Jornal Estado de Minas

OPINIÃO SEM MEDO

Por favor, filhos amados, curtam a vida, sim. Mas permaneçam vivos e bem

Acabo de ler uma matéria e assistir a um vídeo de uma jovem linda, saudável, de 23 anos, relatando ter sido dopada e estuprada durante um rodeio ocorrido em Jaguariúna, no interior de São Paulo. 





O choro da moça dilacera o coração de quem é pai, como eu, de uma doce menina de 16 anos, começando a tatear a vida, a experimentar sensações, a fazer as próprias escolhas e a tomar, sozinha, decisões que podem impactar profundamente seu futuro (e o meu e de sua mãe).

A linha que separa a alegria, da dor e, no limite, a vida, da morte, é bem mais frágil e tênue do que imaginamos. Eu mesmo, nestes 54 anos, experimentei, duas ou três vezes, a fronteira final. Se aqui estou, foi por obra e acaso do que queiram chamar: Deus, destino, sorte, anjo da guarda, acaso.

PAIS E FILHOS

Em todas essas ocasiões marcantes - eu era muito jovem; menos de 25 anos - sempre me ocorreu a tristeza que sentiriam meus pais, especialmente minha mãe, ao receberem em casa a notícia da morte do filho, e toda vez que ouço casos trágicos, envolvendo acidente, overdose, violência, enfim, eventos súbitos que retiram os filhos de seus pais, não consigo deixar de sentir como se fosse comigo.





A garota de SP foi estuprada após ter ingerido - obviamente sem saber - alguma substância que a deixou impotente, à mercê dos selvagens criminosos. ‘Filha, não aceite bebida de estranhos’. Ou ‘filha, compre sua própria bebida’. Ou ainda, ‘filha, mantenha seu copo ou garrafa sempre à vista’. Qual pai ou mãe não repete, à exaustão, essa espécie de mantra? Qual pai ou mãe não roga, em súplica, ‘filho(a), não beba se for dirigir e não entre, de forma alguma, no carro de quem bebeu’?

Filhos crescem e com eles a preocupação dos pais. Drogas, álcool, sexo, violência urbana… Hoje compreendo perfeitamente as noites insones da minha mãe até o último filho chegar em casa (tadinha, eram quatro meninos da pá da virada!), e a dificuldade em conseguir, de fato, introjetar na mente - e no comportamento - de adolescentes ou jovens adultos, certas regras fundamentais de auto proteção: ‘use camisinha; não beba; não fume; não experimente droga; não corra; não caminhe por ruas escuras de madrugada; não se meta em briga; não ande em má companhia…’.

DIAS ATUAIS

Para tornar ainda mais difícil a vida dos pais, muitas vezes, infelizmente, nem mesmo dentro de casa nossas crianças estão seguras. A internet e as redes sociais trouxeram perigos que, há vinte ou trinta anos, só havia nas ruas. Pedofilia, assédio sexual, apologia ao suicídio ou terrorismo, compra e venda de armas e drogas; a lista é enorme. Sem falar nos ‘amigos’ que carregam para dentro do quarto (com a porta sempre fechada, aliás) dos nossos filhos, bebidas e até mesmo drogas.

Muitos acreditam que boa educação, bom ambiente e amizade com os filhos são o suficiente para blindá-los - e a nós! - das consequências de péssimos atos e hábitos, impensados ou adquiridos. Por óbvio, tudo isso ajuda muito e é, eu diria, essencial. Mas a garantia de sucesso, no caso, da ausência de más notícias inesperadas - dentro do que é evitável e dependente de nós, é claro -, passa pelo quase sempre incontrolável impulso juvenil. 





São os filhos o ‘agente’ capaz de prevenir, a si mesmos e a seus pais, a dor de uma tragédia evitável. São o depositário fiel das nossas saúde, felicidade e sanidade. E como tal precisam compreender seu papel de maneira clara. Não podemos, pais, carregar sozinhos uma carga explosiva que exige quatro mãos para não detonar. É preciso trabalho em equipe; é preciso viver como time. A molecada entra em campo e se diverte, beleza! E nós ficamos na retaguarda, vigiando, orientando e cobrando responsabilidade. 

ENCERRO

Uma coisa é não atirar o peso da nossa ansiedade, nosso medo e nossa insegurança nos ombros de quem nem sequer consegue carregar as próprias angústias. Outra, bem diferente, contudo, é, em nome da leveza da idade ou da preservação da alegria de viver, permitir à garotada ‘meter o louco’ e agir como se não houvesse amanhã. Porque o há! 

E esse amanhã precisa ser bom para os dois - filhos e pais. Apenas um jogo de ganha x ganha poderá ao menos minimizar os riscos de um mundo tão pró-crueldades como o horrendo caso acima. Essa é a mensagem que tento passar para vocês, e que, espero, passem para seus filhos e netos. Principalmente nestes dias de ‘abertura’, em que todos anseiam viver a vida plenamente, após um ano e meio de quarentena.   

Tenhamos todos muito boa sorte e extremo sucesso nessa empreitada hercúlea.

audima