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Hoje, dia em que escrevo este texto, estou prestes a finalizar a terceira e a quarta turmas de alunas da oficina de costura que vim implantar em Boa Vista, Roraima, em uma ação conjunta da Fraternidade Sem Fronteiras com a Acnur – agência da ONU para refugiados. Durante os 12 dias em que aqui estive, observei muitas coisas que podem nos ajudar a entender melhor o outro e por que não a nós mesmos também. Algumas refugiadas venezuelanas se mostraram muito ansiosas, mais preocupadas em terminar o que faziam para logo iniciar outra peça. Sempre digo que a costura é um exemplo de como levamos a vida. 


 
Se temos muita pressa, pulamos etapas, atropelamos tudo e, no final, a qualidade fica muito comprometida. Para consertar, precisamos desmanchar e fazer novamente, o que acaba causando irritação e frustração, além de consumir mais tempo que o previsto. Já quando conseguimos seguir as etapas que qualquer situação ou circunstância nos apresentam, podemos não ficar totalmente satisfeitos com o resultado final, mas saber que fizemos o que estava ao alcance nos conforma e nos impulsiona a seguir adiante. Isso foi o que experimentou outra parcela de alunas. 
 
Ao final, todas ficaram felizes por se ver capazes de produzir algo  a partir de quase nada. A autoestima de um refugiado é quase sempre muita baixa, pois o que viveram até chegar nos abrigos, o que tiveram que largar para trás e a incerteza quanto ao futuro puxam qualquer um para o buraco. Poder dizer " eu consegui" tem um enorme valor no momento e pode influenciar experiências e decisões futuras. Interessante também é o quanto elas se apoiam umas nas outras. 
 
As que estão abrigadas no espaço emergencial onde trabalhei têm muitos filhos pequenos, verdadeiras escadinhas, sendo que algumas estão grávidas. Então, no meio de nossas pernas, sempre tinham crianças de todas as idades e tamanhos. Atrapalha? Sim. Mas quando não se tem quem as olhe, faz-se o que se pode junto delas. Muitas vezes uma segurava o bebê da outra para que esta última pudesse adiantar a peça de roupa que se propôs a fazer.
 
No final, como um milagre, parecia que o tempo se estendia e todas conseguiram finalizar ao menos uma bolsa, com forro e zíper, e duas peças de roupa. Dei a elas a alternativa de escolher fazer peças para adultos ou para crianças. Poucas optaram por roupas para si mesmas ou para os companheiros. 


"Quero fazer para criança", foi o que mais ouvi. Que assim seja! Assim o fizeram. Confesso que fiquei muito admirada positivamente com o que a Operação Acolhida tem feito junto aos refugiados venezuelanos na fronteira com o Brasil. Já tinha conhecimento de que o Exército Brasileiro realiza um belo trabalho em comunidades longínquas, levando vacina, medicamentos e auxílio saúde onde normalmente ninguém se dispõe a ir. Aqui vi uma enorme estrutura montada para receber quem chega à procura de refúgio. 
 
Em pouco tempo, toda a família se cadastra, é enviada a um abrigo e no máximo em um ano é interiorizada, já com emprego pelo menos para um de seus membros. 
 
Não sou a favor do Exército no comando de nenhum dos três poderes – Executivo, Legislativo ou Judiciário. Disso temos  más lembranças e experiências. Mas não podemos desfazer dessa força, que muito tem a contribuir e vem mostrando competência e organização, como o caso do gerenciamento da ajuda humanitária que nosso país se propôs a dar aqui, em conjunto com a Acnur e ONGs parceiras. Disso podemos nos orgulhar.