sonho: o destino agora era Fonte Boa, no Amazonas. Por lá ficou oito meses, até que, assim como a maioria das colegas, foi contaminada pela COVID-19. A família até tentou transferi-la para Manaus, mas Cliciane morreu no helicóptero. A médica que orgulhou a família morreu 1 ano e três dias depois da mãe.

Gastão Dias Júnior, o dr. Gastão, catarinense de 51 anos, era pediatra e morreu em 22 de abril

Gastão Dias Júnior, o dr. Gastão, catarinense de 51 anos, era pediatra e morreu em 22 de abril
As lágrimas que rolam na face do jornalista Richard Rodrigues, de 37 anos, ainda estão quentes pela saudade, espessas pelo tempo de convívio e, acima de tudo, marcadas pelo amor. Durante quase 14 anos, ele compartilhou a vida com o pediatra catarinense Gastão Dias Júnior, que teria completado 52 anos na sexta-feira (12), não fosse a morte pela COVID-19, num hospital de Balneário Camboriú (SC). Os dois tinham união estável e se conheceram quando o médico foi trabalhar, há 20 anos, em Manaus (AM), capital onde nasceu e morava o jornalista.

“Meu marido foi a melhor pessoa que eu poderia ter conhecido no mundo. Era um homem bom, querido pelos seus alunos, na Universidade do Vaje do Itajaí (Univale), admirado pelos pais das crianças que atendia, e o chamavam de super-herói, e sempre muito presente na família”, conta Richard que, neste período de luto, está acolhido na casa da sogra, em Itapema, no litoral de Santa Catarina. “Ficou um vazio imenso, mas vou tocando a vida. Me sinto um pouco anestesiado até agora.”

Além de lecionar na universidade, dr. Gastão trabalhava em hospitais e centros de saúde. Ele “foi embora”, conforme diz Richard, 22 dias após ser internado com os sintomas da doença provocada pelo novo coronavírus. “Cumpriu uma bela missão, pois tinha paixão pela medicina e em ajudar os mais carentes. Sou muito grato a Deus por tê-lo conhecido.” Uma das lembranças gostosas da vida em comum é que o médico gostava de colecionar tartarugas decorativas.

Num longo e emocionado texto, Richard escreveu: “Aí veio o destino e sacudiu os nossos planos. Você teve que viajar sem mim. Não digo que me abandonou, pois você está em mim. Está nas minhas melhores lembranças, o seu sorriso permanece e vai permanecer sempre na minha mente”.

Mara Rúbia Silva Caceres, morreu no hospital em que trabalhava, aos 44 anos. É considerada o primeiro óbito de um profissional de saúde em Porto Alegre (RS)

Mara Rúbia Silva Caceres, morreu no hospital em que trabalhava, aos 44 anos. É considerada o primeiro óbito de um profissional de saúde em Porto Alegre (RS)
“Quando vejo as pessoas não respeitando a quarentena, se colocando em risco sem necessidade, penso que todas deveriam saber da minha dor de perder uma grande amiga irmã que Deus me emprestou”, desabafa a colega de trabalho de Mara , Sabrina Sousa, de 41 anos.

“Ela era um misto de doçura e força. Amiga generosa que ouvia e sempre ajudava os colegas. Se você conhecesse a Mara em vida, também iria amá-la”. As duas técnicas de enfermagem trabalhavam juntas no Grupo Hospitalar Conceição (GHC), em Porto Alegre (RS).

Segundo a amiga, o propósito de Mara era ter um filho fruto do casamento que já durava aproximadamente 20 anos. Mas, em 7 de abril, a COVID-19 interrompeu esse sonho. “Por isso que ela era mãe de todos. Amigos, pacientes...”, acredita Sabrina. Elas se conheceram em maio de 2013, quando Sabrina foi efetivada para trabalhar na UTI do hospital. “Ela foi uma das minhas madrinhas. Me ensinou muito além das rotinas da UTI. Me ensinou como em meio a toda correria, a olhar o paciente como um ser único,  com carinho e dedicação”, conta.

Sabrina lembra que nessa época, Mara Rúbia era funcionária “temporária” e sempre estudava pra conquistar melhor posição no concurso e ter uma vaga definitiva no hospital. “Naquele ano ela fez o concurso para serviços gerais, para se manter no GHC, que era o amor dela, como ela mesmo dizia que tinha uma dívida de gratidão”, recorda Sabrina. Sem desistir dos objetivos, Mara conseguiu se colocar como técnica de enfermagem no concurso de 2015 e começou a atuar no setor de emergência.

Dona de uma culinária apetitosa e de uma alegria ao alimentar as pessoas, Mara Rúbia se eternizou nos corredores do ambiente de trabalho que ela se sentia em casa. “Semana passada sonhei com ela, que ela estava trabalhando em um hospital. Estava na correria. Perguntei se estava muito corrido o plantão, ela disse que sim, que estavam chegando muitos pacientes. Eu disse: ‘mas tu não estava de férias?’. Ela respondeu daquele jeitinho dela: ‘Eu não paro nunca, porque não sou fraca’”, conta a amiga em tom de alegria ao se sentir próxima mesmo que em sonho.

Maurício Barbosa Lima, era médico endocrinologista no Rio de Janeiro (RJ) e morreu em 1º de maio, aos 78 anos

Maurício Barbosa Lima, era médico endocrinologista no Rio de Janeiro (RJ) e morreu em 1º de maio, aos 78 anos
Maurício foi daqueles professores cujos ensinamentos extrapolam as salas de aula e os consultórios médicos. Ajudou a formar centenas de especialistas pelo Brasil e, mais do que isso, deixou sua marca em cada um deles. “Ele fez a diferença onde passou”, conta, emocionada, Olga Grincenkov, ex-aluna e amiga de mais de quatro décadas.

