Jornal Estado de Minas

GEOPOLÍTICA

ChatGPT: algumas considerações no mundo escolar e do trabalho



As tecnologias chegaram para facilitar a vida dos cidadãos, pelo menos essa é uma frase que se difunde com regularidade e não há como negar tal fato. Para que as inovações sejam ofertadas à sociedade, há um envolvimento hercúleo de vários indivíduos, completamente envolvidos em pesquisas, que duram toda uma vida. Subestimar os aspectos positivos dessas inovações tecnológicas implicaria um total desconhecimento de todas as vantagens existentes nas áreas da saúde, transportes, agricultura, alimentos, comunicação, somente para citar algumas. 





A produção do conhecimento tecnológico movimentou um colossal volume de capital financeiro humano. A Terceira Fase da Revolução Industrial teve início, historicamente, a partir da década de 1970, estimulada pelo momento em que estávamos inseridos, sustentada pela Guerra Fria e a corrida armamentista que envolvia a superpotências do capitalismo, os Estados Unidos, e do socialismo, a União Soviética, além dos seus aliados. 
Os países que foram impedidos de fazer investimentos maciços no setor bélico, após a Segunda Guerra Mundial, como a Alemanha e o Japão, tiveram também um papel singular na expansão das novas tecnologias, ao destinar uma parte expressiva dos investimentos à produção industrial de alto valor agregado. 

A robótica e a automação exerceram um papel fundamental nas mudanças que seriam vivenciadas nas linhas de produção industrial de todo o mundo, com resultados pouco vantajosos para o mundo do trabalho. A mão de obra foi, desde então, gradativamente, substituída por máquinas mais modernas, agravando os índices do desemprego estrutural e alimentando um sentimento de frustração e impotência do trabalhador. 





Nesse cenário das novidades virtuais, foi anunciado no dia 30 de novembro de 2022, por uma pequena empresa de softwares, de São Francisco/Califórnia-EUA, chamada OpenAI, que trabalha com Inteligência Artificial (IA), o lançamento do ChapGPT. Em poucos dias, a nova tecnologia alcança, surpreendentemente, mais de um milhão de usuários em todo o mundo e se torna alvo de debates generalizados que vão das redes sociais às conversas entre amigos, ora a divinizando, ora a demonizando. 

O ChatGPT cria um cenário de diálogo virtual, entre o interlocutor e o robô conversacional, que resulta em textos - que podem ser coerentes ou não. O comando dado define a complexidade do texto, afinal é uma conversa entre um humano e uma máquina. A máquina obedecerá aos comandos e à clareza do diálogo estabelecido pelo humano. Os textos, entretanto, podem ser confusos, pois a tecnologia se baseia nas exigências do usuário, mas não espere que a fonte consultada ou alguma referência bibliográfica utilizada pela IA seja oferecida. Não será. 

A falta da referência se deve à colossal base de dados em que a nova tecnologia se baseia para produzir respostas. Os dados, de fato, criados pelo homem, representam mais de 750.000 vezes o volume da Bíblia, o que dificulta estabelecer a origem da informação utilizada na elaboração do texto entregue ao usuário. O GPT é um modelo de processamento da linguagem, criado em 2020, usado na versão de conversação do ChatGPT - daí a origem do nome -, e já se encontra na versão 4 (a primeira era o GPT3), mais surpreendente que a anterior.





No universo da educação, há temor em como lidar com a nova tecnologia. Proibir não é o caminho. Já sabemos aonde se chega com as proibições, e as tentativas de burlá-las são mais prejudiciais que anexá-las à vida escolar. Mas, para isso, os profissionais da educação devem ser preparados para lidar com a tecnologia e usar a favor do conhecimento consciente. 
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Todavia, como quase sempre, as escolas não estão preparando os profissionais para a nova realidade. Profissionais desorientados sabem que a novidade deve impactar diretamente a produção do conhecimento por parte do aluno, mas sentem-se perdidos em como usar a ferramenta a favor do ambiente educacional, ao estimular a busca pelo aprendizado e o desenvolvimento coerente do saber. 

As consequências atingirão escolas e alunos, em especial os mais jovens, que desde sempre estiveram conectados à internet e que crescerão dentro do mundo da nova tecnologia de conversas virtuais com um robô e a produção de textos, com o risco de que pouco ou nenhum conhecimento individual tenha sido devidamente construído no ambiente escolar. 





