O amor liberta. Verdade, mas difícil de concretizar. Temos muita dificuldade em deixar ir, permitir que partam aqueles a quem amamos. Queremos nossos amores ao nosso lado, à vista, nem sempre percebemos nosso desejo camuflado de domínio, mas a necessidade de ver como estão e saber com certeza como vão.
Se isso é amor? Digamos que sim, um tanto pouco imaturo, mas ainda assim amor. Mas o que seria de fato libertar no que tange ao amor?
Outro dia uma amiga me atualizava sobre a situação de uma família de órfãos que havia sido acolhida por um casal vários anos atrás. Os três irmãos resgatados da miséria e do abandono estavam demonstrando o desejo de ganhar o mundo, conhecer novas paragens, sair de casa. Mexendo os pauzinhos estavam a um passo de conseguir um intercâmbio internacional para os três. Até que tudo foi por água abaixo.
Abalados pelo que consideraram ingratidão, o casal de pais adotivos não se conformou. Como poderiam eles, os três órfãos, partirem assim?
Resultado, agarrados ao sentimento de gratidão, decidiram ficar, mesmo sabendo todos que se fossem não seria um desligamento pra sempre. A experiência estava longe de ser definitiva. Tinha data de início, meio e fim. Mas …
E se no final não quisessem voltar?, temiam os pais. Por que têm-se comumente essa dúvida quanto aos filhos adotivos e não também quanto aos naturais? Por que acreditamos que quem um dia foi abandonado tem a tendência de um dia abandonar? Como se tivéssemos o desejo natural de pagar nossos desgostos com a mesma moeda sempre.
A conclusão de minha amiga era que a gratidão pode ter também um lado sombrio. “Ela aprisiona”, disse. Caberia aos pais adotivos libertá-los da obrigação de demonstrar o amor pela presença física, muitas vezes camuflada como servidão. Por que o amor maduro não exige nada. Simplesmente atua.