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Estado de Minas Coluna

A inflação do tomate não é motivo para alarme, embora pese no bolso

Já aprendemos que preços altos se combatem com mais produção, mais concorrência e não com intervenções ditadas pela má impressão que causa o aumento isolado em itens da alimentação


29/09/2020 04:00 - atualizado 29/09/2020 08:27

O intervalo entre uma safra e outra no Brasil pressiona o valor do tomate nas feiras e sacolões do país (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press 19/7/12)
O intervalo entre uma safra e outra no Brasil pressiona o valor do tomate nas feiras e sacolões do país (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press 19/7/12)

O preço do tomate subiu muito nas últimas semanas. Os meses de agosto, setembro e parte de outubro costumam ser ingratos para esse item tão frequente no prato da maioria dos brasileiros. Nem todo mundo que vive na cidade sabe, mas para o produtor rural não há novidade alguma. Esse é um período entre a primeira e a segunda colheitas de tomate neste país que, de tão abençoado, consegue tirar do chão mais de uma safra por ano de vários alimentos.

Vem desse desconhecimento urbano o estranhamento e, não raro, a suspeita de que o pessoal da feira, do supermercado ou do sacolão estaria apenas praticando gananciosa esperteza. Pior ainda é quando o aumento do preço do tomate, provocado pela escassez da fruta, não vem sozinho. Esse é, aliás, o caso atual. A carne, o óleo de soja, o arroz e até o feijão já vinham protagonizando um festival de aumento de preços, cada um com sua história.

A valorização do dólar em relação ao real é parte importante desse enredo, já que influi no preço dos insumos importados, das rações e do transporte. Esse mesmo efeito do câmbio tornou as exportações brasileiras muito lucrativas, especialmente as de carnes, soja e arroz, o que acabou se refletindo nos preços internos desses produtos. Não temos exportação relevante de tomates, mas a sua entressafra chegou bem na hora do aumento daquelas outras atrações do cardápio.

Tudo isso se somou ao aumento do consumo de alimentos pelos milhões de beneficiários do auxílio emergencial dado pelo governo federal. O resultado deve pesar nas contas do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro, que o IBGE está computando e deverá divulgar em 9 de outubro. Desde já, marinheiros de primeira viagem estão embarcando nas primeiras impressões do consumidor, que, vindo das compras para alimentar a família, tem a impressão de que foi roubado.

A sensação é de que “tudo está subindo demais”, de que a inflação estaria descontrolada e de que “o governo precisa tomar providências urgentes”. Nesse ponto, não faltam analistas de intenções duvidosas e mesmo economistas de antiga escola, sempre prontos a sugerir intervenções do tipo tabelamento de preços ou prisão dos malvados promotores da carestia.


Populismo

 
Já houve governos que caíram nessa esparrela populista que desestimula a produção e, com isso, reduz a oferta, esvazia prateleiras e faz surgir um mercado paralelo de gêneros alimentícios. A esta altura, já aprendemos que preços altos se combatem com mais produção, mais concorrência e não com intervenções ditadas pela má impressão que causa o aumento isolado em itens da alimentação.

Já é tempo de conhecermos um pouco mais sobre essa sazonalidade dos preços e não nos deixar enganar por espertalhões da política ou dos negócios. O próprio IBGE publicou na semana passada o IPCA15, que é uma antecipação da inflação oficial de cada mês. Entre a segunda quinzena de agosto e a primeira de setembro, os preços dos alimentos lideraram os aumentos, com elevação média setorial de 1,48%. Além das carnes, a alta foi puxada pelo tomate (22,53%), pelo óleo de soja (20,33%) e pelo arroz (9,96%). O leite longa vida também teve seus preços aumentados em 5,59%.

Mas nem de longe a inflação do período chegou a esses percentuais. O aumento do IPCA15 foi o mais alto para um mês de setembro desde 2012, mas não passou de 0,45%. Ocorre que a inflação oficial é calculada com base em uma ampla cesta de produtos, cada um com seu peso relativo variando conforme cada região metropolitana do país.

Afinal, os cardápios não são exatamente iguais em todo o território nacional. Variam até mesmo de pessoa para pessoa. Para os vegetarianos, o preço da carne não faz a menor diferença. Tem gente que não gosta e quase não come tomate, peixe ou carne de bode. Por isso mesmo, são atribuídos pesos a cada item de uma ampla cesta consumida por famílias com renda de um a 40 salários mínimos.


Irresponsabilidade

 
Após chegar a uma média nacional, o IBGE considera, atualmente, que todo o segmento de alimentação e bebidas tem peso de 19,3483% no índice geral de inflação. Isoladamente, o tomate pesa 0,1798%; o arroz, 0,4753% e as carnes, 2,6636%. Ou seja, mesmo que esse setor tenha sido impactado por forte aumento de preços, como ocorre no momento, a queda ou a estabilidade em outros itens da cesta podem puxar a média geral para baixo. Portanto, nada de pânico, a inflação continua muito abaixo da meta anual de 4%.

É claro que, quanto menor a renda da família, mais peso tem o item alimentação no seu orçamento e a ele se somam o transporte público, a habitação, a saúde e a educação. Não é à toa que a inflação é considerada pelos economistas sérios como o pior imposto que se cobra dos mais pobres, ao contrário do que disseram governantes em passado recente: “Um pouco de inflação não faz mal”. Essa é a mesma irresponsabilidade que produz o déficit público, amplia o endividamento e, agora, pretende derrubar o teto de gastos.
 

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