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Estado de Minas Comportamento

Tempo de retomar

Estas horas eram as melhores do dia"


10/04/2022 04:00

Ilustração
(foto: Pixabay)

 
Na infância e adolescência, ia para a escola a pé na companhia da minha irmã e voltava batendo papo com minhas colegas, que iam ficando pelo caminho à medida que alcançávamos as casas delas. Andava uns cinco quarteirões até meu ponto final, descida na ida, o que significava uma subida infindável na volta, quando a fome já me assolava. Mas os atrativos da trajetória sempre valiam a pena.
 
Achava estas as horas melhores do dia. Era tempo de rir, brincar, pular, reclamar, fofoca, xingar e descobrir o que havia pelo caminho. A maior parte de minhas colegas de turma o foram durante anos, visto que era muito comum estudar na mesma escola perto de casa a vida inteira.
 
Além da ingenuidade infantil, sinto falta de uns itens que sumiram da vida da gente. No sobe e desce para o colégio, havia muitos lotes vagos, categoria hoje extinta no Sion, em BH, onde me criei. Nos lotes havia plantações de mamonas, as melhores munições para as guerras nas quais vez ou outra me envolvia, principalmente contra os meninos da rua.
 
Depois de uma seção de ataque, sempre me lembrava de separar um galho para mais tarde brincar de bolinha de sabão. Claro que a guerra de sexos me atraía mais, era mais divertida e desafiadora, mas fazer borbolhas servia para preencher o tempo quando todos se cansavam da brincadeira e decidiam pela paz.
 
Outra coisa com a qual me divertia pelo caminho eram os beijinhos-de-jardim. Amava estourar as pequenas bolsas cheias de semente, não com a intenção de semear, mas basicamente com o intuito de ver o quanto elas eram vulneráveis a um simples e leve toque. Assim como soprar dente- de-leão também era algo que me encantava só de ver as pequenas pétalas pelos ares. As joaninhas que iam e vinham de um lado ao outro de minhas mãos.
 
E o tatu-bola? Adorava cavucar a terra e encontrá-los só para admirar a capacidade que tinham de se enrolar neles mesmos e se fazerem bolinhas enquanto ríamos deles. Hoje, moro em meio ao mato e posso passar o dia à procura deles sem a mínima chance de encontrá-los . A procura dos tatus-bola, dentes-de-leão, joaninhas, vaga-lumes, mamonas e beijinhos.
 
Para ver os amigos, companheiros atuais de jornada, preciso ir mais longe, não mais a pé, não por que eu more longe, mas pelo fato de que hoje vivemos todos mais distantes uns dos outros. Visitas inesperadas, daquele tipo que de repente aparece sem avisar, não se pratica mais.
 
Ficamos mais complicados, seletivos e muitas vezes arredios. Nos preocupamos se a casa não está arrumada, se temos um pão de queijo para servir e até de onde vamos tirar assunto para conversar. Acabamos por  excluir do cotidiano o que ele nos oferece de mais simples e agradável. É tempo de retomar!

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