Jornal Estado de Minas

GEOPOLÍTICA

O valor do silêncio

Falar é barato. Talvez por isso todos estão se aproveitando do baixo custo da fala nos dias atuais, porque como se fala! A ideia da propriedade do conhecimento por todos faz do cotidiano uma enxurrada de falas, quase sempre desnecessárias.



A máxima 'a palavra é prata, mas o silêncio é ouro' não se aplica em tempos de redes sociais. As pessoas estão confortáveis em emitir suas opiniões, mesmo sem conhecimento de causa. A possibilidade da opção pelo silêncio não é considerada.

O silêncio e a fala formam um casal contrastante, cujos relacionamentos são, no entanto, mais matizados do que o simples cancelamento um do outro. Há uma emergência de se aprender a falar quando necessário, dizendo a coisa certa e da maneira certa.

Podemos pecar contra o silêncio tanto por excesso como por defeito: desde quem fala demais e quem nunca diz nada. Não é fácil determinar o que é mais condenável. Se a tagarelice do primeiro não é bem-vinda, a presença inerte do segundo é um fardo pesado para aqueles que com ele convivem. Aqueles que falam sem filtros, emitem julgamento, críticas e condenações indefinidamente ao outro. Quando silenciam, indicam desprezo ou desaprovação ao próximo.





Permaneça em silêncio quando não se deve falar.  Diga algo quando for necessário. Fale as coisas certas e nada mais: no momento, lugar e da forma que não fira o outro. Às vezes, parece mais fácil mover montanhas que controlar bem a língua. Mas exercite essa habilidade. Muitos agradecerão.

Acredite na sua capacidade de cultuar o silêncio, tão sagrado pelos filósofos ao longo da história. Tal prática permitirá voltar-se para seu eu interior. A capacidade de saber se silenciar colabora com o desenvolvimento de sentimentos de respeito e estima aos demais.

Quando falar, fale a verdade. Evite ferir a autenticidade dos fatos dizendo o oposto do que se sabe ou acredita-se ser verídico. Não afirme como certo o que é duvidoso. Isso pode acelerar julgamentos. O poder de julgar não se aplica a todos. Não aprovar não nos habilita a sentenciar. Então, assegure-se da exatidão da informação. E, na melhor das opções, cuide do que realmente interessa: sua vida. Basta!

Seja comedido com suas opiniões. Tenha clareza de que aquilo deve ser dito e, na dúvida, abstenha-se do seu ponto de vista. Algumas coisas, simplesmente, não carecem da sua posição. Silencie.





Seja prudente ao falar. Saiba sobre o assunto que vai dissertar para não surpreender ou mesmo escandalizar. Seja justo e mantenha o silêncio sobre o que pode prejudicar a reputação de outras pessoas e os bons relacionamentos. O contrário pode ser mortal.

Um pouco de humildade com as palavras que possam direta ou indiretamente nos superestimar. Nem sempre cabe a nós a definição dos nossos adjetivos. A paciência também é valiosa. É preciso aprender a calar as pequenas irritações do dia a dia: aprender a não reclamar, a não se queixar, a não ser consolado, a não se desculpar. Viva. Passa rápido. Se possível, não conte ao outro seus méritos. Nem todos vão torcer por você.

Claro, há sons que, simplesmente, são inevitáveis. A natureza emite seus ruídos. As massas de ar diferentes quando se encontram geram turbulências e, como resultado originam os trovões. Assim como o chiado do ferro quente embebido em água fria simboliza o que não pode se calar. É o embate dos elementos de natureza oposta. É inevitável. Atente-se a frase de que os opostos se atraem nas relações humanas. Temo pelos barulhos que isso pode gerar. Busque algumas similaridades se deseja equilíbrio e menos ruídos.





Há sons humanos também inevitáveis: os gemidos de prazer, as palmas das mãos dos massagistas nos ombros, os gritos dos homens ao depilar (mais do que as mulheres), o nadador ao mergulhar, suspiros de amor e saudade...há aqueles quase insuportáveis: carros em alta velocidade, os carpinteiros e pedreiros em seus trabalhos (com todo respeito à árdua tarefa), teste de instrumentos em potência máxima pelos seus usuários...

Não tem como excluir todos os ruídos. Não se pode impor silêncio à natureza. Da mesma forma, o homem é naturalmente barulhento. Mas de todos os sons a comunicação e a fala descontrolada representam o inferno da sociedade atual. Os "vômitos verborrágicos" se disseminam na era contemporânea, nos esgotando cotidianamente, gerando um sentimento de exaustão quase permanente.

Espera-se, com o tempo, que a sabedoria acabe por chegar.

O homem sábio sabe que deve se sujeitar ao silêncio. Demonstra o domínio e quietude das suas paixões internas. O homem ignorante esbraveja, grita, ofende. É um desequilibrado.





A língua necessita de sentido e se enche de barulho. Só o silêncio diz sem comunicar. Há algo mais ensurdecedor que o de uma mensagem lida e não respondida ou da mentira contada sem uma defesa imediata?

Os poetas dizem que o silêncio prefere as noites. Mas a recém sociedade urbana (o mundo tornou-se urbano em 2006), repleto de ruídos das metrópoles dificulta a poesia imposta pelo silêncio das noites nas cidades.

Não desista, mesmo com obstáculos. Aproveite o silêncio da noite. Observe o silencioso "movimento" das estrelas, fonte de admiração ilimitada por sua harmonia imutável. O "movimento estelar" é o lugar do silêncio. Permita-se. Deite-se ao ar livre e deixe as estrelas deslizarem suavemente. É durante a noite que o tumulto do dia dá lugar à calma e ao silêncio.

Sejamos simples amantes da serenidade e da retórica esvaziada de "conteúdos das palavras inúteis". A humanidade agradece.

audima