Ouço muitas pessoas dizerem que quem encara uma missão humanitária são pessoas muito corajosas. Já compartilhei dessa ideia. Hoje não mais. Da mesma forma, não são covardes os que preferem não ir, escolhem se manter no conforto de seus lares, mesmo que não tão confortáveis. Coragem é a força que nos move a fazer o que se acredita. Independentemente do que seja.
São desprendidos, dizem outros. Discordo também, pois desprendidos e desapegados encontramos também entre aqueles que por nada nesse mundo se aventuram em terras e culturas desconhecidas. Muitos fincam os pés em sua terra e se dedicam apenas aos seus e por eles são capazes de se entregar. E como se entregam!
Dizem que são loucos, desequilibrados. Recorrendo um pouco à ironia eu diria que sim, mas quem de nós não o é? E é esse lado que nos torna saudáveis, mas ainda assim não é o que nos move.
Depois de me aventurar nos últimos quatro anos em várias incursões em regiões do Brasil e da África, onde dizem que Deus esqueceu ou deixou de lado, arrisco a dar um palpite sobre o que nos torna obcecados por esse tipo de trabalho.
Compromisso com aquilo que, um dia, em algum momento, abraçamos como sendo nossa missão. Responsabilidade que nos impulsiona a realizar aquilo que diríamos que faríamos. É a vontade de não falhar com nossa própria consciência, o que não nos garante acertar em todas as escolhas que fazemos enquanto atuamos em nossas missões.
Por fim, quem nos agradece, aqueles que assistimos, o fazem acreditando que é o amor que temos para doar-lhes que nos faz estar ali. Mas o amor que levamos não é direcionado especificamente a eles. A maioria deles sequer um dia conheceremos e saberemos o nome.
É um sentimento que ultrapassa o indivíduo que somos e que são todos os demais em nosso entorno. Hoje acredito que talvez cumprir minha parte, mesmo que ínfima, em um grande combinado que envolve a todos nós.