Até o fim da vida - encurtada em decorrência da COVID-19 -, Maurício quis se fazer presente. Aos 78 anos, recusou-se a interromper os atendimentos no Rio de Janeiro (RJ), ainda que integrasse o grupo de risco para a doença. Considerado um dos grandes endocrinologistas brasileiros, nunca se esqueceu do mais importante: o cuidado com o paciente.

Para além dos consultórios e das salas de aula, dedicava-se aos três filhos, à esposa e aos amigos com similar afinco. “Em 2004, fui vítima de um acidente muito grave: um caminhão caiu no meu carro. Mais uma vez, o Maurício mostrou a que veio para esse mundo. Foi ele quem conseguiu uma vaga no CTI (Centro de Terapia Intensiva) para mim. Soube que eu tinha sofrido um trauma e se empenhou para que eu fosse atendida - e bem atendida”, relembra Olga.

Sempre disponível para os amigos, Maurício não recusava uma boa conversa sobre futebol. Tricolor apaixonado, certamente se empolgaria ao saber do retorno do ídolo Fred ao Fluminense e relembrar os áureos anos de 2010 e 2012.

Maurício Naoto Saheki, de 41 anos, era infectologista e morreu em 4 de maio, no Rio de Janeiro

Poucos dias antes de contrair a doença que cruelmente lhe tiraria a vida aos 41 anos, Maurício transformou a angústia em versos de esperança. “E se a cada dia, estamos totalmente presentes e engajados… Se a cada dia adicionarmos um pouco de criatividade, um pouco de amor a tudo o que fazemos. Essa é uma ótima maneira de viver”, escreveu, em poema que enviaria a uma amiga.

Tímido, determinado e, por vezes, teimoso, ele tinha uma “bondade solar”. Sempre foi daqueles que não se deixam escapar os direitos de sonhar e crer, ainda que nos mais adversos cenários. Nas palavras, encontrava refúgio e tornava concreto cada gesto terno que o caracterizava nas relações com a esposa Danielle, o restante da família e a medicina. “Mesmo diante de um cenário de tristeza, conseguia manter o olhar para a beleza e para a compaixão”, lembra a irmã Lina Saheki.

O amor pela profissão que escolheu apareceu logo cedo, quando ainda era criança. “A lembrança familiar desde sempre era a de que o sonho do Maurício, aos 10 anos, era ganhar um Nobel de Medicina, enquanto o meu era ser super-heroína”, conta Lina. “Ele dizia ter escolhido a infectologia porque era o caminho mais curto para ajudar a curar o maior número de pessoas doentes”, diz.

Durante a luta contra a COVID-19, Maurício, que, nas palavras de colegas de trabalho, nunca deixava de crer na recuperação de um paciente, acreditou até o fim. Agora, faz-se presente: por meio dos versos que escreveu e das pessoas que amou.

Cláudio Antônio Figueiredo Reis, o dr. Cláudio, ginecologista e obstetra, de 62 anos, morreu em 6 de maio, em Belém (PA)

A esperança do engenheiro civil Gustavo Pinheiro Reis, de 36 anos, era ver o pai saindo do hospital aplaudido, vitorioso, de volta para a casa em Belém (PA), a exemplo de muitos brasileiros de outras terras. Mas a COVID-19 foi mais forte e, em 6 de maio, o ginecologista e obstetra paraense Cláudio Antônio Figueiredo Reis, de 62, perdeu a vida após 15 dias de internação. Nesse período no hospital, ele teve uma melhora, depois piorou, foi entubado, e não resistiu.

Casado com dona Nancy, pai de dois filhos e à espera do terceiro neto, o dr. Cláudio, como era conhecido, tinha um pedido especial da família: fazer o parto da nora para chegada do futuro integrante da família. "Ele também queria muito participar, este ano, do Círio de Nazaré, em outubro. Mas nem sei se vai acontecer este ano", diz o engenheiro. Considerado um dos maiores eventos religiosos do mundo, o Círio chega a reunir 2 milhões de pessoas para saudar a Rainha da Amazônia, Nossa Senhora de Nazaré.

Os últimos dias têm sido tristes para a família, pois dr. Cláudio, segundo Gustavo, tinha o espírito brincalhão, alegre, e via como um dos maiores prazeres desfrutar da casa na praia fluvial de Mosqueiro. ""Gostava de trabalhar, mas de curtir a vida". Há dois anos, o médico sofreu um acidente vascular cerebral isquêmico, interrompeu as atividades por um tempo, e depois foi trabalhar em postos de saúde da rede estadual.

Numa iniciativa exemplar, o Sindicato dos Médicos do Pará criou um memorial para homens homens e mulheres que escolheram a medicina como ofício e perderam a vida salvando vidas. Dr. Cláudio está na lista."Ele nos deixou grandes lições. Era um paizão, companheiro e muito amigo", destaca Gustavo.

