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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Nem tudo é maravilhoso

'Permanentemente, empobrecemos nossa língua'


postado em 08/12/2019 04:00


 
Semana passada discorria aqui sobre o uso (ou o mau uso) das palavras. Permita-me estender mais um pouco o assunto hoje para falar dos exageros. Ariano Suassuna sempre me faz rir quando assisto ao vídeo de uma palestra na qual comenta o nivelamento de tudo e todos dentro da arte. Fala de comparações simplistas e baratas entre versos pobres e ricos, entre trechos de músicas brasileiras que considera um avilte, um insulto.
 
Critica nossa facilidade em usar um mesmo adjetivo para caracterizar tanto uma música de moda, passageira e sem mensagem, como um clássico atemporal. Faz críticas a uma reportagem que descreve o guitarrista da banda Calypso como sendo genial. “Se você gasta o adjetivo genial com o Chimbinha, o que vou dizer de Beethoven?”, indaga ele, que dependia das palavras para fazer o que sempre fez de melhor e o eternizou.
 
Permanentemente, empobrecemos nossa língua, embora seja ela muito rica, muitas vezes como forma de nos posicionar socialmente como simpáticos e agradáveis. Digo isso porque tenho uma conhecida para quem tudo é maravilhoso, de um simples gracejo infantil a uma grande performance artística. Até o tom de voz ao expressar sua admiração por um e outro é o mesmo.
 
Fato é que nunca se sabe como de fato ela considera aquilo que qualifica, visto que, creio, saiba muito bem diferenciá-los. Podemos nos questionar se ela deseja tornar público seu real ponto de vista, pois fazê-lo pode trazer implicações indesejáveis. Não podemos desconsiderar essa hipótese.
Aprofundando em minha observação percebi que, quando qualifica algo como ainda mais maravilhoso que o maravilhoso, recorre ao “né? ”, acreditando que, tendo a adesão daquele com quem conversa, vá conseguir ser mais enfática na mensagem que deseja transmitir.
 
Outro amigo chama todo mundo de amor, inclusive a mim. Carinhoso da parte dele, reconheço. Aliás é um amor de pessoa, sem dúvida, um coração enorme, agradável e leve, uma disponibilidade difícil de encontrar. Mas vejo-o se dirigir ao seu verdadeiro amor da mesma maneira. Afinal, que lugar ocupam todos esses amores na vida dele?
 
Dou valor incomensurável a declarações de amor, sejam entre parceiros, amigos, familiares ou qualquer outro tipo de relacionamento. Falar usando todas as palavras, adjetivos ou não, sobre a importância daquela pessoa em nossa vida é preciso, pois essencial. O problema é a vulgarização que fazemos das palavras, usamo-las para tudo e todos e na hora que elas deveriam fazer diferença, perderam seu valor inicial. Já as gastamos sem ao menos nos lembrar como e com o quê.

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