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COLUNA

A lição da história ensina que não faz sentido opor Estado e mercado

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A lição a se extrair da história é que Estado e mercado são instituições complementares e não faz sentido colocá-los em polos opostos. O que é preciso é que o Estado seja público e o mercado seja livre. Toda a discussão puramente ideológica, separando visões de esquerda e liberalismo econômico não leva a qualquer resultado, pois pretende atribuir valor universal a ideias que dependem do tempo, das circunstâncias e do lugar onde se aplicam. Além de inúteis, são discussões que nos afastam das soluções dos problemas reais.




 
Na vida das sociedades há coisas que só podem ser realizadas pelo Estado e outras que são melhor produzidas pela iniciativa privada. O máximo de benefício se alcança quando as duas esferas não se confundem, ou seja, quando o Estado não se propõe a produzir bens e serviços que se vendem nos mercados e quando o interesse privado não interfere na produção de bens públicos. Quando estes papéis se confundem, o Estado torna-se mau empresário e a esfera essencialmente pública torna-se privatizada. Este é um risco sempre presente no capitalismo e vem ameaçando a democracia.
 
Um dos bens públicos por excelência são as políticas econômicas destinadas a promover o crescimento da economia. Entre os vários e às vezes conflitantes objetivos de uma sociedade um dos mais essenciais é a prosperidade econômica para a maioria das pessoas. O livre funcionamento das forças de mercado quase nunca é capaz de realizar isto, pois o que move a decisão das empresas é o retorno financeiro do investimento e não as necessidades de bem-estar da população. Hoje podemos saber com certeza que isto se faz pela ação simultânea e complementar do dinamismo empresarial e da qualidade da vida política.

Vivemos hoje na política um dos momentos mais baixos da nossa história. Temos um governo sem projeto e sem rumo e um Parlamento fragmentado em facções desconectadas e sem compromisso. Para piorar, nos tornamos uma sociedade marcada pela descrença, pela desconfiança, e pelo rancor. Neste ambiente caminhamos para eleições gerais em que se escolherá que maioria teremos e para quê. A pergunta a fazer é como poderemos construir um novo projeto de economia e de país nestas condições.




 
As eleições de 2018 foram travadas num ambiente de grande vazio de ideias, numa disputa de rejeições e ódio, em que o futuro do país não esteve em cogitação. O resultado que colhemos são mais quatro anos perdidos e a incerteza de ainda sermos capazes de regeneração.

Em outros momentos, nosso país foi capaz de renascer e de recuperar-se, mesmo depois de crises políticas e econômicas tão graves como as que vivemos hoje, como o fim do regime militar e as consequências do governo Collor. É perfeitamente possível que sejamos capazes de fazê-lo mais uma vez. Para isso, no entanto, é necessário que se apresente ao povo um projeto de país, um horizonte de nossas possibilidades e não apenas um perfil de personalidade ou um arranjo de interesses.
 
Há muito tempo, o desenvolvimento econômico deixou de estar presente na agenda dos governos. Sem a sua iniciativa e liderança não vamos superar os anos perdidos. A estagnação brasileira tem uma forte tendência para se perpetuar sem a intervenção do poder e dos recursos do Estado, único agente que tem autonomia para quebrar os elos do círculo vicioso.

Um projeto político que coloque o Estado a serviço deste objetivo seria capaz de reinventar o sentido de uma campanha eleitoral, oferecendo ao povo brasileiro não uma oportunidade de trocar os grupos no poder, mas a esperança de se inventar um novo país.




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