Maria Eliza Oliveira Andrade, a Bila, técnica de enfermagem que morreu em Montes Claros, aos 56 anos

“Ela deu a  vida para salvar vidas”. Assim afirma o produtor rural Nelson Belém de Oliveira, de 67 anos, ao falar da irmã, a técnica de enfermagem Maria Eliza Oliveira Andrade, a Bila, que morreu em decorrência da COVID-19, após ter contraído a doença no trabalho, na Santa Casa e Hospital Nossa Senhora da Guia, em Capitão Enéas, no Norte de Minas. Ela morreu no Hospital das Clínicas Mário Ribeiro, em Montes Claros, na mesma região, em 1º de junho, a três dias de completar 56 anos.

Dona Bila, como era conhecida, era muito querida em Capitão Enéas, cidade de 14,2 mil habitantes, onde foi sepultada. O cortejo foi acompanhado por uma grande carreata, da entrada da cidade ao cemitério local. Moradores prestaram homenagem lançando flores em direção ao veiculo que levava o caixão.

A Prefeitura de Capitão Enéas vai dar nome de Bila a um laboratório de unidade de saúde da cidade. “Sempre foi muito prestativa, não somente para a família, mas todas as pessoas”, afirma o irmão da técnica de enfermagem. Integrantes de uma família de oito irmãos, Maria Eliza deixou três filhos.

A técnica de enfermagem trabalhava na Santa Casa e Hospital Nossa Senhora da Guia havia 35 anos, onde era muito querida entre os colegas, que a consideravam uma “mãezona”. Ela contraiu a doença na primeira quinzena de maio, ao atender a um paciente que testou positivo para o novo coronavírus no hospital.

No começo da pandemia, Maria Eliza foi orientada pelos colegas a se afastar do trabalho, pois era hipertensa e fazia parte do grupo de risco. “Mas ela se recusou. Disse que tinha feito um juramento e que iria cuidar das pessoas”, relata a enfermeira Mara Fagundes Soares Alves, que trabalhou com Bila. O ex-diretor da Santa Casa de Capitão Enéas Gilson Farias dos Santos relata que Bila se dedicava tanto à profissão e aos pacientes, que comparecia ao hospital para atender alguma emergência, caso fosse preciso.

A voz do coração por trás do estetoscópio

Deixar uma bolsa de estudos no Canadá para servir ao país de origem em meio à pandemia do novo coronavírus. Desde que tomou essa decisão,  Ana Luiza Valle Martins , de 30 anos, salva vidas diariamente. Lamenta também aqueles que não conseguem vencer a batalha. Muitas dessas impressões vão parar no Instagram, no qual a médica publica textos sobre a rotina exaustiva em centros de terapia intensiva e também na linha de frente como emergencista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Belo Horizonte.

Apesar da vocação, nada podia prepará-la, ao se formar na profissão com que sempre sonhou, para o quadro que enfrentaria cinco anos depois. Em um dos posts no Instagram, feito ainda no início da pandemia no Brasil, ela compara o inimigo que o planeta enfrenta a uma espécie de apocalipse. “Mas não é uma série, não é um livro de história. É a realidade que o mundo inteiro vive hoje”, relata. Em outra publicação, a médica revela o contraste de sentimentos entre a alegria do salvamento de um paciente que se recupera bem da COVID-19 e a tristeza do primeiro atestado de óbito que assinou tendo a doença como causa da morte.

A conta de Ana Luiza no Instagram @annitchas também expõe os dilemas pessoais que se escondem por trás de todo o aparato de proteção e do controle que precisa demonstrar diante dos pacientes.

“A primeira vez de se paramentar, o primeiro macacão branco, quente, desengonçado, a touca, a máscara que fere as bochechas e o nariz, os óculos que embaçam, luva, duas luvas”, escreveu ela, sobre a rotina de se vestir para trabalhar. E não escondeu a angústia com a própria segurança, do ser humano que habita a profissional de saúde: “O coração aflito esperando o próximo paciente. (...) Todo dia, será que tô contaminada? Tô imune? Já peguei? Vou passar pros meus? Melhor dormir longe de casa...”.

Tanta angústia e preocupação não poupou a chegada dos 30 anos – claro, sem festa. A comemoração se resumiu a um pouco mais de proximidade que se permitiu com a família. “Esta semana fiz 30 anos, e em quase um mês foi a primeira vez que cheguei um pouco perto dos meus pais, sem abraçá-los”, revelou a médica em sua conta no Instagram.

Em janeiro, Ana Luiza Valle Martins havia dado uma pausa na carreira, ao conseguir uma bolsa de estudos no hospital canadense Toronto General. Se fosse seguir o planejamento, o retorno ao Brasil ocorreria em maio. Mas, quando ficou sabendo da pandemia, tudo mudou. “Larguei meu curso no Canadá na metade. Não tinha como ficar lá, vendo tudo acontecer e sem estar no meu país para lutar aqui”, conta a médica.

Depois de voltar, em março, ela passou a trabalhar em centros de terapia intensiva de três hospitais em Belo Horizonte, um da rede privada e dois públicos, entre eles o Eduardo de Menezes, referência para casos de COVID-19, além do Samu. Hoje, atua como médica horizontal. Isso significa ir todos os dias ao CTI, discutir casos de pacientes, tomar decisões em conjunto com plantonistas e fazer boletins médicos. Ela explica que todo CTI tem um chefe (coordenador) e subcoordenadores (conhecidos como horizontais) – geralmente dois para cada centro de 20 leitos. “Nossa especialidade – ‘intensivista’ – está sendo mais conhecida agora”, disse.

