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Estado de Minas Comportamento

A decisão a quem cabe

'Orações para enfrentar a dor e dar força e coragem'


06/09/2020 04:00 - atualizado 05/09/2020 20:01

Conversando com uma amiga obstetra sobre aborto, ouvi as duas histórias seguintes que podem nos ajudar a refletir sobre o que achamos ser o melhor para o outro e o que de fato é. Nos dois casos, ultrassons feitos, seguidos de exames complementares, detectaram problemas de má-formação fetal incompatíveis com a vida.
 
O bebê da primeira paciente, caso chegasse a nascer, viveria poucos dias. Tudo sobre o que estava acontecendo, como seria a evolução da gravidez, foi explicado ao casal, que ficou com a decisão do que fazer. A obstetra prefere seguir a lei e não realiza abortos clandestinos, e quis deixar o casal à vontade para escolher outro profissional caso tomassem a decisão de interromper a gravidez, o que não aconteceu.
 
A cada mês voltavam para os exames dizendo que estavam rezando muito e que tudo daria certo. “Como assim?”, questionava mentalmente a médica. “Eles acham que orações podem mudar um quadro tão claro e irreversível?”
 
O bebê nasceu, foi muito bem recebido pelos pais, que não arredaram pé do hospital onde ele viveu menos de uma semana. E foi nesse período que a médica descobriu que as orações que eles faziam era para que tivessem força e coragem para enfrentar toda a dor que aquele quadro gerava e que chegar ao fim de todo esse processo sem decidir, o que segundo eles só cabe a Deus, era o “dar certo”.
 
A segunda paciente também optou por seguir em frente até a hora do parto. Já o pai da criança fez de tudo para convencê-la pelo aborto, tendo chegado a propor à médica alguns tipos de intervenções “despretensiosas” para acabar com tudo aquilo, sem que a mãe soubesse. “Ela é minha paciente, não você”, ouviu revoltado.
 
Na hora do nascimento, a obstetra informou o quadro ao pediatra que faria a sala de parto e sugeriu que ele não entubasse o bebê, deixando que a natureza seguisse seu curso. Mais tarde, respiraria aliviada ao ver que ele não seguiu sua orientação e fez de tudo para manter o bebê vivo tempo suficiente para que os pais digerissem tudo o que estava acontecendo.
 
O pai, que passou os nove meses obcecado pela ideia de interromper a gravidez, passou as 12 horas, entre o nascimento e a declaração de óbito, com o filho no colo, conversando, contando histórias, acariciando-o. Menos de um ano depois, tiveram outro filho e depois mais dois com gravidezes sem maiores problemas. Segundo a obstetra, o pai da criança se transformou em outra pessoa depois daquela experiência tão dura e difícil para todos eles, mas que sem dúvida permitiu que algo os transformasse.
 
Terminamos a conversa com ela me perguntando: “Quem sou eu para sugerir a alguém que tome esta ou aquela decisão, se o que está em jogo não é meu futuro, se a base para a escolha não é minha crença ou minha história de vida?” Sem dúvida, não nos cabe sugerir um caminho e muito menos julgar qualquer que seja a escolha feita por quem de fato cabe fazê-la.

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