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A austeridade no chão

Rede de influentes atores que repudiavam gastos pelo governo está agora mostrando insatisfação com os resultados


postado em 13/10/2019 04:00 / atualizado em 13/10/2019 09:33


Enquanto o mundo recebe a notícia de que o Prêmio Nobel da Paz vai para um líder de soluções para conflitos primitivos nas áreas pobres da terra – já previsto pelo artigo “2019 – Ideias e sensações”, que publicamos aqui em 6 de janeiro deste ano –, a rica economia alemã dá sinais de entrar em recessão. Abiy Ahmed Ali, primeiro-ministro da Etiópia, é o vencedor do prêmio sueco-norueguês de quase R$ 4 milhões por sua cooperação decisiva na pacificação do conflito com a Eritreia, dois países vizinhos envolvidos em uma sangrenta guerra de fronteira desde o ano de 1998. O continente africano colhe esperanças em meio ao seu aparente destino de conflitos, enquanto a Europa acompanha com expectativa os movimentos da economia alemã.
 
Para piorar as coisas no austero governo Merkel, juros negativos no país não apenas colocam a política monetária incapaz de causar efeitos reais na economia, como a situação está irritando os pequenos e médios poupadores. Chega-se enfim à situação em que a rede de influentes atores socioeconômicos que repudiavam gastos pelo governo – os neoliberais ultrateóricos e habitantes das nuvens onde vivem as agências de risco – está mostrando insatisfação com os resultados de se tentar resolver tudo com política monetária e aperto nas contas públicas.
 
A crescente insatisfação alemã está convergindo com a posição da União Europeia de solicitar à Alemanha que gaste mais dinheiro. E invista em infraestrutura e ações que acelerem a caminhada do continente em busca de atingir as metas de mudança para uma economia com menos efeitos negativos sobre o clima. Foi em janeiro de 2009 a última vez em que o governo alemão aprovou um grande pacote de estímulo fiscal com aumento de benefícios sociais.
 
A imprensa alemã considera que o ministro das Finanças, Olaf Scholz, esteja trabalhando num pacote do mesmo tamanho do de 2009: 50 bilhões de euros. Estímulos fiscais podem ser mal desenhados e não gerar retorno algum, mas são a solução em tempos em que o desarranjo global deixa claro para a Alemanha que ela não poderá contar com demanda externa para crescer, ou ao menos suavizar a queda.
 
Afinal, o mundo está atravessando uma fase extremamente sensível com implicações drásticas para o sistema internacional de comércio que tanto beneficia a indústria alemã. Tanto no plano regional quanto no doméstico, os grupos que mais têm avançado em torno de Berlim têm sido os verdes. O pacote fiscal é uma oportunidade para o governo Merkel agradar a esse grupo e negociar uma via para sua sucessão em 2021.
 
Segundo o Índice de Estados Frágeis do think tank Fund for Peace, de Washington, o Estado alemão está em 2019 com a melhor percepção de legitimidade desde o início da série em 2006. A singular estabilidade que o governo Merkel representa em meio ao tumulto global será testada com a sucessão da chanceler. Dadas as confusões envolvendo EUA e China, a Alemanha entendeu que terá que cuidar da sua própria estabilidade, mesmo que de uma maneira à qual o governo atual não gosta.
Em agosto deste ano, um dos índices mais utilizados para medir risco geopolítico atingiu a pontuação mais alta desde abril de 2003. Compilado por Dario Caldara e Matteo Iacoviello, ele se baseia numa identificação de menções a situações que impactam risco geopolítico encontradas em 11 dos principais jornais de língua inglesa. O indicador é usado por exemplo pelo FMI e pelo FED, o banco central americano.
 
Se no primeiro trimestre de 2003 o risco geopolítico explodiu em meio à escalada de tensão que desaguou na invasão do Iraque pelos EUA, a situação hoje não é por conta de um problema, mas vários. Razões econômicas são de longe as principais razões para grandes protestos políticos mundo afora. Todavia, um em especial se trata do choque em Hong Kong, que mistura todas as mais tensas situações do mundo hoje. Autocracia versus democracia; extensão dos direitos humanos; independência versus imperialismo; a crise da forma como o sistema capitalista está operando suas dificuldades; as profundas e cotidianas contradições do mundo digital – uma janela para enormes oportunidades de melhoria de vida, mas também para abismos criados por atores mal-intencionados e sem nenhuma idade para poder dizer o que é progresso para todos.
 
Entre o problema da Etiópia, que levou o Nobel da Paz na sexta-feira, e o da Alemanha, que certamente influenciará o Nobel da Economia, a ser anunciado amanhã, está o centro da questão humana: teorizar, decidir e governar é servir à sociedade em sua busca da felicidade em harmonia. (Com Henrique Delgado)

* Paulo Delgado, sociólogo 

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