Na Saúde estadual, Ana Luiza é originalmente contratada da Rede Fhemig pelo Hospital João XXIII. Com o aumento de casos de infectados por coronavírus, precisou assumir mais uma função no Eduardo de Menezes. A agenda quase sem tempo livre cobra que ela seja multipresencial. “De manhã em um (hospital), à tarde em outro. Tem dia que tenho que ir aos três hospitais”, conta a intensivista, ao relatar que o volume de trabalho aumentou após a chegada do novo vírus.

"Fiquei muito preocupado, tenso e com medo de precisar ser internado, ter que ir para a terapia intensiva e de ser intubado. Sei o quanto é agressivo". Davidson Coelho, enfermeiro em Betim e no Hospital São Lucas, em BH, que ainda se recupera da COVID-19, mas já voltou a trabalhar

"Fiquei muito preocupado, tenso e com medo de precisar ser internado, ter que ir para a terapia intensiva e de ser intubado. Sei o quanto é agressivo". Davidson Coelho, enfermeiro em Betim e no Hospital São Lucas, em BH, que ainda se recupera da COVID-19, mas já voltou a trabalhar

De volta ao front

“Faz parte do ofício, é um risco que a gente assume inerente da profissão”, declara Davidson Coelho , de 36 anos, enfermeiro do Centro de Especialidade de COVID-19, em Betim, e do Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital São Lucas, ao comentar sobre os casos de médicos e enfermeiros contaminados pelo novo coronavírus, em meio à pandemia que afeta o Brasil e o mundo. Coelho é um dos profissionais da linha de frente do combate ao vírus a testar positivo para a doença em Minas Gerais.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), embora não haja índices referentes a médicos e enfermeiros infectados, estes podem estar mais suscetíveis ao contágio de COVID-19, a considerar a relação de proximidade com os pacientes. “Os profissionais de saúde entram em contato com os pacientes com mais frequência do que o público em geral. A agência recomenda o uso sistemático de medidas apropriadas de prevenção e controle de infecções”, informa a entidade.

E é justamente por manter contato com pacientes contaminados que Coelho acredita ter se infectado. O enfermeiro conta que, em 29 de abril, percebeu os primeiros sintomas, como tosse, febre e coriza, também sinais de resfriado e gripe. Naquele instante, o profissional relata ter suspeitado de, na verdade, estar com COVID-19.
“Nunca gripei e/ou tive febre. Além do mais, todos os anos tomo a vacina para H1N1, e trabalho na linha de frente do atendimento às vítimas da doença. Então, achei muito estranho, e um alerta se acendeu. Pensei mesmo que poderia estar infectado pelo novo coronavírus. Quando anoiteceu, percebi que estava com perda de olfato e paladar, sinais característicos de COVID-19.”

Na manhã do dia seguinte, Coelho procurou atendimento médico e realizou o exame de Swab, que consiste na coleta de materiais microbiológicos para análise clínica, e foi afastado de sua função. “Imediatamente, liguei para a minha mãe para avisá-la que estava com suspeita de contaminação, e ela começou a chorar desesperada. Ela já achava que eu estava condenado à morte. Foi então que eu expliquei para ela que não é todo paciente que tem quadro grave da doença e que nem todos precisavam se internar, tendo, inclusive, pessoas que são assintomáticas.”

A mãe do enfermeiro se acalmou, e ele também, já que não tem comorbidades. O profissional conta, ainda, que precisou ficar isolado e se sentiu aliviado por morar sozinho e não precisar procurar por um novo lar durante a quarentena a qual foi submetido.

Em 1º de maio, três dias antes do resultado do exame ser divulgado, Coelho teve um agravamento do quadro, que evoluiu para dispneia e batimento aleta nasal. Procurou o pronto atendimento, onde foi constatado que não havia variações significativas em seu caso, sendo liberado com prescrições médicas. “Fiquei muito preocupado, tenso e com medo de precisar ser internado, ter que ir para a terapia intensiva e de ser intubado, porque, apesar de trabalhar na terapia intensiva há muito tempo, sei o quanto é agressivo. Cheguei a sentir dores de barriga, mas sem saber se por causa da tensão ou mesmo pela doença.”

Em 4 de maio, o resultado do teste apontou o que já era esperado pelo enfermeiro: positivo para COVID-19. “Então, tentei me tranquilizar, me apeguei à minha espiritualidade, o que me ajudou muito, e contei, é claro, com o apoio da minha família e dos meus colegas.” O profissional conta que aos poucos começou a se sentir melhor, e que em 7 de maio já não tinha sintoma algum, exceto para a ausência de olfato e paladar. “O paladar até que eu já consigo sentir e diferenciar os gostos um pouco, mas o olfato ainda não voltou, não sinto cheiro de nada. No entanto, de acordo com estudos, pode demorar mesmo para que volte ao normal.”

Tensão na linha de frente

São chamados heróis. É como a população entende o trabalho de profissionais de saúde durante a pandemia. Estão na linha de frente, mas, ainda que pareça, não são invencíveis. Também se cansam, têm medo, depressão, ansiedade e, por vezes, necessitam de ajuda para vencer as dificuldades diárias no atendimento aos infectados pelo novo coronavírus. Nesse ponto, o apoio da família não pode faltar, até mesmo para que a situação não fique mais grave do que o próprio ofício demanda. "Os familiares têm importância primordial para que o profissional de saúde não desista e não adoeça mentalmente. A compreensão e a adaptação são fundamentais", diz a psicóloga Adriana Cabana, do grupo Prontobaby.

