Jornal Estado de Minas

SUELI VASCONCELOS

Vulcões: a temida e fascinante força da natureza

O planeta Terra tem uma idade estimada em 4,6 bilhões de anos. A atividade vulcânica nasceu ao mesmo tempo. Desde o início dos tempos, as erupções vulcânicas acompanharam a história do planeta e, mais recentemente, a história da humanidade. 





Apesar de menos devastadoras e mortíferas que os terremotos, as erupções, pela sua visibilidade e dimensão extraordinária, e por vezes apocalíptica, sempre marcaram profundamente as sociedades e civilizações. Acompanhados de sentimentos contraditórios, pois, ao mesmo tempo que são temidos pela destruição que podem provocar, os vulcões são admirados pela beleza, assustadoramente impactante, da lava ou dos fluxos piroclásticos liberados. 

Os eventos vulcânicos são uma das forças mais poderosas e imprevisíveis da Terra. Em tese, funcionam como as bombas-relógio do planeta, pois, apesar de sinalizarem uma iminente erupção, com a intensificação dos abalos sísmicos na câmara magmática, não é possível determinar o momento exato que entrará em atividade. 

As erupções variam dos fascinantes fluxos de lavas às temidas explosões de cinzas e poeiras, com temperaturas que podem atingir mais de 1000 °C. Normalmente, o teor de sílica no magma é o elemento que determina a característica da erupção. 





O magma mais silicoso possui maior viscosidade, o que gera erupções explosivas, violentas, espetaculares e destrutivas. Os materiais piroclásticos (sedimentos finos, altamente aquecidos), desse tipo de vulcão, chegam à estratosfera, a mais de quinze quilômetros de altitude e se espalham rapidamente a longas distâncias, pela ação dos ventos. Evacuar a população da área de abrangência dessas cinzas é fundamental para evitar tragédias. 

Os vulcões são um dos responsáveis pela criação da morfologia terrestre. O material vulcânico (magma) do manto, em fusão, empurra lentamente a litosfera (crosta e manto superior sólido) em diferentes sentidos, rasgando-a. É através desse “rasgo” que o magma chega à superfície, forma o chão oceânico e movimenta as placas tectônicas. Ao se movimentarem, as placas podem colidir ou deslizar uma com a outra. Nessa “dança”, há vulcanismo e sismicidade. A Terra é viva e a tectônica é o seu coração a pulsar. 

Os vulcões estão mais concentrados no Círculo ou Anel de Fogo do Pacífico, nas zonas de subducção das placas tectônicas. Nesses locais, a placa oceânica, mais densa, é mergulhada e consumida no manto. Isso significa que o fundo do mar está sendo arrastado para o interior da Terra (do magma veio, ao magma voltará). Nesse tipo de contato convergente encontram-se 95% dos vulcões terrestres.





Nos limites divergentes das placas, o acúmulo magmático origina, entre outras coisas, as dorsais, as fabulosas cadeias de montanhas, que se estendem por mais de 60 mil quilômetros, no assoalho dos oceanos.  

Há os vulcões que se concentram no centro de uma placa tectônica, nos Hot Spots, os pontos quentes que os sustentam, como ocorre no Arquipélago do Havaí e Yellowstone (EUA). Existem mais de 1.350 vulcões ativos espalhados pelas bordas dos continentes (Indonésia, Japão e EUA concentram, respectivamente, o maior número desses fenômenos ativos do globo), além daqueles que se encontram debaixo das águas do mar. 

Concomitantemente ao seu poder de destruição, há estudos que indicam que as formas primitivas da vida podem ter se desenvolvido em fontes de águas termais e piscinas vulcânicas, a “sopa primordial”, há mais de 4 bilhões de anos.  Acredita-se que a Terra ancestral era composta de uma variedade de pequenas ilhas vulcânicas. A liberação dos gases das erupções, somados aos raios, produziram os componentes químicos necessários ao surgimento da vida. 

A própria origem da água no planeta, segundo alguns estudos, estaria associada aos vulcões que expeliram grandes quantidades de vapor d’água à superfície, mesclado aos próprios materiais. 





