Hoje é Ano Novo. Chega 2022 como haviam chegado 2020 e 2021, com a mesma carga de esperanças, não exatamente vazias, mas, digamos, convencionais. A carga de expectativas positivas da população brasileira ainda é relevante, embora muito menos confiante do que já foi em décadas e anos de maiores oportunidades de trabalho e mobilidade social.
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Eleições: quais são as 'armas' dos pré-candidatos à Presidência em 2022?Emprego cresce em grandes cidades de Minas, mas ritmo é lentoO tripé da harmonia: atributos essenciais para liderar o paísA taxa de desocupação entre jovens é um múltiplo da média do desemprego nacional. Muitos desses jovens não param de pedalar. Literalmente, são os ciclistas e motociclistas entregadores, estafetas do grande consumo nacional (ainda bem!) que, no entanto, não preparam nada para seu futuro. Apenas remediam as condições do seu próprio presente, comemorando a próxima chamada de entrega pelo celular pré-pago.
Além dos ciclistas, milhões deles, outros tantos são nossos bolsistas. Infelizmente, não bolsistas de estudos, mas de cestas básicas. O novo Auxílio Brasil é um hino à incompetência das políticas públicas de empregabilidade. Não se culpe o COVID pela tragédia do ócio incentivado de milhões de indivíduos. Tudo conspira na direção de perpetuar esse status quo. Nossa observação visual nos indica o que as estatísticas do IBGE confirmam: viramos a nação do não-trabalho. Quem pedala um bico, uma ocupação intermitente, rema contra a grande corrente oficial do não-trabalho.
Quando é que os atuais pré-candidatos falarão de seus planos efetivos para o emprego do presente e sobre a previsão da renda do trabalho no futuro? Duvido que o façam com consistência e domínio do tema. Mas não há por que culpar o candidato mal preparado. Seus preparadores técnicos tampouco sabem o que dizer, muito menos o que fazer.
A evidência maior dessa falta geral de planejamento sobre o mundo do trabalho no Brasil é nossa proverbial incapacidade de definir uma Previdência com lastro para o futuro desses ciclistas e bolsistas. O INSS permanece um bolso furado. A celebrada reforma da Previdência do governo atual nem passou perto do tema. A previdência pública do INSS é desenhada para não poupar nada para o futuro. O que se arrecada agora é o que se gasta hoje mesmo no INSS. Não há futuro. Se você perguntar ao ministro da Economia ou ao seu Secretário da previdência como ficam as projeções futuras do Fundo do Regime Geral de Previdência, o fundo do INSS, eles são bem capazes de responder, intrigados: “Que fundo é esse? Esse fundo não existe!” A incapacidade de planejar começa pela insuficiência de conhecer. Se você nem sabe que uma facilidade existe no seu celular para ajudá-lo, aquela facilidade não será real na sua vida prática. Assim também acontece com nossas opções de futuro. Sabemos, de fato, quais são elas? Se as desconhecemos, nossos desejos de um feliz 2022, repetirão a mesma bondade inútil expressa por nossos corações. E 2022 exibirá os mesmos traços de mediocridade pública que tanto detestamos na nossa vida coletiva.
Não precisa ser assim. Basta não insistir tanto em desempregar as poucas competências nacionais como nossa política oficial insiste em fazer. No passado, lá atrás, já tivemos exemplos brilhantes de antevisão de futuro por líderes dignos desse apelido. Gente da geração JK, e depois dele, cuja vocação para o planejamento nacional de longo prazo já foi exemplo para o mundo inteiro copiar. Então, não se diga que um futuro realmente melhor não seja mais possível. É viável sim; ainda dá tempo. Mas hoje corremos contra o relógio da demografia do envelhecimento nacional.
Expresso aqui meu desejo: que possamos sair de 2022 com a cabeça e a vontade pregadas em 2052. Um plano de futuro longo para nossos ciclistas e bolsistas. Só desse jeito fará sentido repetir: “Feliz Ano Novo”. A todos os leitores, um próspero 2022.