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Estado de Minas

Morte anunciada

Minha primeira reação foi de tristeza


postado em 17/11/2019 04:00 / atualizado em 16/11/2019 22:10


 
Outro dia, uma amiga me perguntou se eu tinha ficado sabendo da morte do filho de uma conhecida em comum. Como se tratava de uma pessoa com a qual raramente me encontro, pouca informação sei da vida dela. Mas a amiga me cobrava o conhecimento do fato simplesmente porque a morte havia sido anunciada pela mídia. Confessei minha ignorância sobre tudo o que se fala nas mídias, sendo elas hoje tão variadas e em número quase infinito. Não. Eu não soube nada sobre a morte do rapaz e perguntei por que haveria de saber.
 
Pelas circunstancias em que se deu. Era de família “conhecida” e morrera nos braços de outra mulher que não a sua por direito e lei, visto que era casado tanto no civil como no religioso. Minha primeira reação de tristeza não foi devido à morte do rapaz, porque não há como negar que  morrer é uma etapa da vida. Minha tristeza maior era saber que este tipo de circunstância ainda hoje vira notícia a ser publicada e discutida nas mesas, encontros e esquinas e, tenho certeza, por muito tempo vai alimentar o repertório dos piadistas, assim como dos moralistas e juízes natos, claro.
 
Logo imaginei as pessoas no enterro, por mais que se esforçassem para respeitar a dor da família, cochichando sobre o azar de o morto ter sido pego pela morte numa hora tão inapropriada ou, por outro lado, execrando-o e condenando-o. O relacionamento dele com a mulher, os escapes extraconjugais, o quanto a esposa deveria estar decepcionada, muito possivelmente se sobrepuseram a assuntos mais recorrentes nos enterros como lembrar com nostalgia momentos tristes e engraçados que cada um que foi se despedir viveu junto àquele que se foi de vez.
 
Não duvido que alguns curiosos, passando ali no momento do velório, não tenham desperdiçado a chance de dar uma espiada. Afinal, aquele se tornara um dos assuntos do dia, disputando as preferências entre as notícias de política, economia, cultura e policiais que realmente dizem respeito a todos nós e em nossas vidas resvalam.
 
Parece que o morto e aquele comportamento se revelara ali de forma escancarada bem na hora em que ele se despedia do mundo. Nada mais importa, só o que se passou nas últimas horas. E é nessas horas que fico me questionando sobre o quanto evoluímos, mas ainda insistimos em pontos sobre os quais não deveríamos estar nos debruçando mais. Questões particulares deveriam ficar circunscritas aos meios aos quais pertencem.
 
Que diferença faz para minha vida, o que vai modificá-la para melhor ou pior o fato de alguém ter sido descoberto em suas trapalhadas privadas, sendo que este alguém não é meu parceiro? Precisamos expor os outros como forma de nos esconder. Enquanto forem eles temas de conversas “maldosas” e não eu, parece-me mais fácil fazer o que bem quero. Inclusive com a vida dos outros.

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