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Estado de Minas DIáRIO DO ISOLAMENTO

O impacto do coronavírus na vida das crianças

Para os pequenos a imaginarização pode aumentar o medo real do contágio, porque sua condição de desamparo é maior que a do adulto


postado em 10/05/2020 04:00

Depois de 40 e tantos dias aquartelados dentro de casa, as consequências deste isolamento se fazem presentes e causam efeitos especiais de não sei que grau. Percebemos sensivelmente tais efeitos na labilidade do humor, na ansiedade, na agitação, na impaciência da espera, de uma incerteza que nos faz pensar. Até quando? Não vemos ainda um fim do túnel muito claro, pois tudo depende de cada dia, dos números, das infecções descenderem.

Minha neta se aquartelou comigo, permanecendo em casa desde o início deste isolamento social, porque ambos os pais trabalham e vêm e vão todos os dias, aumentando os riscos de contágio, mesmo com todo cuidado, e felizmente estão bem. Tenho acompanhado suas atividades on-line, aulas, lives, pesquisas, deveres, jogos com grupos de colegas. Outras atividades fora das redes são desenhos, brincadeiras, leituras, jogos de tabuleiro com os quais tentamos manter firme e elevado o moral em casa. Diversificamos o máximo.

Por mais que encontremos distrações e ocupações, além do trabalho que agora é todo on-line, esta onda de vírus traz um impacto forte. Não só por ser mundial, mas porque a gente vê nos jornais as notícias e estatísticas custando a cair. O terror espalhado por tudo o que se diz a respeito do novo coronavírus, e não sem motivos, parece ser muito mais contagiante do que o próprio vírus, e acredito que para as crianças os efeitos de medo são acompanhados de um imaginário proliferante.

Para as crianças talvez esta imaginarização aumente o medo real que devemos ter do contágio, porque sua condição de desamparo é maior que a do adulto. Nós nascemos dependendo do outro para tudo, para manter nossa vida, para nos dar de comer, beber, nos aquecer, nos higienizar.

O mundo lhes parece imenso e perigoso sem a segurança e suporte dos adultos em que confia. Elas precisam e dependem deles e esta longa dependência extrapola a infância e dura até que alcancem autonomia financeira.

A marca deste desamparo fundamental do nascimento levaremos para sempre, fazendo eco em nós, e evidentemente que o momento atual nos coloca diante de um perigo iminente e real e que nos faz evocar nosso desamparo, nossa vulnerabilidade.

No que diz respeito a essa criança a que me refiro, minha netinha, percebo que evita sair de casa mesmo comigo e de carro, lava as mãos toda hora sem que eu precise lembrar, toma seu banho religiosamente, e estabelece para ela mesma uma rotina com regras e disciplina. Tem hora para acordar, estudar e se eu saio pra comprar alimentos, remédios ou qualquer coisa de primeira necessidade, meu único motivo até então, quando chego me evita até que eu tenha tirado a roupa da rua, tomado banho e feito todo o ritual antivírus.

Toda vez que vê o presidente fazendo o contrário de todo mundo e quando vê a aglomeração na porta do Alvorada pergunta: “Mas ele não tem medo não? E este povo sem máscara ali do lado?”. E fala alto: “Vai pegar coronavírus!!!!”

Outro dia, me saiu com uma pérola. Ela disse: “Ai, vó! Tô com saudade da escola, de estudar, de levantar cedo pra aula... tô com saudade de tudo que era ruim!” Caímos na gargalhada quando concordei e disse que também estava.

Seu primeiro tédio até que demorou. E fez pensar nas nossas queixas cotidianas e corriqueiras: reclamamos das obrigações, de tudo que não é comodidade, mas quando somos privados desses mesmos incômodos, sentimos falta deles e percebemos que são mais saudáveis do que ficar sem eles. Assim terminamos mais um dia de nossa quarentena e eu cá do meu cantinho fiquei pensando enquanto ela caía no sono.



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