Os cientistas argumentam também que o planeta azul, com a sua atmosfera remota e a vastidão oceânica, tornou-se habitável graças à atividade vulcânica. Foram os vulcões que desempenharam um papel fundamental no ciclo de produção de dióxido de carbono (o ciclo geoquímico do carbono é considerado o mais importante para a vida na Terra), contribuindo para o efeito estufa na atmosfera da Terra. É consenso, entre os cientistas, que a Terra estaria desolada sem eles. O efeito estufa, fenômeno natural e essencial à vida, mantém as médias térmicas globais, que permitem a presença da vida, como a conhecemos 

O fato inegável é que os vulcões habitam o imaginário das pessoas. As imagens de Pompeia, na Itália, recobertas pelas cinzas do Vesúvio, em 79 d.C., fascinam e atemorizam o homem. 

A erupção do Krakatoa (Ilha de Java/Indonésia), em 1883, é considerada a mais violenta já registrada pelo homem. A energia liberada pelo vulcão foi 12.500 vezes superior à bomba nuclear que devastou a cidade de Hiroshima, em agosto de 1945. O barulho da erupção foi tão impressionante que os australianos o escutaram quatro horas depois! Infelizmente, mais de 36 mil vidas foram ceifadas. 

A fantástica erupção do Monte Santa Helena (EUA), na manhã de um distante domingo de 18 de maio de 1980, provocou a morte de 57 pessoas (entre elas, David Johnston, o jovem geólogo que alertou para o risco de erupção violenta e foi “silenciado” para não causar pânico entre a população) e prejuízos de mais de 1,1 bilhão de dólares, mas permitiu ao homem compreender, um pouco mais, a dinâmica dessa força viva da natureza.





Em novembro de 1985, as erupções Nevado del Ruiz, na Colômbia, provocaram o derretimento de quantidades astronômicas de neve. Em poucas horas, torrentes de lama atingiram e soterraram Armero, uma cidade a 50 quilômetros do vulcão. Quase 24 mil pessoas, das 25 mil que ali viviam, morreram.  Entretanto, em 1991, os cientistas evitaram uma catástrofe maior nas Filipinas, quando o Pinatubo explodiu, provocando a maior erupção dos últimos cem anos. Embora tenha ocorrido mais de 840 mortes, o número poderia ter sido na ordem de milhares. 

Em 20 de março de 2010, o vulcão Eyafjallaljökull (de nome impronunciável), localizado ao sul da Islândia, entrou em erupção pela primeira vez. No mês seguinte, a segunda erupção foi mais violenta e mergulhou a Europa no maior caos aéreo desde a Segunda Grande Guerra, com mais de 60 mil voos cancelados, afetando o sistema de aviação globalmente.

O Parque de Yellowstone, nos EUA, encontra-se sobre o maior reservatório magmático do mundo, estimado em mais 10,4 mil km3. Uma erupção desse supervulcão seria dramática, com consequências incalculáveis. A vida seria destruída em um raio de aproximadamente 500 km no entorno do vulcão e a metade ocidental dos Estados Unidos seria devastada pela gigantesca precipitação de cinzas expelidas.  A temperatura da Terra experimentaria um resfriamento repentino, com a queda de pelo menos 10°C, ao longo de 10 anos e os rendimentos agrícolas entrariam em colapso, causando fome em muitas regiões do mundo. 





Embora os impactos negativos da atividade vulcânica surpreendam, há aspectos positivos dos vulcões. As rochas, poeiras e cinzas vulcânicas, ao se decomporem, geram solos de grande fertilidade, favorecendo agricultura nas áreas de ocorrência.  Estima-se que esses solos cubram 1% da superfície dos continentes. 

O calor liberado pelas fontes termais vulcânicas pode ser utilizado como energia geotérmica, além de sustentarem habitat da vida selvagem local.  A maioria dos minerais metálicos do mundo, como cobre, ouro, prata, chumbo e zinco, além de pedras preciosas, estão associados aos materiais magmáticos, encontrados nas profundezas das raízes de vulcões extintos.

O fenômeno vulcânico intriga o homem desde a Antiguidade, de Platão ao Apocalipse, de São João, até os dias atuais. Assim como os seres humanos, não há dois vulcões iguais. A cada vez que rugem e estremecem liberam seus demônios, espalhando lavas ou cinzas. Temidos e fascinantes. Ao decifrá-los, pode-se compreender o passado e, dessa forma, facilitar o futuro. Essa é a busca.