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Estado de Minas SEXUALIDADE

Pedir é preciso


postado em 30/06/2019 04:00

 

Nas últimas seis semanas, tenho passado horas enviando mensagens aos amigos íntimos, aos que vejo pouco, até aos que não vejo há anos. Confesso que em pouco tempo acrescentei à minha lista de contatos os amigos de minha irmã, os irmãos de alguns amigos, gente que um dia ouviu falar de mim e que poderia facilmente me identificar. Não fosse a onda de tentativa de golpe via WhatsApp, creio que eu teria tido um pouco mais de sucesso em minha empreitada.

 

Desconfiados que poderiam ser vítimas de malandros que teriam clonado meu número, os amigos mais distantes ligaram para meu marido para checar a veracidade do pedido. “A Patrícia vai para a África mesmo? E por acaso está fazendo campanhas de arrecadação de dinheiro?” Muito colaborativo, vi várias vezes meu companheiro confirmar, ao mesmo tempo em que devolvia uma pergunta: “Ela teve coragem de pedir para você também?” Coragem, esta é a palavra que tenho ouvido com frequência.

 

Coragem de enfrentar todo tipo de adversidade que possa surgir durante a missão humanitária a qual estou engajada, não surpreendeu muita gente. O que as pessoas têm mais dificuldade de encarar, que seja possível alguém ter, é a coragem de pedir. Meu marido mesmo, por várias vezes olhou nos meus olhos e disse: “eu jamais faria o que você está fazendo”.

 

Coragem de enfrentar todo tipo de adversidade que possa surgir durante a missão humanitária a qual estou engajada, não surpreendeu muita gente. O que as pessoas têm mais dificuldade de encarar, que seja possível alguém ter, é a coragem de pedir. Meu marido mesmo, por várias vezes olhou nos meus olhos e disse: “eu jamais faria o que você está fazendo”.

 

E disse isso não como repreensão, mas com admiração. A árdua tarefa de pedir é um dos melhores exercícios de humildade aos quais podemos nos submeter. Um ótimo exercício de “passar vergonha”, pois nem todas as pessoas me veem com o olhar acolhedor de meu marido. Não entendem porque alguém que tem boa condição financeira fica “pedindo esmola”, como já cheguei a ouvir. Me fizeram a seguinte pergunta: “já que você está bancando sua ida, passagem, hospedagem e tudo mais, não seria mais eficaz você não ir e enviar todo o dinheiro que está gastando?”

 

Ser caravaneiro da Fraternidade Sem Fronteiras, assim como de outras missões humanitárias, tem significado coletivo e individual, e ambos têm potencial para serem muito impactantes na vida de quem vai e de quem os recebe. A começar por tudo o que já experimentei, conheci, as lindas manifestações de doação que presenciei desde que lancei minhas campanhas já me valeram a viagem que ainda não fiz. As oportunidades de aprendizado que me surgem a cada contato que faço, as histórias que ouço, me mostram o quanto devo acreditar na humanidade, em cada indivíduo que esconde atrás de si um grande potencial amoroso. E tudo o que tenho conseguido arrecadar, máquinas de costura e todos os apetrechos para montarmos um ateliê permanente no local, a campanha das escovas de dentes que só uma dentista amiga conseguiu levantar 1.330 unidades, a rifa que fizemos para poder comprar material suficiente para fazer 250 kits completos de roupas infantis, e a maior campanha delas, a de arrecadação de dinheiro para construir uma sala de aula que já superou nossa meta, me provam o quanto o coletivo pode fazer pelo coletivo. Quer mais que isso para provar que nada melhor que se expor, se despojar do orgulho e embarcar nessa?

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