Há grandes possibilidades de que o anseio de aprender, característico do tempo da infância, seja diluído na facilidade e rapidez das respostas do ChatGPT ao longo da vida. Nessa queda de braço, a inteligência natural pode perder para a inteligência artificial. Triste em qualquer momento da história, mas ainda mais entristecedor no cenário das frivolidades do mundo atual.

O receio dos professores, totalmente compreensível, quanto à utilização do ChatGPT, está, em especial, na capacidade de essa IA retirar do aluno a responsabilidade da investigação e da escrita sobre um conhecimento, tendo impacto, inclusive, sobre as avaliações. 

Para minimizar esses efeitos, os professores devem ser preparados e instruídos a se apoderar, de forma consciente, da ferramenta para trabalhar com seus alunos. Cabe às escolas discutir, dar embasamento teórico e prático aos professores sobre a melhor forma de inserção desse recurso no cotidiano da sala de aula. 





O corpo docente preparado para esse futuro deve ensinar aos alunos como elaborar diferentes perguntas ao chatbot sobre o objeto de estudo.  Uma vez que o texto da IA foi produzido, é preciso analisar as diversas respostas, compará-las com o que foi discutido em classe, com os textos presentes nos livros didáticos e enciclopédias, ajudá-los a compreender e a reconhecer determinadas expressões do texto virtual, que possam ser geradoras de mal-entendidos e que comprometam o domínio do conhecimento. Os textos podem ser rascunhos de um original construído pelo aluno. Essas são algumas possibilidades de uso. 

A criatividade humana está em xeque. As escolas têm um papel fundamental nesse momento em como conduzir a relação dos alunos com as IAs. Precisam criar um ambiente de relação saudável, que permita o desenvolvimento gradual do aluno, a partir dos argumentos que são capazes de gerar, utilizando essa ferramenta como um meio, não como um fim. 

Mas, há muitas incertezas sobre como será a realidade desse recurso nas escolas. Algumas, nos países desenvolvidos, já proibiram seu uso. O professor tem que possuir estratégias de uso. O aluno terá que ser estimulado a questionar o documento produzido pela IA. Aceitá-lo, sem nenhuma indagação, assombra. Nesse ponto, a proibição e o despreparo para o novo futuro têm efeitos muito similares e eles não são bons. 





No passado, a IA buscava aprimorar o conhecimento técnico, mobilizando os fatos e as regras de um determinado saber já existente e, assim, superar a capacidade humana. Uma demonstração dessa capacidade foram os softwares de xadrez que derrotaram os grandes mestres desse jogo, décadas atrás. Atualmente, essa precisão não fundamenta a IA, o que amplia as possibilidades de difusão de falsas ou meias verdades. 

A nova tecnologia é um concorrente poderoso para a criatividade humana. As respostas e soluções rápidas satisfazem essa sociedade desinteressada em se esforçar muito para entender pensamentos complexos. 

Um seleto grupo de empresas e criadores se beneficiarão com as inovações, que eliminam ou reduzem o papel decisivo dos diálogos humanos. Todos os setores serão impactados. Se antes as classes menos favorecidas eram as mais afetadas, é inegável que essa novidade não poupará ninguém. Exceto seus criadores. 





Não fiquem tão maravilhados com o que está por vir. O sucesso é estrondoso, não há como negar. Mas manipulações de falsas informações podem generalizar. Criar uma “marca d‘água” para certificar que o texto não é uma criação humana pode ser um recurso futuro. Entretanto, resta saber se a empresa OpenAI tem interesse nesse recurso. Afinal, estamos em um mundo de aparências, onde ter é mais importante que ser. O ChatGPT pode dar a impressão de que o indivíduo tem a informação, mesmo que seja falseada pela IA. 

Há risco iminente de desemprego devido a esse poderoso recurso. Mesmo que contenha erros (o chat não reconhece os erros que produz), comprometedores da veracidade das respostas - dissemine informações racistas, homofóbicas (a empresa criadora afirma que o software foi programado para não estimular tais comportamentos); e gere cautela na aplicação e no uso dessa inovação, os avanços dessa tecnologia fragilizarão vários setores de trabalho, no espaço de tempo imediato. 

Sem uma análise crítica do que é ofertado pelo chatbot (visto, por enquanto, como do bem), os riscos de uso indevido da tecnologia podem promover mais perdas que ganhos para a sociedade como um todo. Quem definirá esse cenário futuro é a reação do grande público à inovação. Há que aguardar!