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O que esperar da relação bilateral Brasil-Argentina nos próximos anos?

As chances de o Brasil se retirar do Mercosul são baixas, mas sempre existe a possibilidade de que diferenças entre os dois maiores países da região estremeçam os fundamentos de um acordo baseado no consenso


postado em 16/12/2019 04:00 / atualizado em 15/12/2019 20:16

O Brasil foi o único país citado por Fernández em sua posse: ''A irmandade histórica de nossos povos é mais importante que qualquer diferença pessoal de quem governa a conjuntura''(foto: EMILIANO LASALVIA/AFP)
O Brasil foi o único país citado por Fernández em sua posse: ''A irmandade histórica de nossos povos é mais importante que qualquer diferença pessoal de quem governa a conjuntura'' (foto: EMILIANO LASALVIA/AFP)

Para o Brasil, a vitória de Alberto Fernández inicialmente levantou a perspectiva de um possível recrudescimento nas relações com a Argentina. Tais perspectivas foram aprofundadas por afirmações polêmicas de ambos os lados. Apesar disso, sempre existe a possibilidade de que os dois governos mantenham uma postura minimamente cordial e pragmática, ao menos no campo econômico, tendo em vista a relação mutuamente benéfica entre as duas economias.

O pragmatismo deve se refletir ainda no posicionamento dos países dentro do Mercosul, que, mesmo que seja modificado, não deve ser extinto. As chances de o Brasil se retirar do bloco são baixas, mas sempre existe a possibilidade de que diferenças entre os dois maiores países da região estremeçam os fundamentos de um acordo baseado no consenso.

Talvez o primeiro ponto crítico a testar a relação bilateral seja a abertura econômica via redução de imposto de importação, que está na agenda do governo Bolsonaro desde a campanha eleitoral. O fato é que, por estar dentro de um bloco que tem uma tarifa externa comum (TEC), a tal abertura precisa ser negociada com os parceiros. Ao contrário do governo liberal de Mauricio Macri, Fernández pende mais para o desenvolvimentismo e preservação das indústrias domésticas.

As ameaças de saída do Brasil devem ser usadas para aumentar o poder de barganha e viabilizar o avanço das políticas de abertura, idealizada pelo ministro Paulo Guedes e equipe. Tem-se cogitado recentemente a possibilidade do fim do Mercosul como uma união aduaneira (extinção da TEC) – por enquanto, a chance desse cenário ocorrer ainda é baixa, mas é maior do que o fim do bloco.

''As ameaças de saída do Brasil do Mercosul devem ser usadas para aumentar o poder de barganha e viabilizar o avanço das políticas de abertura, idealizada pelo ministro Paulo Guedes''


Por outro lado, é esperado que os presidentes mantenham um relacionamento mais distante no campo político. A título de exemplo, destaca-se que Fernández denunciou em seu discurso de posse o uso político do Judiciário, consistente com sua defesa da liberdade de Lula, o que pode reforçar as posições e narrativas contra a Lava-Jato e outras iniciativas no Brasil. Esse discurso deve ser utilizado internamente pelo Partido dos Trabalhadores (PT) para reforçar a narrativa de que a prisão de Lula foi causada por perseguição política, o que pode levar a um acirramento ideológico dentro do Brasil.

Alberto Fernández foi empossado na terça-feira passada (10) como novo presidente da Argentina, tendo a ex-presidente Cristina Kirchner como sua vice. Fernández foi eleito em 27 de outubro, com cerca de 48% dos votos, derrotando o então candidato à reeleição Mauricio Macri. Em pronunciamento de despedida, Macri afirmou que lamentava que “os resultados das nossas reformas econômicas não tenham chegado a tempo e por não conseguirmos nos recuperar da crise".

Fernández assume o comando do país em um momento de crise econômica, com uma previsão de retração do PIB de 3,1% em 2019, juros de 78% ao ano e inflação acumulada de 53,5%, além de uma dívida de US$ 57 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (de um total de US$ 284 bilhões de dívida externa). Em seu discurso de posse, o novo presidente citou os problemas da crise econômica e da polarização política, defendendo a renegociação da dívida externa.

A vitória de Fernández representa o retorno do peronismo após a derrota de Cristina Kirchner nas eleições de 2015. A posição mais à esquerda da chapa Frente de Todos se reflete também no apoio de Alberto à soltura do ex-presidente Lula. Isso causou certa indisposição por parte de Jair Bolsonaro, apoiador declarado do candidato liberal Mauricio Macri. Bolsonaro chegou a admitir a possibilidade de propor a suspensão da Argentina do Mercosul.

O Brasil é o maior parceiro comercial da Argentina (a Argentina é o terceiro maior parceiro do Brasil), importando principalmente automóveis e autopeças. O Brasil foi o único país citado no discurso de posse, quando foi dito que "com a República Federativa do Brasil, particularmente, temos que construir uma agenda ambiciosa, inovadora e criativa em temas de tecnologia, produção e estratégia, que esteja respaldada pela irmandade histórica de nossos povos que é mais importante que qualquer diferença pessoal de quem governa a conjuntura". A importância do relacionamento entre os dois países foi atestada também pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), que visitou o presidente eleito no último dia 5, acompanhado de cinco deputados.

Jair Bolsonaro não compareceu à posse de Fernández, quebrando tradição diplomática de 17 anos. Após um período de impasse onde o governo brasileiro cogitou inclusive não enviar um representante, o vice-presidente Hamilton Mourão foi designado para participar da cerimônia. Em seu Twitter, Mourão expressou seu desejo de que “as relações entre os nossos países sejam cada vez mais fortes, maduras e reciprocamente proveitosas”. Existe uma chance de que a sensatez vença, porque, em caso de  acirramento nas relações Brasil-Argentina, dificilmente alguém sairá ganhando.



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