Jornal Estado de Minas

Comportamento

Por trás de boas intenções

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A ideia, ou a pretenção, de que o que fazemos é certo pode nos cegar. Ouvi a seguinte observação durante uma conversa entre uma mulher, a patroa, e dois de seus empregados, que tinham em comum o tom preto da pele. “Vocês são tão bons, gentis e sensíveis que certamente seus antepassados não eram africanos comuns, uns quaisquer. Eles deviam ser da realeza, nobres nas tribos das quais foram violentamente arrancados para serem transformados em escravos aqui no Brasil”.




 
Creio que a intenção era elogiá-los e enaltece-los e talvez assim tenham recebido o comentário, até porque havia por parte da patroa uma demonstração muito grande de afeto e gratidão em relação à eles.
 
Mas na hora me veio à mente as seguintes questões. O que a faz pensar que aqueles aos quais ela considera, entre os africanos escravizados  selvagens, longe de serem capazes de atitudes e comportamentos atribuídos principalmente aos nobres? Por que para elogiar alguém se faz necessário rebaixar outrem?
 
É comum também ouvirmos pessoas preocupadas em demonstrar não serem homofóbicas dizendo que são tão inclusivos que “até têm amigos gays”. Até é uma preposição que indica limite, que nesse caso, sugere que a pessoa está ultrapassando o limite ao ter amigos gays, ou seja, está abrindo uma excessão.
 
Cometemos este tipo de engano em todas as searas com mais frequência que imaginamos. O que não podemos fazer é deixar de observar os vícios de linguagem e de comportamento que nos impedem de realmente darmos um passo à frente em nossa forma de pensar e agir.
 
Nos mantermos na negação acreditando que não somos capazes de cometer gafes e que, sendo nossa intenção a melhor possível, não é preciso mudar. Boas intenções também costumam ter como consequência maus resultados.