Sejam médicos, enfermeiros, técnicos ou auxiliares, profissionais na ponta da luta contra a doença acabaram apresentando sinais de depressão e outros transtornos psíquicos. É o que aponta pesquisa da Escola de Medicina de Zhejiang, na China. Como explica a psicóloga, a família pode contribuir para amenizar a tensão emocional desses agentes de saúde. "O papel da família é de extrema importância neste momento, pois, além da pressão psicológica da rotina hospitalar, existe o risco de contaminação e de levar a doença para casa. A família precisa entender e se adaptar à rotina desse profissional e ser compreensiva, evitando que ele se sinta solitário e isolado em sua própria residência."

Conforme o levantamento, esses trabalhadores têm chance até 95% maiores de desencadear depressão e necessitar de suporte e intervenções psicológicas. Adriana destaca que os primeiros sinais de que algo não vai bem em relação à saúde mental são insônia, tristeza, falta de vontade de ir trabalhar, cansaço extremo, estresse e ansiedade. "A depressão é uma doença com inúmeras nuances e sintomas, e o primeiro passo é saber identificar se algo está atrapalhando a sua rotina diária. Se sim, procure ajuda de um profissional", acrescenta, lembrando que o Conselho Federal de Psicologia liberou o acesso à psicoterapia on-line, um bom recurso para o momento em que os encontros presenciais estão limitados.

A psicóloga orienta ainda que o profissional da saúde desfrute algum tempo do dia com a família, em vez de emendar um plantão atrás do outro. Ela sublinha a importância desses momentos de folga, já que o descanso do corpo e da mente diminui o estresse do dia a dia. Para relaxar nas horas vagas, uma dica é não fazer nada que tenha relação com o trabalho e procurar se desligar da realidade da pandemia. Reservar um tempo para fazer coisas agradáveis, como ler livros, cuidar do animal de estimação e praticar atividades físicas.

O exercício profissional em tempos de pandemia exige uma disposição física e mental muito maior do que em tempos normais. É o que salienta Bruno Alexandre Ferreira, psicólogo da rede de hospitais São Camilo, em São Paulo, epicentro do problema no Brasil. Ele integra grupo de especialistas que oferecem apoio psicológico e emocional internamente ao corpo médico. O psicólogo diz que o nível de energia, física e psíquica investida por esses profissionais são maiores e, se não monitorado, leva à exaustão. "Isso ocorre devido à alta demanda de casos graves, preocupação com a contaminação (de si e familiares) e com o sofrimento vivenciado juntos aos pacientes."

Na unidade, foi concebida uma rede de apoio multiprofissional para realização de ações de descompressão, em função da pandemia. Essa rede conta com psicólogos, pedagogos, assistentes sociais, médicos e enfermeiros. "Esse suporte é muito importante, pois dar atenção aos aspectos emocionais e cuidar de si contribuem para aliviar a tensão e toda a ansiedade que acompanha o profissional neste momento", afirma Bruno Alexandre.

Os sentimentos vivenciados durante um plantão em tempo de pandemia são os mais variados: medo e dúvidas. Na opinião do psicólogo, hoje os gestores de saúde têm um grande desafio em relação aos seus colaboradores. "É preciso considerar a situação atual e oferecer espaço de cuidado de si, acolhimento, dimensionando os plantões com o intuito de contribuir positivamente para o enfrentamento desse momento difícil para todos. É preciso parar, reavaliar as circunstâncias, conhecer os próprios limites, buscar apoio. Se preciso, procurar ajuda psicológica a fim de restabelecer as energias físicas e psíquicas", salienta.

"Lutamos junto com os pacientes. Nos conforta saber que nossa entrega ao trabalho pode salvar vidas". Juliane Olivares, coordenadora de enfermagem do centro de tratamento da COVID-19 da rede São Camilo, em São Paulo

"Lutamos junto com os pacientes. Nos conforta saber que nossa entrega ao trabalho pode salvar vidas". Juliane Olivares, coordenadora de enfermagem do centro de tratamento da COVID-19 da rede São Camilo, em São Paulo
Para a coordenadora de enfermagem do centro de tratamento da COVID-19 da rede de hospitais São Camilo, em São Paulo, Juliane Olivares, quando os primeiros casos de contaminação com o coronavírus surgiram, ela sentiu medo e insegurança por não ter o domínio da situação. Era tudo muito recente e novo. "Temos aprendido diariamente, choramos com as perdas e comemoramos as vitórias. Lutamos junto com os pacientes. Nos conforta saber que nossa entrega ao trabalho pode salvar vidas."

Ela lembra que cada paciente é importante – ali tem uma mãe, um pai, uma avó ou um avô, um filho, o amor de alguém, em suas palavras. "Muitas vezes somos chamados de anjos, mas somos profissionais com coração, dedicados ao que fazemos. E ver o olhar de amor de um familiar para um paciente com a esperança estampada no rostos deles, não tem preço."

Para Juliane, estar todos os dias sob vigilância contínua, muitas vezes por seis ou 12 horas ininterruptas, além da apreensão em executar tudo milimetricamente correto para o bem do paciente, com o cuidado de também não se contaminar, causa estresse, angústia, medo e incerteza. "A perda de um paciente é sempre um sentimento de fracasso."

