(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas COMPORTAMENTO

Entre Sheilas e Maildas

Linda de morrer, sai pela rua exibindo toda aquela segurança de ser quem é


postado em 02/02/2020 04:00


 
Numa de minhas idas ao Malawi, na África, me deparei com uma situação para mim            constrangedora. No alojamento na qual nos hospedamos dentro do Centro de Acolhimento da Fraternidade Sem Fronteiras trabalham vários africanos, entre malauianos e refugiados que vivem no campo de Dzaleka. São eles que nos ajudam trazendo água quente, num pra-lá e pra-cá de baldes que fazem a delícia de nosso banho ao final de um dia de trabalho intenso.
 
Uma delas tem um astral contagiante, sempre muito bem-humorada, faz piada de tudo, abraça todo mundo, chamando-nos de “best friends”. A congolesa Sheila, nome inglês que ela própria escolheu e com o qual se apresenta, me apareceu logo que eu saía do chuveiro. Quando tirei a touca e soltei o cabelo, ela me pediu que eu não o penteasse, pois queria fazê-lo. Só iria lá fora deixar o balde e rapidamente voltaria.
 
De posse de meu pente, não o penteou como eu, teve dó de fazer o que faço sempre para me livrar dos nós e embaraços. Ficou alisando os fios, posicionando-os carinhosamente com os dedos como se tocasse algo muito precioso. Permaneci calada, deixando que ela fizesse o que bem entendesse. Como o trabalho era muito e o tempo curto, logo ela se foi feliz da vida.
 
Claro que queria ter elogiado seus cabelos como ela fez em relação aos meus. Mas com base nas experiências que tive de valorizá-la quando ela me valorizava, preferi calar-me e fazê-lo em outros momentos, principalmente naqueles em que ela fosse o centro das atenções.
Naquela hora, não me cabia discutir com ela as imposições e ignorâncias sociais que fazem dos caracteres de cor e textura típicos dos “brancos” o que há de mais belo. Sempre que posso valorizo-a, seja seu trabalho, sua beleza, sua forma de vestir, evitando comparações. Dizer “você é bonita” me parece bem melhor que dizer “você também é bonita”. O mesmo vale para o cabelo, o corpo, a roupa, a voz, seja lá o que for que ela tem de muito Sbelo.
 
Tenho uma grande amiga que há anos assumiu o cabelo “black power”. Linda de morrer, sai pela rua exibindo toda aquela segurança de ser quem é. Dá gosto ver o que ela denomina cabelo político. Desta forma, ela crê, e eu também, que está servindo de exemplo, e dos bons, a quem tem o cabelo como o dela. “Quando uma mulher me vê pensa: se ela pode, eu também posso”, é o que Mailda prega. “Por que negar quem sou e permitir que me forcem a fazê-lo?” Quando se acredita ser bonita, se é principalmente aos olhos de quem sabe enxergar além de convenções há muito falidas.
 
Nossos atos e posicionamentos são sempre políticos, são nossas formas de nos mostrar e impor aquilo que em que acreditamos. São eles que mudam não apenas nossa forma de pensar, mas de todos com os quais convivemos. Queiramos ou não. É uma questão de tempo.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)