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O futuro da educação não é bom

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Para educar uma criança é necessário uma aldeia inteira resume um provérbio africano citado pelo Papa Francisco na defesa de um Pacto Educativo Global. No mesmo documento, alerta que para decodificar o mundo moderno é preciso outra pedagogia, que não queira amestrar e enquadrar os jovens no egoísmo de uma sociedade de negócios.




A educação entregou os pontos e seu futuro não é bom em países onde não funciona com autonomia.

Como diz o escritor Guimarães Rosa, mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende. Feita para libertar pessoas da ignorância a escola não deve usar seu poder institucional sobre o aluno para doutriná-lo. Educação é porto de embarque, não cais de carga do saber.
 
É desorientada uma sociedade que não educa para a vida livre, suficiente, harmoniosa, capaz e prazerosa e que não capacita os jovens para os itinerários profissionais distinguindo os maus valores da civilização de consumo e da desigualdade humana. Não se trata de querer criar um homem novo, como pretendia Jean Jacques Rousseau, mas adultos capazes de conviver sem competitividade destrutiva, paixões sem discernimento e sem noção da necessidade mínima ou razoável para se viver.
 
Educar é uma atividade multidisciplinar, refinamento do espírito visando à aquisição de atividades práticas e ao conhecimento do próprio direito. É mais do que avaliar o desempenho dos alunos por meio de testes e provas. Educar é possibilitar superar preconceitos sem impor estereótipos, dar ao estudante instrumentos capazes de compreender e utilizar de forma civilizada a alta tecnologia, invenções e máquinas criadas pelo progresso.




Há países em que a responsabilidade de educar é do Estado, outros que até dizem isto na sua Constituição, mas que quem cuida mesmo da questão é a família e o amor pelo futuro de seus filhos. A estética da educação somente se realiza se baseada na ética com que o país valoriza o ensino. As estatísticas produzidas por avaliações internacionais comparativas não são tudo, mas não há dúvidas de que sem esforço sistemático e organizado é difícil conseguir passar da opinião para o conhecimento.
 
Navegar por conta dos avanços digitais não tem sido suficiente para enfrentar o mundo moderno. Uma boa diretora, um “quadro negro”, a voz do aluno e do professor podem conter mais conhecimento do que o computador. Pois sem compreender a simplicidade da importância da educação, a evolução do mundo vai ser entendida como instrumento de poder e distinção e não usufruto do saber para a mudança das mentalidades.
 
Os países tentam se proteger aos olhos do mundo pois sabem que o coração humano é terra desabitada e a felicidade um estado de receio. A China escolhe poucas cidades onde permite que as avaliações internacionais façam suas pesquisas. Assim, Xangai obtém posições privilegiadas nos indicadores de qualidade. Singapura está sempre bem em todas as avaliações, mas o Canadá, que está um pouco atrás, é muito melhor para se viver de forma livre e democrática.




 
Contextos geopolíticos e valores humanos universais contam, pois educado é quem vive harmoniosamente. Há países como a Coreia do Sul e o Japão em que a educação é tão espetacular que finge não ver sua consequência para a alma dos jovens que desistem de viver antes da hora diante da angústia de fazer currículo de eficiência. Educar só vale a pena para a felicidade.
 
A importância da educação para a realização de anseios pessoais pode ser tratada das maneiras mais diversas. Entre outras abordagens, ela é via de acesso fundamental à garantia da cidadania; é o meio pelo qual as pessoas, desde a infância, organizam seu intelecto para compreender, participar e alterar a sociedade onde vivem; é a estrutura de formação de competências e desenvolvimento de talentos para desempenharem papéis específicos na economia e nas diversas especialidades profissionais. Nenhuma dessas abordagens é absoluta, sabedoria é multidisciplinariedade.
 
Inegável é que o sistema educacional de um país reflete a cara do panorama institucional que compreende e rege a sociedade. Sendo assim, se a educação molda e limita os sonhos do indivíduo, o sistema educacional freia os anseios gerais do povo. A educação não resolve o problema de quem vê o saber como negócio para a transmissão de poder arbitrário. Educação é para ficar modesto e respeitado e não pateta, tirano ou pinóquio.
 
A capacidade de dar um tratamento pragmático e racional à luta pela sobrevivência, e o esforço de mais aprender, faz da educação o contrário do excesso e da ostentação. Ser educado é a melhor maneira de sentir da vida o tempero para seguir vivendo sem desespero. (Com Henrique Delgado)