Afastada do convívio com a família, por precaução, a enfermeira não fica tímida em dizer que, às vezes, é preciso chorar, desabafar, respirar fundo. "Entendemos nosso papel e a importância de seguirmos em frente." Em momentos de tensão, ela procurou atendimento psicológico na própria instituição. "A psicóloga foi gentil e delicada ao me ouvir. É uma demanda que antes da pandemia não existia. É muito bom ver que temos profissionais de outras áreas engajados a nos apoiar, para aliviar as dores da alma e do coração." Foram criados grupos de conversa com a condução dos psicólogos, para que os profissionais possam compartilhar suas angústias e tristezas. "Uma abertura para chorar livremente pelo afastamento social a saudade da família, a perda dos pacientes, o medo por nós mesmos e o medo por nossos colegas."

Em defesa da vida

Manifestos são realizados por profissionais de saúde do mundo inteiro, solicitando que as pessoas fiquem em casa, para que estes possam se dedicar a cuidar de todos. É o que relatam as enfermeiras Raquel Sakamoto e Gabriela Teixeira Bontempo, da startup Cuidas. Elas fazem questão de dizer que profissionais de saúde não defendem visões políticas, mas sim a ciência, a vida de todas as pessoas e também temem pela própria vida e de seus familiares, já que correm mais risco de contágio do que a população em geral. Enquanto parte do grupo fundamental no enfrentamento à pandemia, Raquel e Gabriela dizem que reconhecem e sentem também a preocupação com a economia, por cada pessoa que atendem, cada dificuldade, cada dor, mas também a própria dor.

"Entendemos que se as pessoas não pararem para cuidar de sua saúde, uma hora terão que parar para cuidar da doença. A nossa demanda de atendimentos remotos aumentou muito e estamos lidando com outros problemas de saúde que este momento gera: ansiedade, angústia, depressão, problemas de saúde mental. Grande parte da nossa rede de amigos são profissionais de saúde e estamos muito preocupadas com nossos colegas e com os riscos a que estão expostos."

Protocolos de segurança

O médico infectologista Guenael Freire trabalha no Hospital Nossa Senhora de Lourdes, em Nova Lima, na Grande BH, na linha de frente do combate ao coronavírus. Ele fala sobre alguns aspectos que têm gerado ansiedade e estresse entre os profissionais. Para Guenael, o primeiro momento de pressão aconteceu na hora de definir protocolos de biossegurança para tratar com o agente de saúde – entende-se médicos, enfermeiros, e demais envolvidos no tratamento.

No hospital, outra dificuldade foi conseguir equipamentos de proteção individual (EPIs) e respiradores, ideais para quem se tenha uma infraestrutura base para o atendimento aos pacientes. "Tudo isso gera um estresse, e até mesmo indisposição com os colegas. Nem todo mundo compreende o que está acontecendo."

"Nem todo mundo compreende o que está acontecendo". Guenael Freire, médico infectologista

"Nem todo mundo compreende o que está acontecendo". Guenael Freire, médico infectologista
Outro ponto a considerar é a insegurança dos profissionais quanto a serem expostos e contaminados pelo coronavírus. Na lida com os doentes, muitos demonstram ansiedade e medo de contrair a enfermidade, ainda que observando as medidas preventivas. "Estão sempre procurando falhas e pontos de vulnerabilidade, por assim dizer. É uma reação emocional, não racional", diz o médico. Mais uma preocupação é quanto aos familiares – com o receio dos profissionais em serem vetores de transmissão da doença, muitos estão afastados de parentes e amigos. Para ele, uma situação complicada ainda não registrada na capital e entorno é a necessidade de escolher quem vai receber o tratamento com o ventilador ou não, o que agravaria o estado de saúde emocional dos médicos. "Em Natal, por exemplo, o número de pacientes que esperam por um leito de UTI passa de 65."


