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Estado de Minas O BRASIL NO DIVã

Psicanalistas estão falando sobre a política e seus efeitos

O presidente acredita ter poder absoluto. Indiferente às mortes da pandemia, aglomera, prescreve, espalha discórdias e semeia tempestade


postado em 31/05/2020 04:00 / atualizado em 31/05/2020 08:08


A situação política no Brasil não está fácil. Estamos assistindo a situações de conflito, desacato a autoridades, desrespeito à democracia. A psicanálise trata do que não anda bem, e o que não anda bem é a política, que vai na contramão daquilo que deveria ser agora. Desgoverna mais nosso presente.

A insistente negação do que afirmam as autoridades sanitárias, a pressão economia versus saúde contra a flexibilização, enquanto a curva de contágio ainda não parou de crescer. O desgoverno é grande.

Sofremos pela pandemia, pelo isolamento e pelo cenário político durante essas últimas semanas. Psicanalistas estão em toda parte falando sobre a política, os sintomas e os perigos futuros para esclarecer os brasileiros sobre o perigo que ameaça a democracia.

A psicanálise é a política do inconsciente e sua ética é a do não absoluto.  A subjetividade precisa ser incluída na vida cotidiana e ela pressupõe a liberdade do desejo múltiplo. Existe algo que está além daquilo que é objetivo, o sujeito entre consciente e inconsciente e, portanto, não podemos aceitar verdades que se querem únicas. De fato, somos sujeitos divididos e errantes.

Sabemos que a verdade não é uma, e nem toda, só temos acesso a uma parte dela, ficando a outra parte inconsciente e desconhecida até mesmo do próprio sujeito. Entretanto, pode ser escutada. E podemos escutar que a sociedade está adoecida pelos sintomas que se apresentam atualmente. O acontecimento do coronavírus é em si a prova cabal de que certas práticas desregulamentadas têm consequências que afetam a todos.

A verdade que se quer toda é perversa. Ela pretende estar de posse de um saber completo, indubitável e inquestionável, sobre o que é melhor para todos, como se igualasse todos em uma única possibilidade. Não existe uma via única. Desta maneira, esta perversão pode ser entendida como antidemocrática, uma ameaça que exclui diferenças, ignora o desejo singular e único para cada sujeito, sendo a coletividade a convivência plural.

O presidente atual acredita ter poder absoluto e a posse de uma verdade única, debocha de tudo aquilo que não consta em sua lógica e interesses. Indiferente às mortes da pandemia, aglomera, prescreve, espalha dúvida, discórdias, semeia tempestade.

Os sintomas na política equivocada são claros. Incitação à violência, cinismo, irreverência para com a vida. Pressão inadequada, porque sem competência técnica, para indicar uma medicação cujos efeitos colaterais são conhecidos, ignorando doutores no assunto. Incitação do repúdio à mídia, provocando ataques a jornalistas, e tudo isto com um objetivo: criar caos, desestabilizar.

Os psicanalistas estão falando nas redes sociais e trabalhando muito para que as pessoas pensem. Tudo aquilo que vem de encontro aos valores democráticos e ameaça a liberdade e o respeito à vida como maior valor deve ser repudiado. Uma leva de conservadores que estavam inibidos ganhou força e saiu da toca fortalecida com tais posturas autoritárias.

Devemos nós, psicanalistas e democratas, defender nossas instituições, pois, mesmo imperfeitas, são a única forma de enfrentar ameaças a nossa sociedade. É inaceitável que um presidente se comporte tão mal e trate governadores de seu país com desrespeito e ofensas. Discordar é uma coisa, ofender é outra.
Nós brasileiros desejamos a democracia, a educação, a polidez e o respeito pela vida. E é difícil entender quem atenta contra tais valores. A psicanálise ensina que todo dia é dia de luta entre a pulsão de morte e a de vida das quais todos somos dotados. E quando a agressividade sobrepuja o amor, o resultado pode ser trágico.

Escolher o melhor nem sempre é fazer tudo que queremos nem falar tudo que pensamos. Ao contrário, é acatar limites e respeito, é andar de acordo com a educação e a coletividade. Fora disto, trabalhamos contra a civilização e a humanidade a que pertencemos.

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