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Nem uma mãe pode dar-nos tudo. São mulheres que têm também seus limites

Sejamos gratos a elas pela dádiva da vida, porém sigamos conforme nosso desejo, sem concessões ou culpa por nossas opções


09/05/2021 04:00


De alguma maneira, tudo o que pensamos e acreditamos ser o correto, toda a nossa cosmovisão e ideologias vêm do outro. Não qualquer outro: mas o Outro. Com maiúscula porque ele nos gerou, recebeu, ensinou sua linguagem, sintaxe, regras, normas. Deixamos de ser organismo para nos tornarmos humanos.

Com seu calor e afeto, com seu olhar nos envolveu e nos apontou seus caminhos, ideais e desejo. Nossa imagem corporal é reconhecida por nós no espelho de seu olhar, nos vemos nele e jubilamos! Este Outro é condição de sobrevivência, questão de vida ou morte, portanto temos de nos fazer amar por aquele que nos manteve vivos e na cultura humana.

Cultura e valores que se tornam nossos. Assim foi também com ele. Outro, visto como onipotente, que nos organizou na linguagem, matriz de quem herdamos o desejo. Ao qual nos alienamos para sermos dignos de amor. Lacan dizia que desejo é desejo do Outro. Nenhum desejo é original.

As crianças costumam perguntar às suas mães quando estão diante de uma mesa com comidas diferentes das que estão habituadas: “Mãe, eu gosto disto?” E as mães vêm, até muito tarde, indicando o que devemos ser, amar, odiar, pensar, fazer e por aí vamos... Mães e filhos! Ela nos faz filhos e nós a tornamos mãe.

Os ideais deste Outro são assimilados e se tornam nossos. Tudo isto se dará não porque escolhemos, mas é como se fosse uma escolha forçada. O que era exterior torna-se interior num processo de assimilação. Nascemos organismo e nos tornamos adultos humanos e políticos.

Porém, nenhuma mãe é perfeita, completa. Elas têm suas faltas e isto é bom. Nenhuma, mesmo que queira, poderá dar tudo que esperamos porque não é onipotente, embora pareça ao filho e até ela própria pense que possa. A privação, a frustração e a castração fazem parte da experiência de viver e é imprescindível para viver na cultura, possibilitar os laços sociais. Para amar, trabalhar e desejar.

Na vida social aprendemos ideias novas, diferentes, que nos fazem pensar e questionar os valores familiares. Esta separação dos ideais dos pais, quando adotados a diferença, é dolorosa, arriscando a perda de amor do Outro (não raro: preferir filho morto a filho gay). Mas a vida é feita de riscos, apostas e perdas.

Se devemos a vida às mães, saibamos que esta dívida não se paga. Nem mesmo se fizermos tudo segundo seu desejo. Portanto, sejamos gratos pela dádiva da vida, porém sigamos conforme nosso desejo, sem concessões ou culpa por nossas opções.

Sabemos que as mães – corpo de onde saímos, pedaços dele que somos – são de inestimável importância em nossas vidas. Mesmo as ausentes.

Deixemos de lado hoje, Dia das Mães, as queixas das demandas não atendidas, pois nem mesmo uma mãe pode dar-nos tudo. São mulheres que têm também seus limites e fizeram o que puderam e mais não puderam.

Abracemos este ser que nos desejou um dia e nos permitiu nascer e gozar da vida neste planeta lindo em que vivemos, e que nos protegendo ou não fez o que lhe foi possível. Nos alimentou e, mesmo que a duras penas e problemas no caminho, nos fez capazes da sobrevivência e, mais do que isto, de estarmos aqui: escrevendo, lendo, amando e vivendo.

Porque é o Dia das Mães e os que ainda as têm poderão abraçá-las, mesmo que à distância e com o olhar, e aqueles que a perderam poderão lembrar-se de que a vida é a maior herança por elas deixada.

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