Jornal Estado de Minas

RICARDO KERTZMAN

Juros, dólar, Bolsonaro, Lula: o brasileiro faz por merecer o País que tem

Duas ótimas notícias, mas ótimas mesmo, movimentam a agenda econômica - e por que não, social? - hoje, no Brasil: a inflação desacelerou em março e é a menor para 12 meses desde 2021 (o IPCA acumulado fechou em 4.65%). Ao mesmo tempo, o dólar chegou a ser negociado por R$ 4.99, e se nenhum imprevisto ocorrer, deverá fechar abaixo de 5 reais em abril. 





Amigos, não há nada neste País mais importante para o pobre do que a valorização da nossa moeda frente ao dólar, pois isso impacta direta, imediata e fortemente no preço dos alimentos. Trigo, açúcar, soja, arroz, feijão, café, enfim, gêneros da cesta básica flutuam conforme o câmbio. Ato contínuo, faz a inflação ceder e abre caminho para a tão esperada e sonhada queda nos juros.

O Brasil é uma das dez maiores economias do mundo. Possui indústrias mundialmente competitivas, tecnologia de ponta, serviços de classe internacional, mão de obra, ainda que desqualificada, farta, pirâmide etária (ainda) favorável, ou seja, não haveria razão para uma moeda tão fraca - com a consequente necessidade de juros elevados - senão o governo, ou governos nos atrapalhando.

Nossa dívida, oriunda do nosso eterno déficit fiscal, é o combustível primário dos juros altos. Por sua vez, juros altos acarretam risco de calote, o que torna o Real depreciado. O dia em que os governos municipal, estadual e federal, mas principalmente o governo central, decidirem gastar menos (e bem!), à Roda da Fortuna não restará outra alternativa senão olhar e sorrir para o Brasil.





Bolsonaro desestabilizou o País como raramente se viu. Se acertou internamente, errou feio externamente, tornando o Brasil um pária internacional, afugentando todo e qualquer capital de médio e longo prazos - afinal, como investir em um país à beira de um golpe de Estado? Além disso, como sabemos, encerrou seu desgoverno explodindo o déficit fiscal e desmontando a estrutura da União.

Lula, por sua vez, mostra-se ainda pior do que sempre foi - ao menos nas palavras. O pouco que fez, nestes 100 dias, não anima nem os mais otimistas. Mas, ainda assim, apenas com o anúncio do bom “arcabouço fiscal”, apresentado por Fernando Haddad (ainda que apenas e somente um plano) e a estabilidade política, a moeda americana ameaça cair frente ao Real.

Fossemos - os brasucas - menos incompetentes na hora do voto, e teríamos um câmbio decente (perto de 3 reais) e juros minimamente decorosos (3% a.a.). Fossem nossos eleitos menos incapazes e safados, e teríamos um ambiente de negócios favorável ao crescimento sustentado (mais emprego, mais renda e mais arrecadação de impostos). Mas se o “se” jogasse, Brasília se chamaria Zurique.