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Estado de Minas Comportamento

E aí tudo bem?

Parece que deixar de fazer a pergunta é quebra de protocolo


08/05/2022 04:00

Ilustração
(foto: Depositphotos)

 
E aí tudo bem? É um tipo de indagação daquelas que têm resposta pronta, previsível, que muitas vezes não corresponde à realidade de quem a profere. "Tudo e com você?" ou apenas um aceno com a cabeça, um tinindo com o dedão ou um sorriso têm o mesmo significado: "não vale a pena, ou esta não é a melhor hora para expor as dificuldades que hora passo". Simples assim. Então, melhor optar pelo senso comum e dizer que o todos esperam e desejam ouvir.
 
Muitas vezes nos pegamos perguntando a alguém se está tudo bem quando naquele exato momento acabara de saber que está com uma doença incurável ou ainda que perdera o pai, a mãe, alguém muito próximo. Claro que nem tudo está bem, mas parece que deixar de fazer a pergunta é uma espécie de quebra de protocolo, quase de decoro social, assim como responder que "não, estou na lona".
 
Mas como fazem parte da engrenagem da vida, os sofrimentos inevitáveis são tão previsíveis que de fato "está tudo bem" ou não há nada fora da ordem. Para perguntas vastas, nada como respostas práticas, totalmente incompletas, porém satisfatórias. Afinal quem quer ouvir lamúrias por mais que possam ser reais e humanas? Ninguém deseja de fato entrar no universo íntimo alheio e muito menos se envolver nas questões que o abalam. Deixemos isso para os profissionais capacitados para ouvir.
 
Mas não pense você que uma pergunta destas não gere mais polêmica do que o razoável. Um grande amigo, talvez o menos sociável que tenho, sempre que um desconhecido o cumprimenta, prefere criar caso a simplesmente acenar. Ele nunca perde a oportunidade de dizer que prefere a convivência com os animais (preferencialmente cães) a companhia de humanos. "Tudo bem por quê?", "bom dia por quê?" ele rebate, assustando quem o interpele. Já se envolveu em muitas discussões desagradáveis por causa de seu temperamento nada convencional.
 
Lembrei-me dele hoje quando me dirigi ao caixa do supermercado. Normalmente me atrapalho com o bom dia, boa tarde, boa noite, pois costumo trocar os momentos do dia principalmente quando estou muito atribulada. Passei a usar o "ei, tudo bem?"
 
O rapaz visivelmente cansado me olhou nos olhos e respondeu : "Não, não estou. Uma dor de dente está me matando e não sei como vou me aguentar até o fim do expediente". Não era o que eu esperava ouvir, claro, mas quando se trabalha com pessoas em dificuldade, a gente se acostuma a receber respostas sinceras. O que fiz? O pouco que estava ao meu alcance, como oferecer-lhe um analgésico e sugerir que ele conversasse com o seu supervisor. Fiquei pensando nas vezes que algo semelhante aconteceu comigo e como acalento me lembrei que tudo, absolutamente tudo passa. Graças a Deus!

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