Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

Boa administração aproxima América do clube-empresa



Muito se fala sobre a possibilidade de salvação e reconstrução financeira de clubes com a modalidade empresa, ou, formalmente, a transformação na SAF (Sociedade Anônima de Futebol). Superválido para algumas situações, mas, por outro lado, é bem arriscado acharmos que apenas esse status fará com que grandes times do passado, como o Cruzeiro, por exemplo, voltem a ser o que eram.





É preciso, primeiro, imaginar que a transformação em empresa, de fato, deve ser a consequência de uma boa herança administrativa, um novo passo que dará muito mais certo se a casa estiver arrumada e a administração anterior tiver sido pé no chão, profissional e pragmática. Talvez seja a soma desses fatores que fará clubes emergentes como o América a saltarem um degrau real rumo ao gigantismo.
 
 
 
A verdade é que o clube-empresa não deve vir para salvar ninguém, mas para potencializar algo que já funciona, mesmo ainda em modelos tradicionais, como no América, que está onde está por já pensar e agir como uma empresa desde que se reestruturou no final da primeira década do século, após quase acabar em 2007, quando chegou a disputar a Série B do Mineiro e correu o risco de cair para a série D.

Muitas vezes, as decisões necessárias, pensadas de acordo com a capacidade do momento, reverberaram como não populares por parte da torcida. Foi preciso muita paciência. Em alguns momentos, parecia não fazer sentido a impressão (reforço, impressão) que dava de que o América nunca iria sair do lugar. O que estava sendo feito, na prática, era uma reestruturação que demandava frieza, racionalidade, dados, projeto, estatística e engenharia financeira sustentáveis.





E, muitas vezes, esse tipo de ação em um meio como o futebol – permeado desde sempre por máfia, dirigentes folclóricos, políticos e cartolas escusos – não repercutia em títulos ou em grandes feitos. Mas o americano soube esperar, e os resultados dessa atitude empresarial e quase acadêmica da gestão do clube geraram efeito e, hoje, o céu é o limite para o Coelho. Nos últimos dez anos, oscilamos em um sobe e desce na Série A que parecia não ter fim. De repente, pimba! Vocês já pararam para pensar? Estamos na Libertadores, fomos para a semifinal da Copa do Brasil em 2021 e ficamos em oitavo no Brasileirão. Hoje, não tememos nenhum time do país.

O que foi feito, em resumo, te explico: negociamos terrenos de forma correta, aqueles que não faziam sentido mais (elefantes brancos). Geramos liquidez e crédito para trabalhar. Acertamos no projeto financeiro com o Boulevard Shopping, onde temos uma linda loja e escritório administrativo. Investimos em comunicação e marketing com estratégia – fundamental para a expansão de marcas e manutenção de posicionamento nos dias de hoje. Reformamos nosso belíssimo e próprio estádio e agora o temos praticamente só para nós.

E não para por aí. Em uma ação inédita – mostrando cabeça aberta para as tendências de um mercado cada vez menos nepotista e amador –, o América chegou a contratar uma empresa especializada em recursos humanos e recrutamento executivo, a Tailor, comandada pelo jovem empreendedor Bruno da Matta Machado, conhecido lá da época de Colégio Santo Agostinho (boa coincidência).





Aliás, em um papo ontem com Bruno sobre esse modelo, ele foi enfático em dizer que este tipo de inovação à qual o América se abriu é sinal sólido de mudança na cultura corporativa de um clube que quer ser muito grande, e que isso é um imenso passo, o que corrobora com a tese acima de que a diretoria pensa, há muito, em fazer futebol de forma racional, quebrando paradigmas e com foco em trazer profissionais que gerem resultados, com base em domínio técnico e qualidade no que fazem.

A tendência é essa e é preciso enaltecer tudo o que ocorreu com o Coelho nos últimos dez anos. Agora, o campo está aparado para que novas transformações ocorram, e de forma bem-sucedida. Profissionalismo é a palavra, em qualquer mercado. Desse jeito, quem “lucra” mesmo é a torcida.