Jornal Estado de Minas

Um abraço nos mineiros, tão castigados por tragédias

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Dias atrás, encontrei uma frase escrita no WhatsApp por uma mocinha na puberdade que me fez parar para pensar. Por que ela teria adotado essa ideia? O que estaria vivendo para ser sensível ao pensamento que dizia: Ter paz é melhor do que estar certa. Então, o estado de espírito pacificado está acima de uma disputa ideológica ou de opiniões diferentes. Gostei daquilo e admirei a pessoa.



Na psicanálise aprendemos que a criança é um sujeito de desejo. Tem posições e conflitos desde muito cedo, devemos escutá-la para ter acesso ao afeto que a afeta. Por isso prestei atenção na mocinha, como prestaria se fosse ali um adulto falando. Peguei a ideia que me pareceu bem apropriada para o nosso tempo, cheio de disputas sobre ideologias e política, gente brigando por causa de opiniões e intolerâncias abalando o afeto.

Logo depois, estava folheando os jornais quando me deparei com um artigo de título mais ou menos assim: Seja gentil antes de discordar. Parei de novo. Não li o artigo, porque na hora fui atender a um chamado e me esqueci. Procurei depois e não o encontrei. Pena. Nem sei o autor. Mas a ideia era muito boa.

Precisamos de gentileza – e muita – para enfrentar os tempos difíceis que castigam Minas Gerais. Estamos todos à flor da pele nestas semanas sofridas. Não bastasse a rememoração da tragédia de Brumadinho e todas as pessoas chorando por suas perdas e desaparecidos, pela devastação ambiental, e mais uma onda gigante nos arrasta.



Quando começaram a explorar o nosso minério, aconteceu uma campanha incrível, lançando adesivos que colamos nos vidros dos carros. Ele dizia, em letras brancas: Olhe bem as montanhas. Anunciavam o que estava por vir – e veio. Aí está. Nosso minério trocado pelo vil metal, hoje, de valor acima mesmo do que o das pessoas para muitos. Tragédia anunciada.

Não bastasse esta e já outra nos abate. Também consequência da devastação ecológica. O asfalto não absorve a água, os rios canalizados debaixo dele, bueiros com lixo e insuficientes. Somados, muitos outros motivos, naturais ou não, fizeram desta chuva imensa um acontecimento igualmente trágico.

Casas abaixo, gente soterrada, cidades inundadas, muitos desabrigados, e o estado todo comovido em campanha solidária para acolher e ajudar numa hora de extremo sofrimento. A força da natureza é assustadora, a água levando tudo é triste de se ver.



Nós, mineiros, castigados por tantos acontecimentos terríveis, estamos mesmo precisando é de cuidados e atos responsáveis. Se a natureza poderosa nos coloca à prova, nos lembremos de que construímos nossa civilização com o intuito de nos proteger contra as intempéries e nem assim conseguimos alcançar sucesso pleno. E, se erramos agora, não é hora para contendas. É hora de entender que a natureza e o real jamais serão dominados pela mão humana, não completamente. Somos grão de areia na imensidão.

Mesmo tão pequenos, sejamos grandes, nos dando as mãos, com afeto e gentileza, pois assim qualquer dor pode encontrar abrigo. Estamos precisando de braços, abraços, alento.