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Estado de Minas Coluna

Muitos não são representados por políticos que comungam com a morte

Quando a lei, a castração e a ética inexistem, o resultado é fatal. Os brasileiros votaram. Dizem que cada povo tem o presidente que merece. Mas não todos


20/06/2021 04:00


Depois que as Forças Armadas contrariaram suas próprias normas favorecendo os interesses do presidente Bolsonaro decidindo não punir o general e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello da transgressão disciplinar por sua participação na manifestação, fiquei pensando no futuro da democracia.

Até então, acreditei estarmos lidando com um presidente desinformado e ousado em se promover à custa da truculência (aprovou o massacre de Jacarezinho), bravata, machismo, homofobia, que não teme contrariar a ciência e os protocolos que o mundo inteiro assumiu para derrotar a COVID de forma uníssona.

Até então, pensava ser negacionismo do presidente. Agora, creio que algo maior vem crescendo e compromete a democracia com manobras sistematizadas e pensadas. Por meio de emendas milionárias, o presidente favoreceu o Centrão, dispensou a lista tríplice e nomeou candidato próprio na Procuradoria-Geral da União, colocou militares em inúmeros cargos no governo, ganhando simpatia e comprometimento com a corporação.

Então, nos surgem rugas na testa prevendo, tomara que equivocadamente, que em 2022, caso não vença as eleições, pode haver uma resposta truculenta, autoritária, acusações de fraude (à la Trump), chegando à tentativa de golpe armado caso as Forças Armadas comprem esta ideia. Afinal, a extrema-direita se calou por repressão, mas não morreu. Haja vista o que o presidente Bolsonaro tem amealhado.

Em entrevista à Carta Maior, Vladimir Safatle, escritor, psicanalista e professor de filosofia, diz: “Não houve eleição em 2018. A gente tem um processo de natureza revolucionária sendo capitaneado pela extrema-direita (...)”. Sim, é a extrema-direita que tem saído às ruas, só recentemente a esquerda reagiu. E é necessária uma radicalização de dois polos. A extrema direita já radicalizou.

Safatle sinaliza para a morte da esquerda brasileira, hoje sem projeto. Sua capacidade de reorganização exigiria assumir sua morte e que se entendessem os porquês. Só se resolve problema admitindo-o.

Temos hoje 7 mil militares ocupando cargos no governo e ninguém põe tantos militares a seu lado pensando em sair ano que vem. A ditadura militar terminou com negociações, porém seus ideais nunca. Perseveraram sob repressão e, por isso, retorna. Boaventura de Souza Santos entende que somente o povo nas ruas poderá dar legitimidade à eleição. Não há política sem povo na rua.

Vozes que se calaram voltam com o chamado à truculência, o apelo às armas e o retrocesso será incalculável.  Assassinos, militares e milicianos gozavam com a tortura. Hoje seus adeptos são acalmados e homenageados nos discursos do presidente, mais de uma vez, a exemplo do coronel Ustra. Seu filho, deputado Flávio Bolsonaro, agraciou Adriano da Nóbrega, o miliciano, com a maior comenda do Rio de Janeiro, a medalha Tiradentes. Onde há fumaça há fogo, dizia Freud.

A psicanálise trabalha com o conceito de recalque. Aquilo que é recalcado, esquecido pela consciência, fica reprimido, porém permanece ativo no inconsciente, buscando encontrar uma saída para satisfação, mesmo que perversa. E quando a lei, a castração e a ética inexistem, o resultado é fatal. Os brasileiros votaram. Dizem que cada povo tem o presidente que merece. Mas não todos. E são muitos, não todos, que sabem não serem representados por políticos que comungam com a morte.

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