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Estado de Minas PEDRO LOBATO

A vacina pode reativar a economia, mas há riscos nas contas públicas

A depressão e o mau humor poderão ser rapidamente trocados pelo explosivo desejo de consumo, reprimido e acumulado por quase um ano


08/12/2020 04:00 - atualizado 08/12/2020 07:38

Expectativas de grandes investidores é de que, com a vacina, o mercado consumidor volte a se fortalecer(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 10/8/20)
Expectativas de grandes investidores é de que, com a vacina, o mercado consumidor volte a se fortalecer (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 10/8/20)

 
É mais do que conhecida a corrida dos grandes investidores, especialmente os do mercado financeiro, em busca da antecipação dos cenários econômicos. Por isso mesmo, qualquer analista sem a limitação de antolhos políticos vigia os movimentos dessa gente e, quase sempre, consegue aconselhar seus clientes a tomar decisões oportunistas. Isso inclui vender logo os ativos que ainda estão caros e comprar rápido os que, brevemente, vão deixar de estar baratos.
 
Parece fácil, já que todo esse movimento segue a antiga lógica de comprar barato e vender caro. O difícil é perceber antes dos outros concorrentes (e, nesse campo, todo mundo concorre com todo mundo) quais tendências estão se consolidando, ou seja, quais mudanças estão prestes a ocorrer.

Assim, quando a titubeante Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu que o ataque do novo coronavírus tinha se transformado numa pandemia, milhões de dólares até então aplicados em ações de empresas ligadas ao negócio do turismo e ao setor de derivados de petróleo já tinham trocado de mãos. Ou seja, já tinham voltado aos seus antigos donos, livrando-os dos prejuízos que viriam com a quarentena forçada.
 
Essa antecipação dos efeitos da pandemia sobre a atividade econômica não foi diferente em relação aos papéis das dívidas públicas de países pobres. Muito dinheiro estrangeiro trocou as aplicações em títulos do Brasil pela segurança dos países ricos e das aplicações em ouro.
 
Mas, nas últimas semanas, os mercados passaram a registrar uma movimentação em sentido oposto. Embora evidente no desempenho das bolsas e nas taxas dos mercados de risco, essa mudança não tem sido claramente percebida pelo comum dos mortais nem pela mídia em geral, ambos focados na segunda onda da COVID-19 na Europa.
 
Como explicar a sequência de altas nas bolsas da maioria dos países em plena ameaça de volta da pandemia? Novembro fechou quase em festa na maioria dos mercados e nem a bolsa brasileira ficou de fora. A Bovespa fechou o mês passado com seu principal índice acumulando valorização de 15,9%, enquanto o dólar perdia seu ímpeto. Engana-se quem pensa que foram só os bons resultados do mercado formal de trabalho e do fim da recessão técnica medida pelo Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre que pesaram.
Quem colocou lente mais forte na Bovespa percebeu que os investidores estrangeiros estão voltando e, em novembro, compraram mais do venderam papéis de empresas brasileiras. Suas operações resultaram em mais de R$ 33 bilhões de saldo, aproveitando que o Brasil pós-pandemia ainda está barato.
 

Expectativas


Na verdade, o que está no radar é o fim da pandemia garantido pela maturação dos processos de produção da vacina. Não só os grandes laboratórios estão na corrida para abocanhar pedaços desse mercado, como os governos que dispõem de mais recursos já se adiantaram. Os Estados Unidos e o Reino Unido, por exemplo, começam a vacinação ainda esta semana. Os demais virão em seguida, tão logo aumente a certificação em cada país.
 
Queiramos ou não, a expectativa – para não dizer a certeza – é de que o efeito quase imediato e seguro das vacinas vai representar o fim da pandemia e a volta da plena atividade econômica. A depressão e o mau humor poderão ser rapidamente trocados pelo explosivo desejo de consumo, reprimido e acumulado por quase um ano.
 
Afinal, se a economia é movida por expectativas, a que os donos do dinheiro têm, no momento, é essa. E eles não costumam errar. Está, então, dada a largada da corrida para identificar os negócios que vão se recuperar primeiro e agir rápido para aproveitar as melhores oportunidades. A pergunta que sobra é: o Brasil está preparado para tirar partido da bonança que se anuncia?.
A resposta é não. É claro que alguma parte da festa nos será benéfica. Em 2021, nossas commodities estarão ainda mais valorizadas com a retomada mundial; os juros no Brasil deverão continuar baixos em relação ao nosso passado recente, o que vai estimular o investimento produtivo; o dólar deve pressionar menos o real; e, o mais importante, o astral do consumidor estará em alta.

Dever de casa


Mas, para que tudo isso seja sustentável, temos de retomar com vigor nossa árdua tarefa de nos livrar da pesada dívida pública, gerada pelo déficit fiscal que, de crônico, foi promovido a agudo durante a pandemia. Será engano fatal se a administração pública se contaminar com a alegria do fim da pandemia e, em vez da austeridade, partir para a farra do gasto populista e da manutenção de estímulos fiscais e financeiros adotados na crise sanitária. Vai ter dinheiro sobrando no mundo, mas, para atraí-lo de forma duradoura e com ele modernizar nossa infraestrutura, fortalecer nossa competitividade e nos colocar em linha com a tecnologia de ponta, temos de fazer nosso dever de casa.
 
Manter a âncora fiscal do teto de gastos fora das pressões do calendário eleitoral será decisivo para sustentar a viabilidade da dívida pública e a confiança na economia brasileira. Sem isso, só teremos mais um frustrante voo de galinha.

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