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Estado de Minas COMPORTAMENTO

As soluções de nossos problemas dependem muito pouco de santos remédios

'Desta forma, com pitadas de ironia, se sentira vingada'


postado em 12/01/2020 04:00 / atualizado em 12/01/2020 13:26

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)

 
Uma amiga estava encontrando enormes dificuldades para tirar carteira de habilitação, principalmente por causa do nervosismo que a dominava na hora da prova de direção. Da quarta vez em que tentou, nem sequer conseguiu mover os pés e tirar o veículo do lugar. As pernas travaram, dizia. Foi então que resolveu pedir a um amigo médico algo capaz de acalmá-la. Prontamente ele disse que arrumaria um medicamento infalível.
 
No mesmo dia em que marcara o próximo exame, ela recebera em casa duas pílulas. Uma para ser tomada na noite anterior e a outra uma hora antes. Confiante de que desta vez tudo daria certo, seguiu à risca as instruções do médico. Afinal, ele entendia muito bem do funcionamento do corpo humano e a conhecia há muito.
 
Cumpriu com louvor todos os comandos do examinador e desceu do carro mal acreditando que enfim conseguiu passar. Ao ligar para o amigo médico agradeceu muito. Ele, por sua vez, a parabenizou e disse que estaria à disposição sempre que ela precisasse. Porém, não contou que as duas pílulas nada mais eram que placebos. Ele pegara duas cápsulas vazias e as preencheu com açúcar. “Se ela souber a verdade perderá a confiança em mim e nela mesma”, disse-me o amigo médico. “Afinal, dei a ela o que ela queria: o remédio ideal e o que ele continha competia a mim escolher.”
 
Lembrei-me disso outro dia voltando de uma festa bem-animada na qual um dos amigos bebera mais que o razoável. Não deu outra. Amargou um terrível mal-estar que deu lugar a uma dor de cabeça insustentável. No meio da noite, acordou a esposa e pediu um remédio.
 
Ela, que já havia discutido com ele por causa de toda aquela situação, ficou sem saber o que fazer, pois a caixa de medicamentos do casal estava num dos quartos que estava ocupado por casais de amigos. Na cabeceira de seu lado na cama viu uma caixinha de balas tic tac branquinhas. Pegou logo duas, dose que acreditava convencê-lo ser forte o suficiente para acalmá-lo e fazê-lo dormir, o que aconteceu pouco menos de meia hora depois.
 
Ao contrário do amigo médico, na manhã seguinte a esposa fez questão de contar para todo mundo, inclusive para o marido, como o havia passado para trás. Desta forma, com pitadas de ironia, se sentira vingada. Como é sempre com a esposa que conta quando se excede, ele foi quem mais riu ao mesmo tempo em que questionava se da próxima vez ela faria o mesmo, resposta que ninguém, nem a própria, foi capaz de dar. Afinal, dependerá de uma infinidade de variáveis.
 
No final das contas, pouco importa o que ele irá tomar da próxima vez, pois, certamente, na hora da dor não vai se lembrar do ocorrido, assim como a feliz motorista quase não se recorda da dificuldade que foi tirar sua carteira. Essa facilidade em esquecer talvez decorra do fato de que no fundo sabemos que as soluções de nossos problemas dependem muito pouco de santos remédios e muito mais de nós mesmos.

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