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Esta semana reencontrei uma amiga de infância que eu não via desde meus oito anos de idade. Naquela época morávamos no bairro Floresta, próximo ao terreno no qual a família de meu pai tinha uma fábrica de brinquedos de madeira, onde hoje é Cidade Nova. 




 
Tenho algumas lembranças de ruas no entorno, do quebra queixo que eu adorava comprar do ambulante que ficava na porta do Colégio Batista por onde eu passava diariamente. Lembro-me que tínhamos amigos e amigas na vizinhança com quem brincávamos e, obviamente, brigávamos. Porém não sou capaz de lembrar do rosto de ninguém, inclusive da amiga que reencontrei. Foi ela quem me reconheceu. Isso é que eu chamo de memória de elefante!
 
Lembro-me de detalhes do antigo prédio onde moramos, de três andares, seis apartamentos, sem garagem, dois quartos, um banheiro com banheira que vivia cheia de água, uma espécie de reserva que meus pais sabiamente mantinham, pois a falta de água potável era frequente. O local na copa onde ficava a máquina de lavar roupa, atrás da qual eu jogava todo tipo de comprimido que minha mãe me dava para tomar e eu me recusava a engolir. 
 
Lembro-me até do aparador do telefone preto da vizinha de cima, a única que tinha um no raio de centenas de metros. Recordo também que meu apelido era manteiga derretida, bem justo, reconheço, pois eu chorava por qualquer coisa ou motivo incluindo quando alguém assim me chamava. 
 
Minha sorte é que minha irmã, pouco mais velha que eu, serve de memória da minha primeira infância e, certamente, nós duas guardamos os causos do meu irmão mais novo. Uma espécie de HD externo que as vezes falha ou chega a aliviar os fatos através de versões mais leves de nossos traumas, assim como não perde a chance de apresentar versões tendenciosas. Mas assim funcionam nossas memórias e nossas irmandades. Tudo certo. 
 
Caso contrário, quase tudo estaria perdido, pois ninguém melhor que nossos irmãos para nos ajudar a preencher determinadas lacunas em nossas vidas. São arquivos vivos, inclusive de fatos que devem se manter vivos assim como dos que gostaríamos de esquecer, mas não devemos.