Jornal Estado de Minas

VITALidade

Cidade Amiga das Pessoas Idosas

Com o envelhecimento cada vez mais acentuado da população mundial é imprescindível que o poder público e a sociedade em geral encontrem meios de promoção e manutenção da qualidade de vida dos idosos. Pensar em qualidade de vida na terceira idade implica em repensarmos também os espaços e os serviços públicos.





No ano de 2005, quando da realização do XVIII Congresso da Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria, iniciaram-se debates para a implementação do projeto Cidades Amigas das Pessoas Idosas. Todo o estudo teve como pressuposto a noção de envelhecimento ativo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o envelhecimento ativo é um processo que pode ser determinado por inúmeros fatores que, isolados ou em conjunto, auxiliam para a promoção da saúde, da participação social e da segurança na terceira idade, três pilares indissociáveis quando o assunto é o envelhecimento com manutenção da qualidade de vida.
A criação de um Guia, sustentado nestes três pilares, segundo a OMS, tem por finalidade capacitar as cidades para se tornarem mais amistosas com os idosos e, assim, somados a outros fatores, auxiliar para que eles consigam se desenvolver plenamente nos espaços urbanos. O objetivo é que as pessoas e os administradores públicos consigam olhar para suas cidades sob o ponto de vista de uma pessoa mais velha, identificando falhas e obstáculos que possam, de algum modo, obstar ou interferir no envelhecimento ativo.

Oito aspectos da vida humana nas cidades foram estudados pelos pesquisadores: espaços exteriores e edifícios, transportes, habitação, participação social, respeito e inclusão social, participação cívica e emprego; comunicação e informação; apoio comunitário e serviços de saúde. Cada um destes aspectos apresenta resultados surpreendentes e desafiadores para aquelas cidades que desejam ser amigas dos idosos.





Em relação aos espaços exteriores e aos edifícios, itens como se a cidade é limpa, se há espaços verdes suficientes, se existem bancos externos em praças e ambientes públicos, se os passeios são bem cuidados, se existem ciclovias, se há acessibilidade e se há segurança pública nos espaços abertos, são apresentados como sendo de suma importância para a mobilidade, independência e qualidade de vida dos idosos, chegando a afetar, inclusive, a possibilidade que os anciãos tem de envelhecer em suas casas. 

No que diz respeito aos transportes, questões como se o transporte tem preço acessível, se é frequente e confiável, se os veículos possuem acessibilidade, se há lugar prioritário de assento, se os motoristas dos meios de transportes são amáveis e cumprem as obrigações de trânsito, são de fundamental importância no envelhecimento ativo.

No tocante à habitação, uma cidade amiga do idoso compreende a fundamentabilidade da habitação para a segurança e o bem-estar das pessoas idosas. Assim, questões como a acessibilidade econômica de moradia, se a construção se utiliza de materiais próprios, se há manutenção, se a habitação está próxima dos serviços de infraestrutura ou mesmo se o ambiente em que o idoso vive com sua família não é sobrelotado, são colocadas em relevo pelos pesquisadores.





Em relação à participação social, não temos dúvida que ela está intimamente ligada a boa saúde e ao bem-estar ao longo da vida, de modo que situações como a facilidade de acesso a eventos públicos, acessibilidade das atrações culturais, divulgação das atividades culturais, variedade de eventos, presença de convites direcionados aos idosos e o fomento da integração comunitária são pilares da cidade amiga do idoso.

Outro ponto importante para o desenvolvimento ativo é o respeito e a inclusão social. Segundo o estudo, de um lado os idosos se sentem respeitados, reconhecidos e incluídos, de outro, relatam sentir com a falta de consideração por parte da comunidade, dos serviços e da família. Tal situação pode ser compreendida a partir da mudança de comportamento dos membros da sociedade e das regras de comportamento, pela ausência de diálogo intergeracional e, principalmente, pela ignorância dos membros da sociedade em relação ao envelhecimento e aos idosos. 

A participação pública e o emprego são pontos de fundamental importância em uma cidade amiga do idoso. É necessário que a cidade tenha opções disponíveis de serviços voluntários ou remunerados para a população idosa, se há acessibilidade para os locais em que o trabalho será desenvolvido, se os idosos participam de organizações sociais e se o idoso recebe um pagamento justo pelo trabalho que desenvolve. 





Comunicação e informação são instrumentos necessários para que os idosos façam gestão de sua vida e de sua saúde possibilitando, assim, um verdadeiro exercício de cidadania. Para tal finalidade é imprescindível que exista um sistema básico e universal de informação, que a comunicação com o idoso, sempre que possível, seja feita da forma verbal e em linguagem simples.

Por fim, no que diz respeito ao apoio da comunidade e disponibilidade de serviços de saúde, questões como a acessibilidade aos serviços de saúde, a quantidade de oferta deles e os planos e cuidados de emergências médicas dos idosos são de suma importância em uma cidade amiga dos idosos.

A pesquisa não pretende colocar termo ao complexo tema da utilização dos espaços públicos pelos idosos, bem como de sua disponibilidade, todavia, ela nos direciona rumo ao entendimento de que com o envelhecimento populacional é imperioso que nossas cidades se adaptem aos nossos velhos de hoje e se preparem para os velhos que virão amanhã!