Jornal Estado de Minas

PSICANÁLISE

Não podemos ser cúmplices do genocídio dos povos indígenas

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A Revista Ecológico, em sua edição da lua cheia de novembro e dezembro de 2021, foi dedicada ao tema “Questão indígena – Um Brasil que não reconhece e mata seus primeiros habitantes”. Assunto importante sobre o qual precisamos nos deter. O que ocorreu com os povos indígenas do mundo, e atualmente ocorre no Brasil, é, todos sabem, um genocídio.




 
Nunca me esqueço do filme “A missão” (1986), dirigido por Roland Joffé. Um grande conflito entre jesuítas e escravagistas sobre os índios guaranis – os primeiros, para convertê-los; os outros, para capturá-los.

Foi um genocídio violento, não menos que outros da humanidade, sobre aquele povo que não se dobrou. Os guaranis não abriram mão de sua cultura e nunca puderam ser escravizados por não assimilarem e se dobrarem a escravagistas e religiosos, sendo que estes ainda não desistiram de sua missão evangelista.

O povo indígena tem seus próprios valores, é filho da natureza. Nada pode substituir sua sabedoria ancestral. Como o homem branco é o exterminador mais instrumentalizado para a crueldade, opressão e sedução do outro, ele anseia suprimir diferenças. Não suporta oposições, independências.





Impor o bem universal como valor totalizante é tarefa impossível, pois cada ética determina uma visão de mundo. A ética religiosa é completamente diferente da ateísta, da filosófica, da científica e, enfim, da psicanalítica. Ainda podemos lembrar a diversidade das escolhas de gênero. Da questão racial e toda gama de preconceitos vindos daqueles que acreditam ter supremacia sobre todos e tudo.

Todas essas coisas são inegáveis e demonstram que no real, na vida como ela é, o que existe mesmo é uma enorme diversidade. Somos todos, de fato, estrangeiros nesta Terra. Hóspedes passageiros e, como manda a boa educação, deveríamos agir como se não fôssemos donos de nada, nem mesmo de nossos corpos e mentes. No mais, podemos ter laços afetivos e redes sociais de apoio e comunhão. Ou estranhamentos que vêm daqueles que pretendem um para-todos impossível, tipo pequenos “hitleres”. Nem guerra resolve, nem nada.

É bom sempre reler o poema de Eduardo Alves da Costa, “No caminho, com Maiakóvski”: “Na primeira noite eles se aproximam/ e roubam uma flor/ do nosso jardim./ E não dizemos nada./ Na segunda noite,/ já não se escondem:/ pisam as flores,/ matam nosso cão,/ e não dizemos nada./ Até que um dia,/ o mais frágil deles/ entra sozinho em nossa casa,/ rouba-nos a luz/ e conhecendo nosso medo/ arranca-nos a voz pela garganta./ E já não podemos dizer nada.”





Importante também este belo discurso proferido por uma jovem brasileira na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), em novembro do ano passado:

“Meu nome é Txai Suruí. Eu tenho só 24, mas meu povo vive há pelo menos 6 mil anos na floresta amazônica. Meu pai, o grande cacique Almir Suruí, me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a lua, o vento, os animais e as árvores.

Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo.

Uma companheira disse: vamos continuar pensando que com pomadas e analgésicos os golpes de hoje se resolvem, embora saibamos que amanhã a ferida vai ser maior e mais profunda?

Precisamos tomar outro caminho com mudanças corajosas e globais.





Não é 2030 ou 2050, é agora!

Enquanto vocês estão fechando os olhos para a realidade, o guardião da floresta Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo de infância, foi assassinado por proteger a natureza.

Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui. Nós temos ideias para adiar o fim do mundo.

Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis; vamos acabar com a poluição das palavras vazias, e vamos lutar por um futuro e um presente habitáveis.

É necessário sempre acreditar que o sonho é possível.

Que a nossa utopia seja um futuro na Terra.”