Jornal Estado de Minas

RICARDO KERTZMAN

Eleições: Bolsonaro não venceu ou perdeu; só ficou menor

“Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder”. Ah, que saudade da nossa mulher sapiens, grande estoquista de vento. Na boa, cada vez que escuto o “mito” falar, penso que, afinal, não estávamos tão mal assim. Tipo: éramos felizes e não sabíamos, hehe. Mas bora ao que importa! 

Em primeiro lugar, não creio nessa bobagem de bolsonarismo. Não se formam correntes políticas em menos tempo que se envelhecem pingas de má qualidade. Bolsonaro venceu a eleição por uma série de circunstâncias, e a menor delas foi si mesmo. Ele e seus pimpolhos tinham - e voltaram a ter - o tamanho que sempre tiveram. O resto veio com o lavajatismo e o anti lulopetismo.





Dito isso, não embarco na ideia de que o “bolsonarismo” saiu perdendo nestas eleições municipais. No máximo, quem saiu - ou não - eu diria fragilizado, foi o próprio Jair Bolsonaro. Ainda assim, com algumas ressalvas. Eleição municipal nunca foi parâmetro para eleição presidencial e vice-versa. Ainda que a influência de prefeitos populares conte bastante em eleições estaduais e federais.

Fernando Henrique, por exemplo, no auge da popularidade do Plano Real, levou uma coça e tanto em São Paulo. O mesmo ocorreu com Lula, que não emplacou seu candidato, também na capital paulista, quando era um semideus. O eleitor municipal opera em outro nível de decisão. Está muito mais preocupado com seu dia a dia que com embates ideológicos e/ou de valores.

Bolsonaro apoiou declaradamente - e descaradamente, eu diria, através de um “programa eleitoral paralelo” - quase uma dezena de candidatos Brasil afora. Destes, apenas dois (Marcelo Crivella, no Rio de Janeiro, e Capitão Wagner, em Fortaleza) seguiram para o segundo turno. No resto do País, como em São Paulo e em Belo Horizonte, levou uma surra de vara verde. 





Por aqui, Kalil levou no primeiro turno, vejam vocês, enquanto Bruno Engler (PRTB) conseguiu menos de 10% dos votos válidos. Para piorar a situação, o marido da “Micheque” (brincadeirinha!! Calma!!), assistiu a uma ascensão importante do PSOL, como em Porto Alegre, com Manuela D’Ávila, e em Belém, com Edmilson Rodrigues. Ambos estão no segundo turno.

Como “desgraça pouca é bobagem”, o papis do Flávio Rachadinha assistiu ao outro bolsokid, o Carlucho, apanhar feio de um psolista no Rio: Tarcísio Mota, o vereador mais votado da capital fluminense. Vocês sabem: Bolsonaristas querem ver o capeta, e até um petista, mas jamais um psolista. Para completar, Carlucho teve quase 40 mil votos a menos que em 2016. Algo como 35%.

Em grande número e espalhadas por todos os municípios, mulheres (muitas delas, negras) e até transsexuais foram eleitas. Em Belo Horizonte, por exemplo, a vereadora mais votada foi a professora transsexual Duda Salabert (PDT). Visto assim, ao que parece, o Brasil civilizado mandou um forte recado aos bolsonaristas - nada de bolsonarismo, hein! - selvagens: chega de ódio e exclusão.





Se não perderam, é certo que Bolsonaro e sua seita não venceram. Mas podemos afirmar, com absoluta certeza, que o amigão do Queiroz não repetiu a performance de 2018, quando ajudou a eleger uma penca de trogloditas por todos os estados, na esteira da onda de extrema direita que varreu o Brasil naquela oportunidade. Bolsonaro está, sim, menor. Como menores estão seus seguidores. 

Agora, se isso é uma tendência que se repetirá em 2022, só Deus e os eleitores sabem. Talvez Joe Biden e Donald Trump, também. Que assim seja.