Nomes divulgados de médicos que faleceram de COVID-19


22/03 - Pedro Di Marco da Cruza , 65 anos, cardiologista, Rio de Janeiro – RJ
25/03 - Diamir Gomes , 74 anos, anestesiologista, Santos – SP
02/04 - Hermes Roberto Radtke , 43 anos, médico radiologista, Fortaleza – CE
03/04 - Nelson Martins Schiavinatto , 80 anos, radiologista, Cianorte – PR
03/04 - Chiang Jeng Tyng , radiologista, São Paulo – SP
04/04 - Alberto Carlos Gamboggi Calastretti , 80 anos, cardiologista, São Paulo – SP
05/04 - Ricardo Antonio Piacenso , cardiologista, Rio de Janeiro - RJ
05/04 - Paulo Fernando Moreira Palazzo , 56 anos, hematologista, São Paulo – SP
05/04 - José Manoel de Melo Gomes , anestesista, Rio de Janeiro – RJ
05/04 - Maria Altamira de Oliveira , 71 anos, proctologista, Natal – RN
08/04 - Ana Cláudia Monteiro , 46 anos, oftalmologista, Divinópolis – MG
08/04 – Claudia Nogueira Cardoso , 56 anos, endocrinologista, Rio de Janeiro – RJ
09/04 – João Batista Marangoni , 65 anos, pediatra, Rio de Janeiro – RJ
10/04 - Adelia Maria Araujo de Almeida Oliveira , pediatra, São Paulo – SP
10/04 - Lúcia Dantas Abrantes , 66 anos, Iguatu – CE
10/04 - Luiz Augusto Chirighini Bicudo , 74 anos ortopedista, Santos – SP
10/04 - José Ruy de Alvarenga Sampaio , cirurgião, São Paulo – SP
11/04 - Jaime Takeo Matsumoto , ortopedista, São Paulo – SP
12/04 - Altamir Bindá , Pneumologista, Manaus - AM
12/04 - Antônio Tadeu Pinto da Fonseca , 66 anos, ortopedista, Rio Claro – SP
12/04 - Kátia Kohler , ginecologista, Santana do Parnaíba - SP
12/04 - Raimundo Ferreira Rodrigues , 75 anos, obstetra, Manaus – AM
12/04 - Antonio Tadeu Pinto da Fonseca , 66 anos, ortopedista, Rio Claro – SP
13/04 - Jorge Mauad Filho , ortopedista, Uberaba – MG
13/04 - Maria de Fátima Castelo Branco , 60 anos, João Pessoa – PB
14/04 - Ernane Avelar Fonseca , 72 anos, ortopedista, Belo Horizonte – MG
16/04 - Carlos Augusto Estorari , 48 anos, Parauapebas – PA
16/04 - Élio César Marson , 52 anos, cirurgião, Mossoró – RN
16/04 – Paulo Sergio Gonzales , 60 anos, Campinas – SP
17/04 – Astolfo Serra , Rio de Janeiro – RJ
17/04 - Celso de Almeida Felício , 68 anos, cardiologista, Rio de Janeiro - RJ
18/04 - Ricardo Vicente da Silva , pediatra, Jundiaí – SP
19/04 - Jayme de Oliveira Júnior , 52 anos, angiologista, Natal – RN
20/04 - Flávio Neves Lima , Castanhal - PA
20/04 - Frederic Jota S. Lima , São Paulo – SP
20/04 - Gilmar Calazans Lima , 55 anos, Ilhéus – BA
20/04 - Fernando Noburo Miyake , 56 anos, clínico geral, Santo André – SP
20/04 - Mauro Roberto dos Santos Guimarães – PA
21/04 - André Fernando Miyake , Santo André – SP
21/04 - Geraldo Gomes da Silva – PA
22/04 - Gastão Dias Junior , 51 anos, pediatra, Balneário Camboriú – SC
22/04 - Nagib Mutran Neto , 62 anos, médico cirurgião, Marabá – PA
23/04 - Elismar Almeida Amador , médico ortopedista e traumatologista, São Paulo – SP
23/04 - José Marcelino Nunes da Silva Júnior , médico do trabalho, Belém – PA
23/04 - Mário Tadashi Komeçu , ortopedista, São Paulo – SP
23/04 - Paulo Affonso Chamma , obstetra, Rio de Janeiro – RJ
23/04 - Sergio Fagundes , cardiologista, Rio de Janeiro – RJ
23/04 - Suzana Aparecida Vital , São Paulo – SP
24/04 - Celso de Almeida Felício , intensivista, Rio de Janeiro – RJ
25/04 - Edson Yukinari Takeda , 55 anos, ortopedista, Mogi das Cruzes - SP
26/04 - Paulo Gonzales , 60 anos – SP
27/04 - Avelar Feitosa , ginecologista, Belém – PA
27/04 - Magna Sandra Gomes de Deus , 61 anos, ginecologista, Niterói - RJ
27/04 - Justino José Lage Neto , anestesiologista - Rio de Janeiro - RJ
27/04 - Luiz Sérgio Peixoto Herthal , Rio de Janeiro – RJ
28/04 - Ana Maria Caldonceli Vidal Sartori , 48 anos, ginecologista, Rio de Janeiro – RJ
28/04 - Edsneider Souza , 42 anos, Vassouras - RJ
29/04 - Helena do Rosário Vieira – PA
30/04 – Paulo César da Silva Saraiva , 65 anos, ginecologista e obstetra, Rio de Janeiro – RJ
30/04 - Rosa Maria Papaléo , 65 anos, anestesiologista e acupuntirista, Recife – PE
01/05 – Darlan Buíssa , 77 anos, pediatra, Rio de Janeiro – RJ
01/05 - Fernando Freire , psiquiatra, São Luís - MA
01/05 - José Guilherme da Silva Tabosa – PA
01/05 - Maria da Graça Barra Valente – PA
01/05 – Maurício Barbosa Lima , endocrinologista, Rio de Janeiro – RJ
02/05 - Sérgio Paulo Almeida Bueno de Camargo , 73 anos, cardiologista, São Paulo – SP
03/05 – Marsel Alencar Seabra , 63 anos, geriatra, Rio de Janeiro – RJ
03/05 - Milton Luiz Ciappina , 72 anos, médico de saúde da família, Paraná – PR
03/05 – Rubens Esquenazi , infectologista, Rio de Janeiro – RJ
04/05 – Aldir Blanc Mendes , 73 anos, Rio de Janeiro – RJ
