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Flor em forma de gente

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Antes de colher uma flor, é preciso pedir a ela permissão. Já tinha ouvido falar disso? Pois eu não. Nunca desconfiei dessas delicadezas até participar do retiro espiritual no México, sobre o qual ando escrevendo aqui na coluna. Meses após o evento, as lembranças daqueles dias mágicos estão voltando. Decidiram brotar da alma, desta vez em tons de lilás e aroma de lavanda.





Vou explicar melhor. Nosso grupo de mulheres havia acabado de chegar ao hotel. Antes porém de atravessar o portal cósmico, acessando a energia das pirâmides, seria necessário cumprir com obrigações bem terrenas. Fazer o check-in, ocupar o quarto, guardar as malas. Tudo certo. Faltava procurar o restaurante.

Segui o fluxo. Ainda estava meio zonza sob o efeito do jet-lag, resultado de 12 horas enclausurada no avião. O corpo reclamava cansaço e até o emocional doía, com o coração encolhido das saudades de casa. Para minha salvação, havia flores no meio do caminho.

Na entrada para o refeitório, esbarrei em um vaso de lavanda, quase idêntico ao que eu havia deixado para trás, na varanda de casa. Simplesmente incrível. Dias antes da viagem, ganhei um arranjo igual, de presente do meu marido. Não era coincidência, era fato.





Na minha primeira experiência sensorial no lugar, topei com o clone do meu vaso de flores. Saí da primavera no Brasil e cheguei no outono do México, frio e chuvoso. O clima era diametralmente oposto, hemisférios sul e norte. E as lavandas estavam lá, do mesmíssimo jeito. Será que a botânica explica?

Agachei no chão para olhar bem de perto. Não havia dúvidas. Eram as mesmas hastes longas, folhas de um verde pálido e pétalas compridas, no formato de cone, na cor lilás. Aroma inconfundível de lavanda. Precisei ‘ver’ com as mãos, feito criança.

No impulso, estiquei o braço em direção ao canteiro vertical. Estava decidida. Levaria uma unidade delas comigo. Seu perfume calmante me ajudaria a lidar com a falta dos meus meninos. No entanto, antes que eu pudesse quebrar o caule e arrancar a flor, surgiu outra flor, mas em forma de gente. "Faz isso não!", pediu a jovem de cabelos contemporâneos e olhar desafiador, rebelde.

Parei no ar, sem reação. A participante do evento tinha acabado de chamar a minha atenção em tom amigável e descontraído, mas firme. Pronto, falou: “Você não pode arrancar uma flor sem pedir permissão por que você está matando a natureza”, disse. Custei a entender o ponto. Sou da geração criada com suco Tang, banho demorado, churrasco de domingo.





Diante daquela mulher em estado de choque, pega em flagrante, a jovem teve compaixão. E começou a contar o caso de uma mulher que, certa vez, entrou num bosque. “O bosque era muito bonito, diferente de tudo o que ela já tinha visto na vida.

Ela ficou tão encantada que quis levar uma lembrança daquele lugar. Catou o graveto de uma árvore e foi embora. Assim que saiu do bosque e pisou na cidade, o graveto ficou murcho e quebrou. É isso o que acontece quando você não pede permissão para tirar um pedaço da natureza”.

Naquele instante, entendi que eu havia chegado a um retiro espiritual. Era um mundo diferente, onde não se comia carne vermelha, os cabelos eram lavados na cachoeira e havia uma conexão profunda com a natureza.

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