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Conheci mulheres que usavam cabelos longos jogados para a frente na tentativa de esconder as mamas enormes que tinham. Era comum quando a moda de implantes ainda não tinha nos atingido com tanta força, ou seja, no tempo em que ninguém queria usar sutiã acima de 42. As técnicas de cirurgia plástica estavam engatinhando e o preço era proibitivo.


 
Para se encaixar nos padrões de beleza, a opção era disfarçar o quanto se podia. O que comprometia muito a postura também. Arquear o tronco um pouco para a frente ajudava de um lado, mas complicava de outro. Outras escondiam manchas na pele com maquiagem, falhas no couro cabeludo com chapéus ou bonés, marcas e cicatrizes com roupas compridas. Haviam também as que nunca usavam sandália aberta como forma de evitar mostrar problemas em seus pés, assim como as que falavam e sorriam abrindo pouco a boca, escondendo falhas nos dentes ou a ausência de alguns deles.
 
Certa vez, vi uma moça que, cansada de ser repetidamente criticada porque pintava as unhas de um tom escuro e opaco, desabafou em prantos e aos gritos, mais ou menos assim. “Vocês não entendem que eu também não gosto? É que tenho um problema nas unhas que pode fazer com que as pessoas me evitem!”, o que deixou todos muito sem graça, provavelmente não o suficiente para mudar alguma coisa em sua forma de agir e pensar. Afinal, a dor do outro costuma arrancar solidariedade momentânea, até que nos atinja de fato.
 
As unhas pintadas sempre foram uma saída para encobrir “defeitos”. Lembro-me bem do dia em que eu mesma peguei escondido o esmalte de minha mãe e o passei sobre a pele descoberta. Uma de minhas unhas havia caído devido a um trauma qualquer. A ideia foi desastrosa. Tudo porque queria esconder o que considerava anormal: uma unha feia.


 
Lembranças de mais de três décadas, mas que ainda persistem com algumas alterações, como enchimentos em sutiãs ou próteses mamárias cada vez maiores no lugar de remoções. Mas o que nos move continua sendo as aparências e suas regras impositivas.
 
Isso tudo me veio à mente porque recentemente vi um jovem casal de namorados, sendo ele de estatura abaixo da dela. Minha vontade era de filmar as expressões apaixonadas dos dois para mostrar a todas as mulheres que não conseguem encontrar o parceiro certo porque colocam como exigência que ele seja mais alto que elas. Reduzem suas vidas amorosas a uma escala de poucos centímetros, como se fosse possível medir o melhor para nós de forma tão empobrecedora.