04/05 - Dennis Rollano Torres , 68 anos, cirurgião geral, Cotia – SP
04/05 – Gilberto Fonseca , anestesista, Rio de Janeiro – RJ
04/05 - Maurício Naoto Saheki , 41 anos, infectologia, Rio de Janeiro – RJ
04/05 - Marcio Rubens de Almeida Ribeiro - PA
04/05 - Raimundo Nonato Costa de Viveiros - PA
05/05 – Rodolfo Walter Garcia Arizmendi , 73 anos, Manaus – AM
06/05 - Claudio Antonio Figueiredo Reis - PA
06/05 – Ramon Pinto Lobo , 60 anos, clínico geral, Jequitinhonha – MG
06/05 - Solon Pereira Lopes Ferreira , de 61 anos, clínico geral, João Pessoa – PB
07/05 – Célia Bastos Pereira , radiologista, Rio de Janeiro – RJ
07/05 – Flávio Rezende Dias , 83 anos, oftalmologista, Rio de Janeiro – RJ
07/05 - Roberto Carvalho Lima - PA
08/05 - Alex Ribeiro Bello , 53 anos, Xinguara - PA
08/05 - Carlos Ronald Correia , Iguatu - CE
08/05 - Hugo Hurtado Valderrama , 63 anos, médico reumatologista, São Paulo – SP
08/05 - Manoel Amaral Maciel - PA
09/05 - Cliciane Fochesatto , Fonte Boa - AM
09/05 - Elivaldo Batista de Souza - PA
09/05 - Josefina Darwich Borges Leal - PA
09/05 - Osmar Seabra - PA
09/05 - Sergio Moreira , 68 anos, São Paulo - SP
10/05 - José Guilherme Henrique dos Santos - PA
10/05 - Ramon Barbosa , 43 anos, Jequié - BA
11/05 - Danilo David Santos , 33 anos, psiquiatra, Rio de Janeiro - RJ
11/05 - Eliane Buarque de Freitas Machado , Maceió – AL
11/05 – Maria Amélia Fagundes de Macedo , 83 anos, Crato – CE
11/05 - Valdir Pedro Pereira , 60 anos, médico de família e comunidade, Mauá – SP
12/05 – Caroline Barros Patrocínio , 29 anos, pediatra, Rio de Janeiro – RJ
13/05 - Carlos Marcos Buarque Gusmão , 56 anos, socorrista do Samu, Taboão da Serra - SP
13/05 - Claudio Sérgio Carvalho de Amorim , 69 anos, pediatra, Belém – PA
13/05 - Gilberta Bensabath , 95 anos, bacteriologista - PA
14/05 - Carlos Fernando Serizawa , clínico geral, Mauá - SP
14/05 - Jorge Puga Rebelo , cirurgião plástico, Belém -
14/05 - Marcos Paiva , 67 anos, clínico geral, João Pessoa - PB
14/05 - Raimundo Malcher Pinon , 72 anos, pediatra, Macapá – AM
14/05 – Thelmo Trilha Sym, 65 anos , ginecologista, Rio de Janeiro – RJ
15/05 - Agostinho Hermes de Miranda Neto , clínico geral, Belém - PA
15/05 - Benício Nunez , 61 anos, Dourados – MS
15/05 – Victor Luiz Bom , radiologista, Rio de Janeiro – RJ
16/05 - José Virgílio Ornellas de Freitas , clínico geral, Cabo Frio – RJ
17/05 – Luis Alberto Beleiro Barreiro , angiologista, Rio de Janeiro – RJ
17/05 - Homero Rodrigues , 49 anos, ortopedista, Cabo de Santo Agostinho - PE
17/05 - Oriel Brilhante Oliveira , ortopedista, João Pessoa – PB
17/05 – Pasquale Francisco Giglio , urologista, Rio de Janeiro – RJ
19/05 – Eduardo Vidoso , 68 anos, São Gonçalo – RJ
19/05 – Fernando Jordão de Souza , urologista – PA
19/05 - José Ronaldo Menezes , 60 anos, Goiânia – GO
20/05 - Orlando Damascena , 71 anos, ginecologista, João Pessoa – PB
20/05 – Otávio Roberto da Silva e Silva , 53 anos, socorrista do Samu, Santana – AP
21/05 – Antonio Mateus Ferreira , Rio de Janeiro – RJ
22/05 – Iasmin de Albuquerque Cavalcanti Duarete , 62 anos, pediatra, Maceió – AL
22/05 – Paulo Sampaio , 74 anos, São Gonçalo – RJ
23/05 – Augusto César Senna de Almeida , 58 anos, São Gonçalo – RJ
24/05 – João Batista Medeiros Costa , 65 anos, Natal – RN
25/05 – Emivaldo Soares Martins , 63 anos, ginecologista e obstetra, Goiânia – GO
25/05 – Valeria Calife , Natal – RN
28/05 - José Henrique Mello de Freitas , 56 anos, ginecologista e obstetra, Piracicaba – SP
01/06 - Enéas Andrade da Cunha , 74 anos, pediatra, Franca – SP
01/06 - Rafael Mussiello , 77 anos, ginecologista e obstetra, Vitoria – ES
03/06 – João Angelim , 78 anos, urologista, Rio Branco – AC
04/06 - Marden Washington Pires Cavalcante , ortopedista, Maceió – AL
05/06 – Dálvaro Borges Carneiro Junior , 64 anos, cardiologista, Presidente Prudente – SP
06/06 – Renato Menezes , 69 anos, ortopedista, São Paulo – SP
07/06 – Miguel Tavares , 51 anos, Recife – PE
09/06 - Clóvis Gorski , 72 anos, cirurgião, Guarapuava – PR
09/06 – Edilson Dias Leão , 55 anos, pediatra, Imperatriz – MA
10/06 - Tereza Aparecida Matos , São Paulo - SP
10/06 - Oswald Carvalho , 77 anos, pediatra, São Paulo-SP
11/06 - Rogelio Alonso Campuzano Cachaya , 45 anos, cirurgião, Tabatinga-AM




Expediente

Diretor de redação: Carlos Marcelo Carvalho
Editora-executiva: Renata Neves
Editores: Álvaro Duarte, Roney Garcia e Teresa Caram
Repórteres: Déborah Lima, Gustavo Werneck, João Vítor Marques, Joana Gontijo e Luiz Ribeiro
Edição multimídia: Maria Irenilda Pereira, Fred Bottrel e Rafael Alves
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